Período de 'muitos extremos': o que esperar da La Niña em 2024
O La Niña deve voltar a acontecer entre o inverno e a primavera do Brasil neste ano.
Segundo avaliação recente da NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica do governo dos EUA, na sigla em inglês), o fenômeno deve surgir após uma transição do El Niño ao longo de 2024.
O que aconteceu:
Segundo previsão da NOAA, os meses de janeiro, fevereiro e março ainda estarão sob os efeitos do El Niño —com as chances previstas em 100%. Já no trimestre de fevereiro a abril, a probabilidade de o fenômeno ainda estar em curso supera os 90%.
O período de transição deve acontecer nos meses de outono, começando no trimestre de março a maio —quando as probabilidades estimadas de ocorrência do El Niño e de neutralidade são parecidas, ao redor de 50%. Já de abril a junho o percentual de neutralidade sobe para a casa dos 70%, enquanto de maio a julho fica próximo dos 60%.
Ainda de acordo com o relatório norte-americano, muito provavelmente a existência do fenômeno La Niña deve ocorrer no segundo semestre de 2024. As porcentagens começam a subir a partir do trimestre de junho a agosto.
A probabilidade de o Pacífico entrar em uma fase fria se aproxima de 60% de julho a setembro. Já de agosto a outubro, a probabilidade ultrapassa a marca.
Período de 'muitos extremos'
Muitas previsões meteorológicas sazonais dependem da previsão correta de fase —e de força— do El Niño e da La Niña. A informação pode ser muito útil para todos, desde agricultores a planejadores urbanos.
Nesse contexto, algumas entidades brasileiras já começaram a projetar o que esperar da La Niña no país. Estael Sias, meteorologista da MetSul, reforça em vídeo da agência no YouTube que esse processo de mudança entre fenômenos "não vira a chave de um dia para o outro ou em poucas semanas."
Essa virada do El Niño para La Niña vai, infelizmente, trazer muitos extremos. Ainda teremos em 2024 esse tema de extremos climáticos, com risco de chuva extrema, vendavais, granizo, possibilidade de massas de ar polar intensas e, quem sabe, algum episódio de neve e geada entre o inverno e a primavera. Mas ainda estamos avaliando, e essa transição vai nos trazer essas informações. [?] Essa guinada vai impactar o planeta e o Brasil, e vai acelerar essas ocorrências de extremos.
Estael Sias, da Metsul
A Climatempo também cita avaliações que sugerem a instalação da fase oposta do El Niño, La Niña, durante o inverno de 2024. "O histórico de dados nos dá respaldo para sustentar essa possibilidade, cada vez mais provável, já que em vários anos anteriores houve alternância entre El Niño forte e La Niña", considera.
O que são El Niño e La Niña?
O El Niño consiste no aquecimento anormal da água do oceano, com a redução da velocidade dos ventos na superfície do Pacífico. Com isso, a área continental próxima ao mar —que corresponde à América do Sul "oposta" ao Brasil— se torna mais quente, gerando evaporação e formação de nuvens de chuva.
No Brasil, isso é sentido no Sul e em parte do Sudeste. Enquanto outras regiões encaram redução da chuva.
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Quero receberEsses mesmos ventos são os responsáveis por empurrar o calor da América do Sul com sentido à Ásia. Nos períodos de normalidade, o Oceano Pacífico é como uma banheira de água fria com um ventilador próximo das torneiras. Ao abrir a torneira de água quente por alguns poucos segundos e ligar o ventilador, a brisa jogará um jato de água quente para o fim da banheira.
Já o La Niña provoca o resfriamento do Pacífico Equatorial. Ao contrário do que acontece no El Niño, em que os ventos sobre o oceano se enfraquecem, nesse caso os ventos ficam mais fortes que o normal.
Os ventos mais fortes que os normais criam o efeito oposto ao do El Niño. Os ventos de superfície, muito úmidos, viajam até áreas mais distantes do Oceano Pacífico. Por isso mesmo, na La Niña, as regiões Norte e Nordeste do Brasil têm mais chuva e o Sul enfrenta estiagem.
As temperaturas aumentam 0,1°C durante os anos de El Niño. Nos anos de La Niña, elas caem no mesmo padrão. Isso porque menos água fria é puxada das profundezas do oceano próximo ao Peru durante o El Niño, deixando mais água quente na superfície.
O El Niño e a La Niña são fenômenos naturais e não podem ser previstos com exatidão —mas estudos indicam que efeitos ficaram mais fortes com o tempo. Os cientistas ainda não entendem completamente suas causas, mas sabem, pelos recifes de corais e pelos anéis das árvores, que eles sempre variaram. Eventos mais fortes do El Niño foram registrados nas últimas poucas décadas, mas não está claro se isso é apenas casual.
*Com reportagem publicada em 28/04/2023
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