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Após físico demitido, ministro aponta militar como diretor interino do Inpe

Darcton Policarpo Damião em foto de 2010 - Miguel Ângelo/CNI
Darcton Policarpo Damião em foto de 2010 Imagem: Miguel Ângelo/CNI

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília*

05/08/2019 18h32

O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, escolheu hoje um militar para ser diretor interino do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Darcton Policarpo Damião substituirá o físico Ricardo Galvão até uma escolha definitiva por meio de lista tríplice a ser elaborada.

"Recebi uma série de currículos [...] Analisamos com base em três critérios: capacidade de gestão; entendimento do Inpe, ou seja, pelo menos ter passado pelo Inpe, conhecer o Inpe como organização; que conheça, por causa de todo esse momento agora em que estamos aperfeiçoando o sistema, que conheça bem sobre as questões de desmatamento etc", afirmou o ministro em vídeo divulgado hoje à tarde

Damião é formado em ciências aeronáuticas pela Academia da Força Aérea, tem MBA em gestão empreendedora pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), mestrado em sensoriamento remoto pelo Inpe e doutorado em desenvolvimento sustentável pela UnB (Universidade de Brasília).

Marcos Pontes ressaltou a formação técnica de Damião, além do fato de já conhecer a dinâmica do Inpe, e afirmou que ele é uma "pessoa de confiança, logicamente" com capacidade de gestão.

De acordo com a assessoria do ministro, o fato de ele ser militar não foi preponderante para sua escolha.

Pontes também fez afagos ao Inpe após a crise envolvendo o instituto afirmando que, "no fim das contas, [os questionamentos e os problemas] foram positivos para o sistema como um todo", a fim de aprimorá-lo.

"O Inpe está aqui para nos ajudar, para ajudar o país com relação ao trabalho que já tem sido feito há muito tempo com sua credibilidade e trabalho de todos os seus técnicos junto ao ministério", disse.

Demissão após rebater Bolsonaro

Semana passada, o ex-diretor do instituto, Galvão, foi exonerado após rebater críticas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em relação a dados de desmatamento da Amazônia divulgados pelo Inpe.

Galvão, doutor em física de plasmas aplicada pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos Estados Unidos, dirigia o órgão desde 2016.

Segundo Pontes, a nomeação de Damião está sob análise da Casa Civil e deverá ser publicada no Diário Oficial da União ao longo dessa semana.

"Procurou a imprensa"

Mais cedo, em entrevista à Rádio Eldorado, Pontes disse que Galvão tornou a situação insustentável ao procurar a imprensa para rebater Bolsonaro.

"Se o Galvão tivesse me procurado após os comentários de Bolsonaro, tudo poderia ter sido resolvido no diálogo. O fato de ter falado direto com a imprensa gerou perda de confiança", afirmou Pontes. "Tem influência do presidente (na demissão), mas também tem minha parte, porque se tornou difícil contornar a situação."

Segundo ele, o Deter é um levantamento rápido, que pode ter ruídos.

Pontes reconheceu, porém, que o Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes), levantamento anual que deve ser divulgado entre o fim de agosto e início de setembro, deve mostrar a mesma tendência de aumento do desmatamento dos dados que iniciaram a polêmica no Inpe.

O Deter apontou aumento de 88% do desmatamento na Amazônia em junho em relação ao mesmo mês do ano anterior e de 40% nos 12 meses anteriores, dado que deve ter maior aderência com o Prodes.

Inexistência de desmatamento e aquecimento global

Em relação às declarações polêmicas de integrantes do governo sobre a inexistência de desmatamento e de aquecimento global, Pontes contemporizou dizendo que procura explicar os dados do ministério para Bolsonaro e outros ministros.

"Mas a questão é que nem todo mundo entende sobre ciência e às vezes interpreta do ponto de vista pessoal", completando que ele também não entende de economia e que, apesar de ter algum conhecimento de diplomacia, não cursou o Instituto Rio Branco, de formação de diplomatas.

*Com Estadão Conteúdo