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Bolsonaro diz que reservas indígenas têm intenção de inviabilizar o país

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

27/08/2019 11h52Atualizada em 27/08/2019 18h35

Em reunião realizada hoje com governadores da Amazônia Legal para mostrar as ações do governo federal no combate a incêndios na região, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticou a quantidade de reservas indígenas e zonas de conservação ambiental no país.

Ele afirmou haver hoje 418 pedidos de demarcação de terras indígenas em tramitação no Ministério da Justiça e disse haver a intenção de inviabilizar o desenvolvimento do país por meio delas.

Ao longo das falas dos governadores presentes no Palácio do Planalto, Bolsonaro perguntou a vários mandatários a porcentagem de seus estados ocupados por reservas ou variedades de proteção ambiental.

O governador de Roraima, Antonio Denarium (PSL), respondeu que 95% da vegetação nativa no estado está preservada. O governador de Rondônia, Marcos Rocha (PSL), disse que o estado não utiliza 67% de todo seu território.

O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC) afirmou contar com 97% do território preservado. Ele declarou que quem está desmatando tem interesse econômico por trás, portanto, há necessidade de desenvolver a região. Em seguida, reforçou o pedido de colegas para que o governo federal invista mais na regularização fundiária.

Na avaliação de Bolsonaro, durante a crise dessas últimas semanas, a Amazônia foi usada politicamente e governos brasileiros anteriores foram irresponsáveis ao tratar do tema.

A reunião tem sido permeada de críticas a reservas indígenas e à presença de ONGs (Organizações Não Governamentais) no local, com o apoio da maioria dos governadores. O de Tocantins, Mauro Carlesse (PHS), por exemplo, disse que o excesso de as terras indígenas "nos leva ao atraso". "Não produzimos nada [nessas áreas]", complementou.

Carlesse falou que todo estado deve respeitar o meio ambiente, mas, ao mesmo tempo, ajudar no desenvolvimento da população, tanto indígena quanto rural. Quanto às queimadas, disse que "todos os anos é a mesma quantidade de fogo".

O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM), afirmou ter ficado "muito preocupado" por aquilo que classificou de "combinação de tempo ruim" - acusações de aumento de desmatamento ilegal e de queimadas, além de uma "guerra de comunicação - uma vez que 60% do PIB (Produto Interno Bruto) do estado depende das exportações.

"O senhor [presidente da França, Emmanuel] Macron está surfando nas cinzas da Amazônia, mas não está preocupado com a Amazônia, e, sim, em criar possíveis barreiras verdes [ao acordo Mercosul e União Europeia]", falou.

Mendes ainda afirmou ser mentira associar o crescimento do desmatamento com as queimadas, porque no Mato Grosso "houve redução de 17% no desmatamento e agora somos o campeão nacional de queimada".

O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), avaliou que o Brasil está "perdendo tempo" ao ficar comentando as falas de Macron e precisa cuidar melhor dos problemas internos. Para ele, o país precisa dar sinalizações de que cuida do meio ambiente para que o agronegócio não tenha a imagem prejudicada no mercado internacional.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, informou que o governo pretende investir recursos do Fundo Amazônia para implementar Zoneamentos Ecológico-Econômicos em cada estado do país, reforçar a eficiência de sistemas de manejo florestal e promover a regularização fundiária.

"Esses macrotemas eram, senão a última, as últimas atribuídas pelo status quo do Fundo Amazônia até então", disse, citando haver hoje ausência de "sinergia e estratégia geográfica" na administração do Fundo.

Nas considerações finais, Bolsonaro ressaltou que grande parte dos recursos do fundo, defendido pelos governadores, vêm de financiamento estrangeiro e que "isso tem um preço", como mais demarcação de terras indígenas, áreas de proteção ambiental, quilombos e parques nacionais. Na avaliação do presidente, nessa linha, o destino será a "insolvência do Brasil".

Ele defendeu o uso racional do desenvolvimento sustentável da Amazônia e negou que o governo queira prejudicar o meio ambiente.

"Ninguém aqui quer tocar fogo ou destruir a Amazônia. Até porque, se colocasse um milhão de homens com motosserra na mão, levaria quantas décadas para destruir a Amazônia? Então é um absurdo o que falam a nosso respeito", reclamou.

Os governadores entregaram ao presidente documento de planejamento estratégico formulado pelo consórcio interestadual da Amazônia Legal, que reúne os mandatários estaduais. Segundo o governador Helder Barbalho, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, se comprometeu a se reunir com os políticos para discutirem as necessidades de cada estado e, partir das conversas, montar um pacote de projetos a serem enviados ao Congresso Nacional.

Estiveram presentes os seguintes governadores de estados da chamada Amazônia Legal:

  • Flávio Dino (Maranhão);
  • Helder Barbalho (Pará);
  • Mauro Mendes (Mato Grosso);
  • Wilson Lima (Amazonas);
  • Marcos Rocha (Rondônia);
  • Mauro Carlesse (Tocantins);
  • Waldez Góes (Amapá);
  • Antônio Denarium (Roraima);
  • Wherles Rocha (Vice-Governador do Acre).
Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o governador do Pará, Helder Barbalho, é filiado ao MDB, e não ao PSDB. O texto foi corrigido.