Como se fosse LSD: comer esse peixe pode te dar alucinações por até 3 dias
Um peixe nativo do mediterrâneo e da costa africana chama atenção por uma característica inusitada: se consumido pelo humano, ele pode provocar alucinações visuais e auditivas.
A salema (ou Sarpa salpa) é conhecido popularmente como "peixe que faz sonhar" e tem efeitos alucinógenos descritos como semelhantes ao do LSD. As alucinações, no entanto, não são causados pela carne dela, mas sim pelo que elas consomem no fundo do mar.
Por que ele é alucinógeno?
Ele ingere algas dinoflageladas, que possuem neurotoxinas que afetam o sistema nervoso. Ao serem consumidas pelos peixes, essas substâncias aparentemente não os afetam, já que têm proteínas que degradam essas toxinas. No entanto, elas permanecem nos tecidos deles por meio do processo chamado bioacumulação.
Ao ser consumida pelo homem, essas toxinas acabam contaminando o sistema nervoso do homem, processo de biomagnificação. Normalmente essa toxina atua no sistema nervoso periférico, entretanto, em alguns raros casos ela pode causar distúrbios no sistema nervoso central. Resultando em alucinações e pesadelos.
Kleber Mathubara, doutorando do programa de pós em zoologia do IB-USP
No entanto, se um indivíduo tem contato com essa carne, as toxinas podem provocar os efeitos como fraqueza muscular até mesmo alucinações e pesadelos.
Quanto ao tempo de retenção das substâncias tóxicas, estas vão desaparecendo caso o peixe deixe de se alimentar do item que as contém.
Nuno Vasco Rodrigues, especialista em Biodiversidade Marinha e Investigador/Pesquisador do MARE IPLeiria, Portugal
Alucinações podem durar horas ou dias. As toxinas são muito lentamente metabolizadas pelo nosso corpo. Apesar de longa duração, segundo o biólogo português Nunes Vasco Rodrigues, elas não devem ultrapassar a faixa de 2 a 3 dias provocando efeitos.
As toxinas afetam sistema nervoso central. O nome desse fenômeno é ictioaleinotoxismo — uma intoxicação provocada pela ingestão de peixe.
Não é exclusivo da Salema, Sarpa salpa. Várias espécies de peixes da família Kyphosidae (pirangicas) ou Siganidae (peixes-coelho), entre outras, podem provocar o mesmo efeito.
Nuno Vasco Rodrigues, especialista em Biodiversidade Marinha e Investigador/Pesquisador do MARE IPLeiria, Portugal
Pesquisa científica comprovou dois casos de intoxicação em 2006. Um deles ocorreu com um homem de 40 anos, que teve problemas digestivos leves e graves alucinações visuais e auditivas após consumir o peixe em um restaurante. Ele só recuperou a consciência 36 horas depois da refeição, sem conseguir lembrar-se do período alucinatório. O outro, de 90 anos, teve alucinações auditivas por duas horas, seguido de dias com pesadelos. A recuperação total veio após 3 dias. O estudo foi publicado na revista científica "Clinical Toxicology".
Mas nem sempre o consumo da salema provocará efeitos alucinógenos. Tudo dependerá da dieta do peixe. Pode ser que a salema em questão não tenha consumido algas com toxina e, assim, não provocará alucinações ao ser humano. Além disso, eles dependem da alta população de algas dinoflageladas com a toxina.
Alguns estudos que apontam que existe uma temporada em que essas toxinas acumuladas tem maior efeito ou não. Eles ocorrem com maior frequência no outono do hemisfério norte do que outras épocas. Pode ter a ver com a maior concentração de alga ou o próprio metabolismo do peixe.
Kleber Mathubara, doutorando do programa de pós em zoologia do IB-USP
Para evitar os efeitos alucinógenos, é necessário limpar muito bem o peixe. É muito importante que na preparação da carne não exista o contato com órgãos do sistema digestivo.
É necessário evitar romper o fígado ou o intestino, isso acontecer, esse conteúdo estomacal acaba entrando em contato com a carne [que o ser humano irá consumir].
Kleber Mathubara, doutorando do programa de pós em zoologia do IB-USP
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