Brasil precisa preservar ao menos 80% da Amazônia, diz vice-presidente
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse neste sábado (2) que o Brasil precisa garantir a preservação de pelo menos 80% da Amazônia, para mostrar à comunidade internacional seu compromisso com o bioma. Segundo ele, estima-se que cerca de 85% da floresta ainda mantêm vegetação natural, o que limita seu desmatamento a 5%, no máximo.
A política ambiental do governo é alvo de críticas de entidades do setor. Segundo dados levantados pelo Greenpeace a pedido do UOL, a área desmatada da Amazônia nos mil primeiros dias do atual governo cresceu 74% em relação ao mesmo período anterior à posse de Jair Bolsonaro (sem partido) na Presidência. Nesse período, o desmatamento na Amazônia Legal consumiu uma área de 24,1 mil km². Os dados são do Deter (sistema expedito de alerta de desmatamento), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e foram levantados pelo Greenpeace a pedido do UOL.
Segundo o cálculo da entidade, o total desmatado equivale a 2.410.000 hectares, enquanto a média de um campo de futebol padrão Fifa é de 0,729 hectares —ou seja, 3.305.898 campos foram derrubados durante o governo atual, ou 3.305 por dia.
Segundo o vice-presidente, é preciso mostrar à comunidade internacional que o país não está desistindo da responsabilidade e de que vai trabalhar duro para manter a floresta. "Se formos levar em consideração um mero cálculo matemático, nós ainda temos 5% para desmatar, nada além disso. Dos outros 80%, as árvores não podem ser cortadas", disse Mourão em entrevista à Agência Brasil, durante uma palestra, proferida em inglês, no pavilhão da Sustentabilidade, da Expo 2020, em Dubai, neste sábado (2).
A citação de Mourão em relação à quantidade de floresta original no bioma amazônico usa dados de forma distorcida, da mesma forma que o presidente Jair Bolsonaro o fez no discurso na ONU.
Segundo especialistas, o predomínio de florestas na Amazônia não é sinônimo de áreas intactas. Além disso, reportagem de Ecoamostrou que a WWF-Brasil, a partir de dados do Inpe, estima que a Amazônia perdeu 19% de sua área original — que assim seria de 81%, e não 84%. A diferença de três pontos percentuais que pode parecer pequena em números absolutos representa uma área quase igual à do estado do Amapá (quase 800 mil km²).
Créditos de carbono
Mourão também defendeu que o país seja pago, em créditos de carbono, pela preservação da floresta. Para o vice-presidente, o governo precisa garantir que as leis ambientais sejam cumpridas e que, para isso, é necessário fortalecer os órgãos de fiscalização do meio ambiente. "Agência ambientais do Brasil têm sofrido com pessoal insuficiente e cortes orçamentários, o que se traduziu em menos eficácia na luta contra corte de madeira ilegal e incêndios criminosos. Como parte do compromisso do governo federal em reconstruir a capacidade do Estado na Amazônia, o Ibama foi autorizado a contratar 500 novos servidores".
Segundo dados mostrados por Mourão, nos últimos 32 anos, os menores índices de desmatamento na Amazônia foram registrados em 2012. Entre 2018 e 2020, no entanto, as taxas cresceram. No ano passado, a taxa cresceu 7% em relação ao ano anterior, por exemplo.
As maiores pressões ocorrem, segundo ele, em Rondônia, Mato Grosso e Pará. Ele destacou, no entanto, que os dados de agosto deste ano mostraram uma queda de 32% em relação ao mesmo período de 2020.
Críticas internacionais
A política ambiental do governo se tornou assuntou mundial em 2019, quando a Amazônia registrou uma alta no número de incêndios florestais, que veio após a redução de todo o aparato de fiscalização e prevenção do fogo.
"Isso demonstra que, desde o início, o projeto ambiental desse governo está dando certo: destruir todos os mecanismos legais e infralegais na nossa rede de proteção", afirma Rômulo Batista, da campanha Amazônia do Greenpeace.
Recentemente, o Greenpeace integrou uma caravana que sobrevoou cidades do Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso para ver a destruição causada pelo fogo e pelo desmatamento da Amazônia. A visita rendeu uma série de imagens chocantes.
Em 2019, houve um aumento de 30,5% dos focos de queimada em relação ao ano de 2018. Já 2020 apresentou um novo aumento: de 15,7% em relação ao ano anterior.
Bioeconomia
O vice-presidente voltou a destacar a necessidade de investimentos da iniciativa privada em projetos de desenvolvimento sustentável da Amazônia, a fim de que se possa evitar uma exploração predatória da região.
Segundo ele, a bioeconomia, que seria o uso sustentável da biodiversidade, pode proporcionar negócios que combinam preservação ambiental, crescimento econômico e inclusão social. "Empresas, investidores, produtores e empreendedores devem liderar um novo ciclo de crescimento verde e inclusivo na Amazônia", disse Mourão.
Além de ter buscado mostrar à comunidade internacional a imagem de um Brasil que está empenhado em proteger a Amazônia, Mourão tem tentado, desde que chegou aos Emirados Árabes, divulgar a investidores internacionais que a região tem grande potencial para um uso econômico sustentável.
Amanhã (3), Mourão abrirá um fórum de sustentabilidade da Amazônia, com empresários do Brasil e dos Emirados Árabes.
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