Após físico demitido, ministro aponta militar como diretor interino do Inpe
O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, escolheu hoje um militar para ser diretor interino do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Darcton Policarpo Damião substituirá o físico Ricardo Galvão até uma escolha definitiva por meio de lista tríplice a ser elaborada.
"Recebi uma série de currículos [...] Analisamos com base em três critérios: capacidade de gestão; entendimento do Inpe, ou seja, pelo menos ter passado pelo Inpe, conhecer o Inpe como organização; que conheça, por causa de todo esse momento agora em que estamos aperfeiçoando o sistema, que conheça bem sobre as questões de desmatamento etc", afirmou o ministro em vídeo divulgado hoje à tarde
Damião é formado em ciências aeronáuticas pela Academia da Força Aérea, tem MBA em gestão empreendedora pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), mestrado em sensoriamento remoto pelo Inpe e doutorado em desenvolvimento sustentável pela UnB (Universidade de Brasília).
Marcos Pontes ressaltou a formação técnica de Damião, além do fato de já conhecer a dinâmica do Inpe, e afirmou que ele é uma "pessoa de confiança, logicamente" com capacidade de gestão.
De acordo com a assessoria do ministro, o fato de ele ser militar não foi preponderante para sua escolha.
Pontes também fez afagos ao Inpe após a crise envolvendo o instituto afirmando que, "no fim das contas, [os questionamentos e os problemas] foram positivos para o sistema como um todo", a fim de aprimorá-lo.
"O Inpe está aqui para nos ajudar, para ajudar o país com relação ao trabalho que já tem sido feito há muito tempo com sua credibilidade e trabalho de todos os seus técnicos junto ao ministério", disse.
Demissão após rebater Bolsonaro
Semana passada, o ex-diretor do instituto, Galvão, foi exonerado após rebater críticas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em relação a dados de desmatamento da Amazônia divulgados pelo Inpe.
Galvão, doutor em física de plasmas aplicada pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos Estados Unidos, dirigia o órgão desde 2016.
Segundo Pontes, a nomeação de Damião está sob análise da Casa Civil e deverá ser publicada no Diário Oficial da União ao longo dessa semana.
"Procurou a imprensa"
Mais cedo, em entrevista à Rádio Eldorado, Pontes disse que Galvão tornou a situação insustentável ao procurar a imprensa para rebater Bolsonaro.
"Se o Galvão tivesse me procurado após os comentários de Bolsonaro, tudo poderia ter sido resolvido no diálogo. O fato de ter falado direto com a imprensa gerou perda de confiança", afirmou Pontes. "Tem influência do presidente (na demissão), mas também tem minha parte, porque se tornou difícil contornar a situação."
Segundo ele, o Deter é um levantamento rápido, que pode ter ruídos.
Pontes reconheceu, porém, que o Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes), levantamento anual que deve ser divulgado entre o fim de agosto e início de setembro, deve mostrar a mesma tendência de aumento do desmatamento dos dados que iniciaram a polêmica no Inpe.
O Deter apontou aumento de 88% do desmatamento na Amazônia em junho em relação ao mesmo mês do ano anterior e de 40% nos 12 meses anteriores, dado que deve ter maior aderência com o Prodes.
Inexistência de desmatamento e aquecimento global
Em relação às declarações polêmicas de integrantes do governo sobre a inexistência de desmatamento e de aquecimento global, Pontes contemporizou dizendo que procura explicar os dados do ministério para Bolsonaro e outros ministros.
"Mas a questão é que nem todo mundo entende sobre ciência e às vezes interpreta do ponto de vista pessoal", completando que ele também não entende de economia e que, apesar de ter algum conhecimento de diplomacia, não cursou o Instituto Rio Branco, de formação de diplomatas.
*Com Estadão Conteúdo
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