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Bolsonaro não poderá se esconder atrás de Trump, diz diretora do Greenpeace

Jennifer Morgan participa do programa "Roda Viva", da TV Cultura - Reprodução/TV Cultura
Jennifer Morgan participa do programa "Roda Viva", da TV Cultura Imagem: Reprodução/TV Cultura

Do UOL, em São Paulo

07/12/2020 23h13Atualizada em 08/12/2020 01h39

Diretora executiva do Greenpeace Internacional, Jennifer Morgan elogiou a eleição do presidente democrata Joe Biden, nos Estados Unidos, ocorrida em novembro, e afirmou que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) não poderá mais se esconder atrás do republicano Donald Trump.

"É importante quando um presidente dos EUA liga para você, como líder de outro país e diz: 'uma das minhas quatro prioridades principais, além da covid, reação científica à covid, economia, justiça racial e mudança climática'. E foi isso que Biden fez com todos os líderes que falaram com ele, que reconheceram sua vitória", disse ela, durante o programa "Roda Viva", da TV Cultura.

"A minha experiência diz que isso muda as coisas, e não há onde se esconder. Bolsonaro não pode mais se esconder atrás de Trump. O mundo está seguindo em frente, [o presidente da China] Xi Jinping, um parceiro importante do Brasil e da União Europeia... Considerando esses atores, por quanto tempo você pode se conservar nessa posição isolada?", questionou, em seguida.

Morgan também criticou o governo de Jair Bolsonaro que, segundo ela, tem agido de forma preocupante desde que tomou posse em 2019, principalmente em questões relacionadas ao meio ambiente. Apesar das críticas, ela disse esperar que o governo brasileiro recomece do zero e finalmente enxergue a luz

"Óbvio que as ações do governo Bolsonaro desde que tomou posse têm sido profundamente preocupantes, para dizer pouco. Elas vão de encontro a princípios da democracia. O governo precisa recomeçar do zero. Ele precisa reestabelecer a lei e a ordem. Acho que o caminho é o governo respeitar a democracia que está governando. Espero que o governo Bolsonaro finalmente enxergue luz nisso."

Durante o programa, a diretora executiva do Greenpeace também falou sobre o bom histórico do Brasil na defesa da política ambiental, mas que o país precisa retomar essa política.

"O Brasil tinha um histórico muito forte. O caminho para reconquistar, demonstrar o entendimento da gravidade do problema, é claro: envolve implementar as leis que já existem, refinanciar as agências, respeitar leis e instituições", argumentou.

"Passar a boiada"

Em relação à declaração feita pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de que iria passar a boiada em eventual flexibilização de normas de proteção ambiental, durante uma reunião ministerial em abril, Morgan criticou duramente o trabalho desenvolvido por Salles.

"Ele tomou medidas deliberadas desde que assumiu o cargo para desmantelar o que havia sido criado em muitos anos de maneira confiável, baseada na ciência para cuidar e mudar para um jeito novo", afirmou.

"Precisamos de colaboração, cooperação para resolver nossos problemas. Esse tipo de declaração, obviamente segue um caminho completamente contrário", completou.

Pré-sal

Questionada sobre o pré-sal, Jennifer Morgan afirmou que o Greenpeace é contra a exploração de combustíveis fósseis.

"Acho que o pré-sal precisa ser abandonado...Com certeza o Greenpeace faz campanhas muito fortes contra a exploração de combustíveis fósseis e até num estado como a Califórnia (nos EUA) que todos pensam que é verde", pontuou. "Mas está claro que países da OCDE, os países desenvolvidos, ocuparam a atmosfera e devem tomar a dianteira. Precisam mudar sua matriz energética o mais rápido. E precisam dar apoio aos países em desenvolvimento para que também possam seguir por outros caminhos".

Avanço na devastação

O desmatamento na floresta amazônica brasileira aumentou 9,5% em relação ao ano anterior, atingindo 11.088 km², segundo dados divulgados no início da semana pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O índice é o pior registrado desde 2008, quando o pico atingido foi de 12.911 km².

A informação coletada pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) leva em consideração o desmate ocorrido entre agosto de um ano a julho do ano seguinte; neste caso, entre agosto de 2019 e julho de 2020. Pela primeira vez o período analisado pelo sistema abrange exclusivamente o governo de Jair Bolsonaro.

Os dados coletados pelo Prodes foram divulgados em cerimônia que contou com a presença do vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), coordenador do Conselho da Amazônia, e do ministro Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovação). De acordo com Mourão, a maior parte do desmatamento se concentra em quatro estados: Pará, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia.

"É importante destacar que 45% desse desmatamento ocorre em áreas já consolidadas, propriedades já consolidadas, e 30% — esse é o nosso maior problema, deixo claro — estão ocorrendo em áreas públicas, aquelas terras que não foram entregues para ninguém, nem unidade de conservação, nem terra indígena e nem colocadas na mão de particulares. Isso configura a mais flagrante de todas as ilegalidades", declarou o vice-presidente, na ocasião.