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Retrospectiva 2012: Segundo ano de Dilma tem recorde de popularidade, apesar de avanços discretos

Com os ex-presidentes Sarney, Lula, FHC e Collor, Dilma fez lançamento histórico da Comissão da Verdade - Ueslei Marcelino/Reuters
Com os ex-presidentes Sarney, Lula, FHC e Collor, Dilma fez lançamento histórico da Comissão da Verdade Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Marina Motomura

Do UOL, em Brasília

14/12/2012 06h00Atualizada em 14/12/2012 11h31

A popularidade do governo Dilma Rousseff e a avaliação pessoal da presidente bateram recordes em 2012, apesar de ser um ano sem grandes lançamentos de programas sociais nem números robustos na economia. Motivo já suficiente para a mineira comemorar a chegada à metade de seu mandato.

Fã de Dilma

  • Ueslei Marcelino/Reuters

    A popularidade da presidente anda tão em alta que ela ganhou uma inusitada fã. Em setembro, Edmeire Celestino da Silva saiu de Campinas (SP) para vir a Brasília e pedir Dilma em casamento. Ela tentou invadir o Palácio do Planalto e depois foi vista rondando o Palácio do Alvorada, residência oficial da presidente.

Segundo a série de pesquisas CNI/Ibope, a aprovação pessoal da presidente (pessoas que acham o jeito de Dilma governar como "ótimo" ou "bom") começou o ano no patamar de 77%, em março, que se manteve ao longo dos meses e avançou a 78% em dezembro, atingindo novo recorde.

Já a avaliação do governo aumentou com o passar do ano: subiu de 56% em março para 59% em junho e para 62% em setembro e dezembro.

“Os índices econômicos vão mal, mas o impacto no dia a dia da população não tem sido afetado”, diz Antonio Botelho, professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro).

“A questão é que o arsenal de medidas está raspando o fundo do tacho”, pondera.

Em agosto, a revista "Forbes" voltou a colocar Dilma entre as mulheres mais poderosas do mundo, na terceira posição, atrás apenas da chanceler alemã, Angela Merkel, e da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton. 

Em novembro, uma pesquisa do Instituto Ibope mostrou que, pela primeira vez, a presidente superou seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em intenções de voto para as eleições presidenciais de 2014. 

Avanços discretos

As questões econômicas dominaram o segundo ano do governo de Dilma na presidência. Medidas como o incentivo à indústria automobilística e a diminuição da tarifa de energia mostram algumas das tentativas do governo para retomar o crescimento econômico.

Na área social, os avanços foram discretos. Em setembro, o Ipea (Instituto de Política Econômica Aplicada ) divulgou que o Brasil atingiu o menor nível de desigualdade social já verificado desde o início das séries históricas, em 1960. Mesmo assim, a desigualdade brasileira está entre as 12 mais altas do mundo.

O maior lançamento do governo ano foi o Brasil Carinhoso, desdobramento do programa Bolsa Família que garante apoio financeiro às famílias de baixa renda com crianças com menos de 15 anos de idade. Segundo o governo, com a ação do programa, haveria redução imediata de 85% da população em extrema pobreza do país neste ano. Houve ainda o programa de tratamento odontológico Brasil Sorridente.

“O Brasil Carinhoso em si é uma reformulação da estratégia do Bolsa Família. O problema desse programa é continuar na lógica de transferências monetárias, o que é extremamente necessário, sem pensar na saída da pobreza, ou seja, programas de requalificação profissional e cidadã para permitir as pessoas se reintegrarem de forma produtiva e autônoma na sociedade”, avalia o professor Marcelo Simas, do Iuperj.

No último balanço do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), programa que projetou a imagem de Dilma como gestora e a catapultou à Presidência, os resultados foram medianos: até setembro de 2012, 38,5% das ações previstas para 2014 estavam concluídas.

Relação com o Congresso

No Congresso Nacional, a presidente viu derrotas importantes de projetos do governo. No primeiro semestre, Dilma viu se arrastar no Congresso a discussão sobre o novo Código Florestal. 

O debate entrou segundo semestre adentro e terminou com derrota do governo pela bancada ruralista, que aprovou o Código Florestal na Câmara em setembro. As ministras Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais) receberam um bilhete de Dilma cobrando as duas sobre a aprovação do Código. A presidente, depois, vetou alguns dos artigos. 

No segundo semestre, ela sofreu nova derrota, desta vez na votação do projeto que altera as regras de distribuição dos royalties do petróleo no país. 

“Fosse qual fosse o presidente, teria dificuldades nestas duas votações, porque elas mobilizam os partidos por outras divisões que não governo-oposição. O interesse rural no primeiro caso e o interesse dos municípios não produtores no segundo não têm nada a ver com a relação com o governo”, opina Marcelo Simas.

Para o professor Antonio Botelho, Dilma aprendeu a melhorar seu relacionamento com o Legislativo. “Foi um ano de aprendizado para ela na relação com o Congresso. Mas ainda não tem os canais de transmissão confiáveis para manter um fluxo de relacionamento mais estável, mais contínuo com o Congresso.”

Medidas simbólicas

Em 2012, Dilma protagonizou medidas que, apesar do pequeno efeito prático, foram carregadas de simbolismo. Entre elas, estão propostas de inclusão das mulheres e negros na sociedade e que aumentam a transparência do governo.

A presidente em abril sancionou lei que obriga às instituições de ensino públicas e privadas a empregar a flexão de gênero para nomear profissão ou grau nos diplomas expedidos - Dilma é um caso, pois, em documentos e comunicados oficiais, é chamada de "presidenta". A partir da lei, o sexo da pessoa diplomada passa a ser considerado na designação de profissão ou grau obtido e o masculino não pode mais servir de generalização.

Em maio, foi instalada a Comissão da Verdade. "Ao instalar a Comissão da Verdade, não nos move o revanchismo, o ódio ou o desejo de reescrever a história de uma forma diferente do que aconteceu", disse a presidente ao discursar sobre o grupo criado para buscar o esclarecimento de crimes e abusos contra direitos humanos cometidos no país entre 1946 e 1988, período que inclui o regime militar (1964-1985).

No lançamento, estiveram presentes os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, em reunião inédita dos ex-mandatários do país. Dilma chegou a se emocionar na cerimônia.

Outro avanço foi a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, também em maio, pela qual todos os cidadãos têm direito à informação sobre órgãos públicos. Foi uma iniciativa do Poder Executivo, mas vale para todos os órgãos públicos dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal).  

Em agosto, veio outra medida de impacto social: a sanção de lei que reserva a metade das vagas nas universidades federais a estudantes de escolas públicas e dá preferência a negros, mulatos e indígenas. "Nosso objetivo é ampliar o acesso às nossas universidades e aos nossos institutos federais para os jovens das escolas públicas, para os negros e para os índios. Essas universidades e institutos estão entre os melhores do país e, muitas vezes, as pessoas vindas das escolas públicas têm dificuldade de ter acesso à universidade pública", disse Dilma.

Trocas na Esplanada e corrupção

Se 2011 foi marcado por uma “faxina”, 2012 teve um ritmo menos intenso de troca de ministros. Mesmo assim, no final do ano, a presidente teve que fazer exonerar assessores ligados à Presidência envolvidos em denúncias de corrupção após a Operação Porto Seguro, da Polícia Federal.

As trocas na Esplanada dos Ministérios, no entanto, foram motivadas mais para acomodar aliados políticos do que por denúncias de improbidade.

No começo do ano, o então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT-SP), deixou o cargo para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2012, para a qual foi eleito. Em seu lugar, assumiu Aloizio Mercadante (PT-SP), até então ministro de Ciência e Tecnologia, pasta que passou a ser comandada por Marco Antonio Raupp.

O ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), deixou o cargo no dia 2 de fevereiro de 2012 em meio a acusações de que membros de sua equipe negociaram com lobistas em um projeto de informática e de que obras ligadas à Copa do Mundo em Cuiabá teriam sofrido ingerência para ficarem mais caras. Aguinaldo Ribeiro (PP) entrou em seu lugar.

Outra troca foi a entrada de Marcelo Crivella (PRB-RJ) no Ministério de Pesca e Agricultura no lugar de Luiz Sérgio de Oliveira (PT-RJ), em fevereiro. 

Em março, o deputado federal Pepe Vargas (PT-RS) assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário no lugar de Afonso Florence (PT-BA). O anúncio foi feito no dia 9 de março de 2012

Em setembro, desgastada, a ministra da Cultura Ana de Hollanda foi substituída pela senadora Marta Suplicy (PT-SP), que, depois da troca, passou a participar da campanha de Haddad pela Prefeitura de São Paulo.

Sem desaforos

Se seu antecessor era marcado pelo estilo popular e pelas declarações folclóricas, a presidente Dilma começou a desenhar um novo estilo político, de maior confrontamento dos adversários. Quando criticada em 2012, Dilma respondeu na mesma moeda.

Em setembro, a presidente rebateu as críticas feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que classificou em artigo de jornal a herança recebida por ela de Lula como “pesada” e resultado de um "estilo bombástico" de governar. Dilma defendeu Lula, chamando-o de "exemplo de estadista".

Dilma considerou que foi "citada de modo incorreto" pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e emitiu nota por considerar "ser necessário recolocar os fatos em seus devidos lugares".

A veia assertiva da presidente pulsou mais durante a campanha eleitoral. Em resposta ao então candidato do PSDB José Serra, ela disse, no palanque de Haddad, que estava “metendo o bico na eleição" paulistana, pois não há como dirigir o Brasil "sem meter o bico em São Paulo".

Serra havia dito que a mandatária "não deveria meter o bico na eleição em São Paulo". "Estou aqui hoje metendo meu bico nesta eleição porque, para o Brasil, São Paulo é, sobretudo, o lugar onde milhares de brasileiros vivem. Não tem como dirigir o Brasil sem meter o bico em São Paulo", afirmou.

Em um segundo comício, rebateu outras acusações: “Disseram que eu era um poste, que eu não tinha competência para governar. Usaram de todos os argumentos contra mim. O mesmo argumento que usam contra o Haddad, usaram contra mim”, alfinetou.

“A presidente tem um estilo assertivo. No ano passado, o governo estava mais acuado por escândalos de corrupção, o que pode ter motivado maior comedimento. Neste ano, ela parece ter tido mais liberdade para responder sobre as questões políticas dentro do seu estilo”, analisa Marcelo Simas.

Nem o atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, escapou de ser endereçado por Dilma. A presidente emitiu nota oficial rebatendo a citação ao nome dela pelo ministro do STF durante a sessão do julgamento do mensalão. Barbosa havia dito que "a presidente Dilma, na condição de testemunha, disse ter ficado surpresa com a rapidez com que foi aprovado na Câmara o marco regulatório do setor energético". A presidente, então ministra da Casa Civil no governo Lula, foi ouvida como testemunha no processo.

“Creio ser necessário alguns esclarecimentos que eliminem qualquer sombra de dúvidas acerca das minhas declarações, dentro dos princípios do absoluto respeito que marcam as relações entre os Poderes Executivo e Judiciário”, respondeu a presidente.