Parques e zoológicos podem matar animais para salvar humanos?
Um agradável passeio em família em parques ou zoológicos pode se tornar um pesadelo quando as regras de segurança do estabelecimento não são respeitadas, afinal os animais expostos nesses lugares são, em sua maioria, selvagens. Quando o que está em risco é a vida de um ser humano, os protocolos de segurança são claros: é preciso sacrificar a vida animal.
Isso aconteceu com o gorila Harambe, de 17 anos, no zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos. O animal foi morto em maio deste ano momentos depois de uma criança de quatro anos entrar na jaula dele. No mesmo mês um jovem na faixa dos 20 anos tentou se matar e entrou na jaula com três leões no Zoológico Metropolitano de Santiago, no Chile. Os funcionários do local mataram dois dos três animais, salvando a vida do suicida.
No caso recente do menino de dois anos que foi arrastado por um jacaré em Orlando (EUA), perto de um hotel da Disney, cinco jacarés foram capturados e mortos, e o corpo da criança foi encontrado já sem vida. Os animais passarão por exames para identificar qual atacou a criança.
No Brasil, é a Instrução Normativa nº 7, de 2015, do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recurso Naturais), que orienta os protocolos de segurança de zoológicos para o caso de fuga de um animal selvagem da jaula ou da entrada de visitantes no recinto do bicho. O plano de segurança é exigido pelas secretarias estaduais de Meio Ambiente para conceder ou renovar a licença de funcionamento de um parque zoológico.
E a única saída é a morte?
Em todos os casos descritos acima, a morte dos bichos gerou revolta de organizações não governamentais e ativistas que defendem o direito dos animais. “Onde estavam os guardas, no caso do gorila nos Estados Unidos? Hoje há dardos que fazem com que o animal perca a consciência quase que instantaneamente, porque preferiam atirar no animal?”, questiona Elizabeth McGregor, diretora do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal.
O presidente da SBZ (Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil), Cláudio Mass, explica que há riscos quando se atira um dardo com tranquilizante em um animal.
O dardo é uma seringa com uma agulha grossa que vai perfurar de 5 a 10 centímetros o músculo do animal. Isso vai doer, o que pode desencadear um ataque à pessoa que está naquela situação. Além disso, o tranquilizante leva de 5 a 15 minutos, dependendo do tamanho e do peso do animal, para fazer efeito.”
Cláudio Mass, presidente da SBZ
O biólogo do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, Anderson Mendes Augusto, explica que o sacrifício animal é uma medida extrema. “O animal só é sacrificado quando há o risco iminente da vida humana. Se por acaso alguém entra na jaula de um leão, por exemplo, e o animal não se aproxima, é claro que não vão atirar no animal. O tratador vai tentar atraí-lo para outro lado para que a pessoa seja retirada. Tudo vai depender da situação e até do animal. O cuidador sabe se, apesar de ser um felino, ele costuma ser tranquilo”, conta Augusto.
Imprudência humana é paga com a vida animal
Em 2014, um menino de 11 anos passou a barreira de segurança da jaula de um tigre para dar um pedaço de frango ao animal e fazer carinho nele. Ele foi atacado e acabou perdendo o braço. Nesse caso, o animal não foi morto.
“Esse foi o último caso que tivemos de ataque de um animal a um humano em um zoológico. É algo raro de acontecer e, geralmente, quando acontece são situações provocadas pelo visitante”, afirma Cláudio Mass.
Para garantir a segurança dos visitantes e dos animais, os parques criam um esquema que inclui de grades e avisos a monitoramento eletrônico.
No caso do Zoológico de São Paulo, Mara Cristina Marques explica que a área de animais mais perigosos, como tigres e leões, é a mais protegida. “Temos seguranças fixos nas jaulas dos animais, além de câmeras e painéis eletrônicos que avisam as regras. Mesmo assim tem sempre alguém que se aproxima demais para tirar foto, o pai ou a mãe que coloca a criança no muro para ver melhor o animal”, explica.
Também é pedido para em algumas áreas, como a das aves, seja feito o mínimo barulho possível, para não estressar os animais. “Mas em dias como o Dia das Crianças, em que o zoológico chega a receber mais de 25 mil pessoas, é difícil manter o silêncio do lugar”, diz Mara Cristina.
Para que servem os zoológicos?
Visitar um zoológico deveria significar para os frequentadores ter mais conhecimento sobre a natureza o que deveria gerar, principalmente, consciência ambiental. “Mas as pessoas vão para os zoológicos achando que vão pagar para ver um espetáculo e não é isso. Elas precisam vir para contemplar os animais e aprender sobre (e com) eles. Os animais não são objetos de deleite para o nosso prazer”, afirma Anderson Mendes Augusto, do Zoo do Rio.
Essa é justamente a principal crítica que entidades ligadas à defesa do direito dos animais fazem aos zoológicos. “Mesmo em um zoológico que oferece as melhores condições para os animais, eles não estão no seu habitat natural, não conseguem se expressar minimamente o seu comportamento animal. Eles não podem ser tratados como bichos de pelúcia”, afirma Elizabeth McGregor, diretora do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal.
Para a gerente do Peta na América Latina, Alicia Woempner, o ideal seria a criação de santuários, credenciados, sem fins lucrativos, “que não explorem os animais para o entretenimento humano”. “Há pesquisas que mostram que as pessoas que vão aos zoológicos, passeiam, olham os animais e seguem suas vidas. Elas não aprendem nada nas visitas”, acrescenta.
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