Mesmo com chuvas de verão, Cantareira segue com cerca de 1/4 da capacidade
O volume do Sistema Cantareira segue com pouco mais de um quarto da capacidade, mesmo após as chuvas das últimas semanas na cidade de São Paulo. O nível do reservatório estava em 26,7% na sexta-feira (7), segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
Na mesma data de janeiro do ano passado, o nível do manancial era de 37%. Ainda assim, o volume de ontem é 1,7% mais alto que o da semana anterior, de 25%.
De acordo com o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), até o sétimo dia do ano o volume de chuvas registrado foi de 73,4 mm no Mirante de Santana - referência na climatologia da cidade de São Paulo. Ainda, segundo o Instituto, lá chove em média 288 mm em janeiro.
Se nas próximas semanas chover a mesma quantidade dos primeiros sete dias do ano, janeiro fechará o mês com índice pluviométrico dentro da média histórica.
Mas, segundo Pedro Luiz Côrtes, professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo), a previsão indica que teremos um verão seco.
"As previsões climáticas indicam que teremos um verão com chuvas abaixo da média", explica o especialista. "Não vai ficar o mês todo chovendo assim (como foi a primeira semana), pelo menos é o que indica o prognóstico. Essas chuvas podem dar impressão que a situação está normalizando, o que não vem ocorrendo".
Por outro lado, em comunicado a Sabesp informou que não há risco de desabastecimento neste momento na Região Metropolitana de São Paulo, mas reforçou a necessidade de uso consciente da água.
"As projeções são de aumento no nível dos reservatórios em janeiro e fevereiro, meses com maiores médias históricas de chuvas", afirma a nota.
Reabastecimento do manancial
Para o professor, a uma chuva de alta intensidade não é tão favorável quanto a constância das chuvas no que tange ao reabastecimento do Cantareira.
"Nós vamos ter chuvas até o final do verão abaixo da média, embora em alguns momentos a gente possa ter chuvas mais intensas. Essas chuvas muito intensas, elas não são o que de melhor pode ocorrer para a recarga dos mananciais, é óbvio que elas ajudam, mas o ideal é que essas chuvas fossem bem distribuídas ao longo de vários dias sem períodos de estiagem", afirma.
Como não estão prognosticadas chuvas acima da média, nós não teremos uma recuperação do sistema Cantareira no montante necessário."
Pedro Luiz Côrtes, professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo).
Abastecimento
O Cantareira é o maior reservatório da rede paulista e abastece cerca de 7,5 milhões de pessoas todos os dias — 46% da população da Grande São Paulo —, segundo a Ana (Agência Nacional de Águas), o órgão que regula o setor. O sistema leva água para as zonas Norte e Central e parte das zonas Leste e Oeste da capital, além das cidades de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul.
O reservatório engloba, também, parte dos municípios de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André. Fora o Cantareira, o sistema de abastecimento de água no estado conta com os sistemas Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço.
De acordo com a Sabesp, os investimentos da Companhia tornaram mais flexível o Sistema Integrado da RMSP, sendo possível abastecer áreas diferentes com mais de um sistema produtor, conforme a necessidade.
"Um conjunto de medidas vem sendo adotado para a segurança hídrica e preservação dos mananciais: integração do sistema (com transferências de água entre regiões), ampliação da infraestrutura e gestão da pressão noturna para maior redução de perdas na rede", explica o comunicado.
'Reservatórios muito próximos do que tínhamos 2014'
Segundo Pedro Côrtes, os reservatórios estão muito próximos da situação de janeiro de 2014, quando a crise de abastecimento começou.
"Os reservatórios estão muito próximos do que tínhamos em 2014. O que acontece é que a gente vai terminar o verão com o Sistema Cantareira em um nível muito abaixo do ideal - que seria começar o período de estiagem com 60% - mas os prognósticos indicam que ele possa chegar no período de estiagem com 30%, ou seja, ele vai se recuperar agora no verão, mas depois ele volta a cair", diz.
O volume gasto no período de estiagem —que vai de abril até metade de novembro— torna a situação crítica. A média é de uso de 20% a 30% do volume do sistema. "Se a gente chegar no período de estiagem com 30% e gastar 20% a gente chega no final do ano com 10%".
Estamos em uma situação crítica, o nível hoje está muito abaixo do ideal e nós já temos uma situação que vem acontecendo desde o ano passado que é da redução da pressão noturna da água em diversos bairros."
Pedro Luiz Côrtes, professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo).
Em suma, "nós não temos uma situação confortável, principalmente no que se refere ao sistema Cantareira e os prognósticos indicam que não teremos um volume de chuvas suficiente neste verão para reverter essa situação", conclui.
Estado de restrição
Atualmente, o Sistema Cantareira está em estado de restrição, o último antes de atingir o nível considerado crítico — o mais grave de todos. O estado é considerado de atenção quando o nível fica entre 40% e 60%, de alerta quando está entre 30% e 40% e de restrição entre 20% e 30%.
Segundo as regras da ANA (Agência Nacional de Águas), só é considerada a fase de restrição se o mês acaba abaixo de 30% da capacidade total. Abaixo de 20%, o nível é crítico.
Veja o nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo, segundo a Sabesp
- Alto Tietê: 42,8 (+2,6% em relação à semana passada)
- Guarapiranga: 65,8 (+8,4%)
- Cotia: 50 (+10,7%)
- Rio Grande: 89,5 (+5,2%)
- Rio Claro: 56,1 (+9,9%)
- São Lourenço: 84,1 (+7,4%)
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