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Chove 46% do previsto, e Cantareira tem pior nível para época em 6 anos

Vista da Represa na Cidade de Mairiporã (SP). A represa faz parte do Sistema Cantareira. - JOÃO NOGUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Vista da Represa na Cidade de Mairiporã (SP). A represa faz parte do Sistema Cantareira. Imagem: JOÃO NOGUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo

19/02/2022 04h00

O volume do Sistema Cantareira é o mais baixo para os primeiros 18 dias de fevereiro desde 2016. Só choveu 46,7% do previsto para o mês até a última sexta-feira (18), segundo dados da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

O manancial armazenava ontem 42,7% da capacidade — na sexta da semana passada, o índice era de 41,8%, completando duas semanas com nível acima de 40% do reservatório. A última vez em que foi registrado um armazenamento mais baixo foi em 18 de fevereiro 2016, com 19,3%.

Em 2014, ano da crise hídrica em São Paulo, o manancial operava no mesmo período com 18,4% de sua capacidade — um ano antes, em de fevereiro 2013, o nível era de 56,3%.

Apesar de o estado de São Paulo estar no período chuvoso — do final de outubro até março —, é previsto que o Sistema Cantareira feche o mês com chuvas inferiores à média histórica de fevereiro, que é de 201,6 mm. Até ontem, pelos dados da Sabesp, houve precipitação de 94,2 mm.

Segundo as previsões do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), as últimas semanas de fevereiro "estarão abaixo da média na região". Desde o dia 9 deste mês, só choveu 7,7 mm.

Para Luz Adriana Cuartas, pesquisadora de hidrologia do Cemaden, o fechamento da estação chuvosa não é promissor. "Veja que falta pouco para finalizar a estação chuvosa e, segundo as previsões que temos, espera-se, na média, 38 mm de chuva até o final de fevereiro. Pode ser um pouco mais ou um pouco menos. No final, se a previsão se confirmar, fevereiro fechará com chuvas abaixo da média", reforça.

De acordo com a previsão do centro, mesmo se as chuvas se mantiverem na média ao longo das próximas duas semanas, ainda assim fevereiro fechará abaixo do esperado. Para a pesquisadora, o volume atual do Sistema Cantareira é baixo para a época.

Chuvas em janeiro foram exceção à regra

Para Pedro Luiz Côrtes, professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo), janeiro foi exceção à regra.

"Nós tivemos um janeiro com chuvas acima da média, mas isso não representa uma tendência climática para o restante da estação. As chuvas abaixo da média no final de fevereiro sim representam um padrão, tanto durante o fim da estação chuvosa quanto no outono e inverno", diz.

O especialista também cita o fenômeno La Niña como outra causa para a baixa precipitação no ano de 2022. "Há a perspectiva de que as chuvas abaixo da média continuem no segundo semestre, já que o fenômeno La Niña dá indicações de que deve permanecer pelo menos até o início do segundo semestre", diz o professor.

Poucas chuvas e volume crescente

Apesar do nível de chuvas abaixo do esperado, o volume do Sistema Cantareira continua em alta neste mês. Segundo Côrtes isso é explicado pela "recarga secundária", ou seja, as águas que vem das nascentes, dos cursos d'água que abastecem o manancial, a água infiltrada no subsolo, que vai lentamente caminhando até as represas. Mas a queda do volume, segundo ele, é prevista novamente.

Com essa redução das chuvas, que está começando agora em fevereiro e que vai se manifestar até o final do verão, teremos um determinado momento em que esse volume voltará a cair, fazendo com o sistema chegue a 30% no mês de abril [um volume baixo para o período de estiagem]"
Pedro Luiz Côrtes, professor da USP

Estado de alerta

No começo de fevereiro, o Cantareira estava em estado de alerta, com volume de 34,5% — desde a semana passada, o sistema passou a ter nível acima dos 40%. Caso o reservatório se mantenha nessa patamar, passará ao estado de atenção, conforme estabelecido pela ANA ( Agência Nacional de Águas)

A escala da Sabesp para medir o volume útil dos reservatórios e classificar a gravidade da situação aponta como normal um nível igual ou maior que 60%. Quando o nível fica entre 40% e 60%, o estado é de atenção. Entre 30% e 40%, de alerta. Entre 20% e 30%, o estado é de restrição. Abaixo de 20%, o nível é considerado crítico.

Estados do manancial - Arte/UOL - Arte/UOL
situacao nos reservatorios
Imagem: Arte/UOL

Veja o nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo, segundo a Sabesp

  • Alto Tietê: 56,7% (alta de 0,2 ponto percentual (pp) em relação à semana passada)
  • Guarapiranga: 84,7% (+1,5pp)
  • Cotia: 76,8% (+0,1pp)
  • Rio Grande: 100,2% (+0,1pp)
  • Rio Claro: 48% (-1,2pp)
  • São Lourenço: 83,6 (-5,4pp)