Desmatamento da Amazônia tem impacto direto no agronegócio, diz estudo
Um estudo do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), publicado hoje pela revista Nature, indica que o desmatamento da Amazônia tem impacto direto no agronegócio da região.
Segundo a pesquisa, a perda de produtividade pode causar prejuízo de até US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,2 bilhões) por ano no setor. " O Brasil pode ter ultrapassado um limite no qual mais desmatamento na Amazônia se traduz em dano econômico direto", diz o texto.
De acordo com o estudo, as perdas de produtividades e receitas associadas ao desmatamento pode chegar a US$ 180,8 bilhões (cerca de R$ 937 bilhões) para a produção de carne bovina e de US$ 5,6 bilhões (cerca de R$ 29 bilhões) para soja até 2050.
A pesquisa reforça que a Amazônia tem um papel fundamental na regulação de chuvas, que tem seu ciclo afetado com a queda do número de árvores na região. Neste cenário, o sistema agrícola se desequilibra, com impacto na produtividade.
Em entrevista à GloboNews, o coordenador do estudo, Argemiro Teixeira Leite-Filho, disse que o controle do desmatamento é o único caminho para reverter a tendência.
"Da forma que o desmatamento vem avançando, não conseguimos manter o sistema produtivo da forma que ele vem crescendo, é uma situação autodestrutiva", disse.
"Uma das conclusões é que é preciso frear o desmatamento não só por uma questão ambiental, mas também por uma questão produtiva", completou.
Neste cenário, Argemiro destaca que apenas uma "parcela pequena do agronegócio ainda não percebeu que é necessário preservar para produzir", mas que é "preciso uma política conjunta e integrada" para combater o problema.
Abril tem recorde de desmatamento
Na semana passada, dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostraram que o índice de desmatamento na Amazônia em abril deste ano atingiu o seu pior resultado desde o início da série história, em 2016.
Foram devastados 580,55 km² até o dia 29 de abril de 2021, ante 407,2 km² em abril de 2020, uma alta de 42,5%, conforme medições do sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real).
Em abril, ao participar da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, Bolsonaro afirmou que o Brasil está aberto à "cooperação internacional" na área ambiental e declarou que o país buscará atingir a neutralidade climática (reduzir a zero o balanço das emissões de carbono) até 2050. O tom mais moderado adotado na reunião chamou atenção dos demais presidentes.
A meta apresentada até 2050 é a mesma fixada pelos Estados Unidos e pelos grandes países europeus em relação às ações para zerar o balanço das emissões de CO².
No entanto, no mesmo dia do encontro internacional, Bolsonaro rebateu as críticas ao desmatamento no país sugerindo que "há interesses econômicos por parte dos países que têm cobrado o governo nessa questão, como os Estados Unidos".
A pressão sobre o Brasil aumentou nesta semana. Grandes supermercados e produtores de alimentos britânicos e da União Europeia ameaçaram boicotar os produtos brasileiros, devido a um projeto de lei que, segundo eles, levaria a mais desmatamento na Amazônia.
De acordo com um estudo publicado na semana passada pela revista Nature Climate Change, a Amazônia brasileira emitiu mais carbono na última década do que absorveu, em uma reversão sem precedentes de seu equilíbrio tradicional.
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