Por que o nível dos reservatórios em SP não sobe após as chuvas de outubro?
A estiagem que atingiu a região centro-sul do Brasil durante o inverno começa a dar lugar à estação chuvosa. Os temporais de outubro, porém, não foram suficientes para aumentar significativamente o armazenamento de água nos reservatórios que abastecem a Grande São Paulo.
Na capital paulista, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas), outubro foi o oitavo mês mais chuvoso da série histórica, com 134,4 milímetros —25,7% acima da média de 106,9 milímetros para o mês.
No entanto, os sistemas que abastecem a região metropolitana estão com níveis mais baixos do que os registrados no mesmo período de 2013, antes da crise hídrica de 2014 e 2015. O Cantareira, que fornece água para mais de 7 milhões de pessoas na região metropolitana, opera na faixa de restrição (leia mais abaixo).
Responsável por monitorar a frequência de chuvas nas bacias hidrográficas, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) informa que os reservatórios para abastecimento energético na região Sudeste/Centro-Oeste também operam com volume baixo —terminaram o mês com 17,8%, melhora de 1 ponto percentual em relação a setembro.
Já a alta nos reservatórios da região Sul foi muito maior: 23,4 pontos percentuais, com o nível chegando a 52% da capacidade no fim de outubro.
A razão, diz o ONS, é que o Sul registrou muita chuva em outubro, enquanto nas regiões Sudeste e Centro-Oeste as precipitações ocorreram com menor intensidade.
UOL Explica o que acontece no Cantareira
Desde junho, o Sistema Cantareira, que abastece um terço da população da Grande São Paulo, sofre com os impactos da estiagem. O conjunto de reservatórios passou pelas faixas de atenção e de alerta, até chegar à de restrição, quando os níveis são iguais ou maiores que 20% e menores do que 30% de sua capacidade.
Além de ter suas principais represas distantes da capital —onde choveu mais—, o sistema também ficou com o solo ressecado com a falta de chuvas nos últimos meses —o que dificulta a absorção de água.
Segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), as chuvas que caíram sobre as represas do Cantareira em outubro equivaleram a 72% da média histórica para o mês (34 metros cúbicos por segundo) —ou 24 metros cúbicos por segundo.
No início de outubro, o Cantareira chegou ao menor nível em cinco anos, 29%, e continuou caindo. No dia 19, o volume armazenado subiu 0,2 ponto percentual —foi para 28,3%, a primeira alta na capacidade operacional do manancial em mais de 80 dias. Hoje, mais de duas semanas depois, está em 28,5%.
"Chuvas volumosas todos os dias"
Embora as chuvas no Sul tenham sido mais intensas, elas também foram importantes no Sudeste, ainda que insuficientes para encher os reservatórios, afirma a hidróloga do Cemaden, Luz Adriana Cuartas.
"Foi só um mês de muita chuva depois de toda uma estação muito seca", diz. "Quando começam as chuvas, elas vão primeiro ser absorvidas pelas plantas e pelo solo para só depois chegar ao reservatório. Não é imediato."
Segundo a especialista, é preciso que as precipitações continuem nos próximos meses, "todos os dias, volumosas, mas não muito intensas". É que, quando a água cai com muita força em curto período de tempo, "ela não penetra no lençol freático que alimenta a base nos rios".
Meteorologista do Cemaden, Marcelo Seluchi concorda. Ele diz que "outubro foi um mês bom, mas há sempre uma demora da vazão [para os reservatórios]". "Ainda é muito cedo para incremento dos reservatórios. Se as chuvas continuarem acima da média, só em dezembro o volume armazenado vai aumentar", diz.
Não esperaria uma resposta muito rápida no Cantareira. Vai depender da qualidade de toda a estação chuvosa."
Marcelo Seluchi, meteorologista
Presidente do Sintaema (o sindicado paulista dos trabalhadores em saneamento), José Antonio Faggian lembra que "é preciso chover, mas no lugar certo".
"Tem de chover não só na cidade, mas nos reservatórios e nos rios que os abastecem", afirma. "A gente não espera que haja recuperação da noite para o dia."
Ele lembra que o nível dos reservatórios poderia estar mais alto se não houvesse perdas de até 30% da água distribuída para consumo, mas elogia as obras da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) realizadas depois da crise hídrica de 2014.
Na ocasião, o governo estadual abasteceu as residências utilizando a água do chamado volume morto, uma reserva com 480 bilhões de litros abaixo das comportas das represas. Depois disso, o sistema foi incrementado.
Além de interligar as represas do sistema, a Sabesp inaugurou o Sistema São Lourenço em 2018, destaca Faggian, com capacidade para atender 1,4 milhão de pessoas.
Para o meteorologista do Cemaden, ainda é cedo para saber se a crise pode se repetir no ano que vem, embora os níveis dos reservatórios estejam abaixo dos de 2013, um ano antes do colapso.
"Crise hídrica sempre é possível, mas acho difícil que repita 2014", afirma. "O problema é que 2014 foi um ano péssimo, sem chuva por 40 dias no auge da estação chuvosa. Nunca podemos descartar, mas hoje não parece uma situação tão preocupante."
Para o período de outubro a dezembro, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) calcula um acumulado de até 470 milímetros na capital paulista —abaixo da média histórica de 488 milímetros.
Já o ONS, em sua programação mensal, prevê recuperação nas principais bacias em novembro. No Sudeste e Centro-Oeste, por exemplo, o volume de chuvas deve ultrapassar a média histórica.
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