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Chuva "limpa" fumaça da Austrália no sul do Brasil

Céu acinzentado em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, mostrava fumaça e não nuvens de chuva - Duda Pinto / Cessão para o UOL
Céu acinzentado em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, mostrava fumaça e não nuvens de chuva Imagem: Duda Pinto / Cessão para o UOL

Agência Brasil

08/01/2020 21h37

As chuvas que caíram em Santa Catarina, parte do Paraná e do Mato Grosso do Sul nesta quarta-feira (8) impediram o avanço das partículas de fumaça que foram observadas na terça-feira (7) no Rio Grande do Sul, após aparecerem no Chile e na Argentina.

O fenômeno é chamado por especialistas como "deposição úmida". Para os leigos, é como se a chuva lavasse a atmosfera. O banho impediu que a fumaça australiana, vista pelos gaúchos, atingisse outros estados brasileiros.

"A tendência desse material era continuar avançando sobre o continente sul-americano, mas, em função das chuvas, as partículas suspensas no ar foram carregadas e depositadas na superfície", detalha pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ariane Frassoni dos Santos de Mattos.

Segundo ela, a fumaça veio parar no continente por causa da circulação atmosférica a 12 quilômetros da superfície da Terra. "Lá em cima o vento sopra de oeste para leste. A Terra gira também de oeste para leste". Além desse movimento, foi observado na atmosfera "correntes de jatos ou canais que funcionam como tubo de ventos mais intensos". Esses fenômenos trouxeram a fumaça australiana até o Rio Grande do Sul.

Para a especialista, a circulação da fumaça demonstra que a atmosfera é fluida e dinâmica. "Uma perturbação em alguma região do globo terrestre vai responder em forma de ondas e vai alterar a circulação atmosférica", acrescenta.

Noite no meio da tarde

A circulação da atmosfera entre regiões é conhecida dos brasileiros. Os ventos que entram no continente sul-americano pela Guiana Francesa ou pelo Estado do Pará percorrem a Amazônia e chegam à Cordilheira dos Andes, onde são rebatidos e descem até as regiões Sul e Sudeste, conforme a época do ano, além de passar pelo Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai e norte da Argentina.

Um exemplo disso, foi o episódio ocorrido em 26 de agosto do ano passado, registrado no canal do professor Gustavo Baptista, do Departamento de Geociências da UnB, quando o céu escureceu em São Paulo no meio da tarde por causa da fumaça vinda da Amazônia Legal.

O especialista refuta comparações entre os incêndios ocorridos na Amazônia brasileira e na Austrália, que tem grande parte da área central desértica. "Os incêndios lá têm sido naturais, e no nosso caso são provocados pelo homem, porque são utilizados como forma de limpar os terrenos que foram desmatados. É uma consequência do desmatamento da Amazônia", assinala o acadêmico preocupado com "desprestígio do monitoramento e controle ambiental".

A floresta que queimou na Austrália é do tipo savana, como é o cerrado brasileiro. A floresta australiana existe meio a um clima quente e seco, enquanto a Floresta Amazônica é quente e úmida.

Desde julho passado, os incêndios consumiram cerca de 6,3 milhões de hectares na Austrália, mais de seis vezes o volume total dos incêndios ocorridos na Amazônia. Em dezembro, a temperatura média da Austrália foi de 40,9 graus Celsius (°C), recorde histórico, e chegou a marcar 46°C em alguns estados. A alta da temperatura foi afetada por causa da estiagem prolongada. Não foi registrado grande mudança no ciclo de chuvas da Amazônia no ano passado.