Ao lado de indígenas, Bolsonaro diz que eles são discriminados por europeus
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou hoje os países europeus por supostamente não comprarem o que é produzido pelos indígenas brasileiros apenas porque têm "preconceito" contra esses povos. Ao lado de dois indígenas e do presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marcelo Xavier, ele ainda afirmou que o Brasil é o país "mais patrulhado do mundo" quanto à questão ambiental.
"Você vê a Europa tão preocupada com o índio, com a Amazônia, com o desmatamento, com focos de incêndio", disse Bolsonaro em sua live semanal. "Muita gente que está na cidade grande diz que o índio tem que ser tratado e preservado da forma como veio ao mundo. Não é bem assim, pessoal. E olha a discriminação do europeu: não compram o que eles [indígenas] produzem porque não querem ver o progresso deles."
Não existe tratado internacional proibindo a compra de grãos produzidos em terras indígenas, mas sim a Moratória da Soja Amazônica, um pacto firmado em 2006 —e do qual o governo brasileiro foi signatário— que veta a compra de grãos produzidos em áreas recém-desmatadas.
Países como a França pressionam a União Europeia para que não feche acordo financeiro com o Mercosul como forma de sanção ao desmatamento na Amazônia.
Durante a transmissão, os dois indígenas pediram apoio para a liberação da comercialização de sua produção com compradores estrangeiros, além da possibilidade de plantio de transgênicos. Bolsonaro, então, voltou a dizer que há um "jogo econômico" por trás das críticas de outros países à política ambiental do Brasil.
"Quem é o mais patrulhado no mundo? China, Estados Unidos, Índia, Alemanha ou o Brasil? O Brasil. E por que isso? É um jogo econômico. Nós somos um dos países que mais preserva a questão ambiental. E o que é triste é gente de dentro do próprio Brasil intubar essa narrativa, o tempo todo criticando o Brasil. Entra governo, sai governo, as criticas estão aqui", reclamou, sem apresentar dados que comprovem seu argumento.
Agora, a discriminação com o índio vem de fora. Agora a gente fala da Europa, né, que é tão zelosa com o Brasil. Quanto da Europa tem preservado de matas naturais? Eu não vou dizer aqui porque eu posso errar o número, [mas] eu sei que é infinitamente menor do que a que temos no Brasil.
Jair Bolsonaro, durante sua live semanal
Tom diferente
Bolsonaro chegou a adotar um tom mais pacífico em seu discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima, na semana passada, mas o abandonou no mesmo dia, também durante uma live. Na ocasião, ele voltou a rejeitar as críticas feitas ao Brasil pelo aumento no desmatamento, sugerindo haver interesses econômicos por parte dos países que têm cobrado o governo nessa questão, como os Estados Unidos.
A declaração foi feita logo depois de uma fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que participou da transmissão. Salles divulgou uma série de dados sobre a emissão de gases do efeito estufa em outros países, indicando que o Brasil supostamente estaria atrás de China, EUA e Índia, por exemplo.
"Então estamos lá embaixo, lá embaixo [no ranking de desmatamento]. Lógico que a gente quer diminuir isso daí, mas não justifica essa crítica absurda contra o Brasil. Está na cara que, no fundo, acho que uma questão econômica está em jogo", disse Bolsonaro.
Naquela manhã, porém, ao discursar na Cúpula de Líderes, o presidente disse que o Brasil está aberto à "cooperação internacional" e anunciou que o país buscará atingir a neutralidade climática — isto é, reduzir a zero o balanço das emissões de carbono — até 2050, uma antecipação de dez anos em relação ao prazo anterior.
A atitude reforça a tese, defendida nos bastidores do Planalto e do Itamaraty, de que o governo quer dar uma guinada de 180 graus para melhorar as relações com a comunidade internacional. Isso ocorre na esteira de crises e reveses para o presidente brasileiro — como a derrota do aliado Donald Trump nos EUA, o desgaste na relação com a China e os impactos da pandemia da covid-19.
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