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PT, PSDB e PMDB concentram mais de 60% dos repasses informados pela JBS

Joesley Batista, um dos donos da JBS, em foto de arquivo de 2011 - Ayrton Vignola - 14.mar.2011/Estadão Conteúdo
Joesley Batista, um dos donos da JBS, em foto de arquivo de 2011 Imagem: Ayrton Vignola - 14.mar.2011/Estadão Conteúdo

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

20/05/2017 04h00

Entre 2006 e 2014, a JBS doou dinheiro a 28 partidos, mas apenas três deles concentraram quase dois terços das milionárias doações do período: PT, PSDB e PMDB. Os números estão em uma planilha entregue pela empresa em sua delação premiada.

A tabela entregue pela JBS à PGR (Procuradoria-Geral da República) registra repasses de astronômicos R$ 495 milhões a partidos políticos. Deste valor, 63% ficou com PT, PMDB e PSDB.

O PT recebeu, segundo a JBS, R$ 172,2 milhões e é o partido com maior volume de repasses da empresa. O PSDB vem em seguida, com R$ 79,6 milhões. Em terceiro está o PMDB, com R$ 58,5 milhões.

Além de PT, PSDB e PMDB, a planilha da JBS mostra repasses aos seguintes partidos: DEM, PCdoB, PDT, PEN, PHS, PMN, PP, PPL, PPS, PR, PRB, PROS, PRP, PRTB, PSB, PSC, PSD, PSDC, PSL,PTdoB, PTB, PTC, PTN, PV e SD.

"Nós fizemos doações oficiais de R$ 400 milhões, e mais cerca de R$ 100 milhões em notas fiscais frias", contou Batista, em linha com os R$ 495 milhões da planilha.

A tabela não deixa claro que parte dos valores informados se refere a doações legais --ou seja, informadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)-- e o que seria caixa 2.

Para o dono da JBS, Joesley Batista, aparentemente isso não faz tanta diferença. Em depoimento de delação premiada, ele disse que mesmo as doações oficiais são "propina disfarçada de campanha política".

Delator da JBS descreve partidos que receberam propina

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Repasses explodem em 2014

A evolução da quantidade de dinheiro destinado pela JBS a partidos ajuda a entender o que Ricardo Saud, executivo do grupo J&F --que controla a JBS--, chamou de "reservatório de boa vontade" entre agentes públicos.

Segundo a tabela, a empresa doou R$ 7,9 milhões a oito partidos na eleição presidencial de 2006. Na disputa seguinte, em 2010, o valor saltou para R$ 66,2 milhões, distribuídos por 18 legendas.

Em 2014, os repasses explodiram. Chegaram a R$ 388 milhões, para 28 partidos. A eleição daquele ano concentrou aproximadamente 80% das doações, regulares ou não, relatadas pela JBS.

Segundo levantamento do UOL feito em janeiro de 2015, a JBS informou ao TSE doações de R$ 366,8 milhões em 2014.

Com isso, haveria uma diferença de R$ 21,2 milhões entre o valor informado às autoridades e o descrito na planilha.

Entenda o caso

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo, retirou nesta sexta (19) o sigilo dos documentos das delações de executivos da JBS, que levantam suspeitas sobre diversos nomes de peso da política nacional. O presidente Michel Temer (PMDB) é implicado no caso, e se tornou alvo de investigação aberta com autorização do STF

A base do pedido de abertura do inquérito é a conversa gravada entre Temer e Joesley Batista. O empresário entregou à PGR a gravação do diálogo que teve com Temer, durante um encontro realizado no dia 7 de março no Palácio do Jaburu. Entre as suspeitas relacionadas à conduta de Temer estão a de que ele deu aval para que Joesley continuasse comprando o silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O áudio, porém, não é conclusivo quanto a esse ponto.

Na mesma conversa, Temer ouve Joesley contar que havia colocado um procurador para atuar a favor do grupo J&F nas investigações. O Palácio do Planalto disse que Temer "não acreditou" no que o empresário estava falando.

Joesley também parece ser atendido por Temer ao cobrar um "alinhamento" do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em questões envolvendo órgãos como a Receita Federal, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Cade (Conselho Adminstrativo de Defesa Econômica) e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão que regula o mercado financeiro brasileiro. A Presidência negou que Temer tenha intercedido a favor de Joesley. 

Diante da crise política provocada pela revelação da conversa, Temer veio a público na tarde de quinta (18) dizer que não iria renunciar.

Alguns dos outros políticos citados nas delações como supostos participantes de irregularidades são os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

São delatores Joesley Mendonça Batista e Wesley Mendonça Batista, irmãos e donos da JBS, além de Ricardo Saud, Francisco de Assis e Silva, Florisvaldo Caetano de Oliveira, Valdir Aparecido Boni e Demilton Antônio de Castro.

Ouça na íntegra a conversa entre Temer e Joesley Batista

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