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Temer ataca delator, fala em gravação 'manipulada' e pede suspensão do inquérito no STF

Gustavo Maia e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

20/05/2017 15h00Atualizada em 20/05/2017 20h40

No seu segundo pronunciamento desde a divulgação das primeiras informações sobre a delação premiada de executivos da JBS, o presidente Michel Temer (PMDB) atacou Joesley Batista, um dos donos do grupo empresarial, e anunciou que, ainda neste sábado (20), ingressaria com pedido para suspender o inquérito aberto contra ele no STF (Supremo Tribunal Federal).

A suspensão, segundo Temer, deve ocorrer "até que seja verificada em definitivo a autenticidade" do áudio de conversa entre ele e o empresário. O presidente chamou a gravação de "clandestina", "fraudulenta" e "manipulada".

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Em decisão tornada pública nesta sexta-feira (19), o ministro do STF Edson Fachin autorizou o início de investigação contra Temer. A Procuradoria-Geral da República vai investigar se o presidente praticou os crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.

O áudio gravado pelo dono da JBS contém diálogo entre Temer e Batista no qual ambos falam sobre o deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso e condenado pela Operação Lava Jato, e sobre tentativas de obstrução das investigações por parte do empresário. O diálogo ocorreu dentro do Palácio do Jaburu, residência do presidente, fora da agenda oficial, a partir das 22h32.

"Registro que eu li hoje notícia do jornal 'Folha de São Paulo' de que perícia constatou que houve edição no áudio de minha conversa com o senhor Joesley Batista. Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos. Incluído no inquérito sem a devida e adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil", declarou Temer, no início do discurso.

A interpretação dada pela Procuradoria ao diálogo é a de que Temer concordou com a iniciativa do empresário de comprar o silêncio de Cunha. Em nota, o Palácio do Planalto alegou inocência de Temer. "A acusação não procede e o diálogo do presidente com o empresário Joesley prova isso”.

Marcado para as 14h pela Secretaria de Comunicação da Presidência, o pronunciamento começou com 49 minutos de atraso.

"Falastrão"

Durante sua fala, que durou pouco mais de 12 minutos, o presidente também chamou Joesley de "falastrão", em uma tentativa de desacreditar quem o delatou. "[Ele] prejudicou o Brasil, enganou os brasileiros e, agora, está no Estados Unidos. Quero aqui observar [...] as incoerências entre o áudio e o teor de seu depoimento. Isso compromete a lisura de todo o processo por ele desencadeado", disse.

Temer falou ainda sobre a imunidade concedida ao dono da JBS, que segundo ele "está livre e solto, andando pelas ruas de Nova York". "Ele não passou nenhum dia na cadeia, não foi preso, nem julgado, nem punido e pelo jeito que está não será. Cometeu, digamos assim, o crime perfeito”, afirmou.

Delator cometeu crime perfeito e enganou brasileiros, diz Temer

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O presidente ainda afirmou que Batista "especulou contra a moeda nacional" e que a notícia, publicada pelo jornal "O Globo" na noite de quarta (17), "foi vazada seguramente por gente ligada ao grupo empresarial que, antes de entregar a gravação, comprou um bilhão de dólares, porque sabia que isso provocaria o caos no câmbio".

"Por outro lado, sabendo que a divulgação da gravação também reduziria o valor das ações de sua empresa, as vendeu antes da queda da Bolsa [de Valores]. Não são palavras minhas apenas. Esses fatos já estão endo apurados pela Comissão de Valores Mobiliários. A JBS lucrou milhões e milhões de dólares em menos de 24 horas", declarou Temer.

Segundo o presidente, o seu governo está "acabando com os velhos tempos das facilidades aos oportunistas". "E isso, meus amigos, incomoda muito. Há quem queira me tirar do governo para voltar aos tempos em que faziam tudo o que queriam com o dinheiro público e não prestavam contas a ninguém. Quebraram o Brasil e ficaram ricos".

Falando a conversa tida no Palácio do Jaburu, disse que "o autor do grampo" relatou suas dificuldades e que ele "simplesmente" as ouviu. "Nada fiz para que ele obtivesse benesses do governo. Não há crime, meus amigos, em ouvir reclamações e me livrar do interlocutor, indicando outra pessoa para ouvir as suas lamúrias", afirmou.

Temer ainda justificou a frase "tem que manter isso, viu?", dita depois que Joesley afirma estar "de bem com o Eduardo [Cunha].

"A conexão de uma sentença a outra não é a conexão de quem diz: olhe, eu estou comprando o silêncio de um ex-deputado e estou dando tanto a ele. Não. A conexão é com a frase: eu me dou muito bem com o ex-deputado, mantenho uma boa relação. E eu digo: mantenha isso, viu? Enfatizo muito o 'viu'", afirma Temer.

Acerca das declarações de Joesley sobre como ele colocou um procurador para atuar em favor do grupo JBS junto às investigações e que teria "segurado" juízes, o presidente disse não ter acreditado "na narrativa do empresário".

"Ele é um conhecido falastrão exagerado. Aliás, depois, em depoimento, podem conferir, disse que havia inventado essa história, que não era verdadeira. Ou seja, era fanfarronice que ele utilizava naquele momento".

Inquérito

O deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) também são alvo da investigação, aberta a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), com base na delação de Joesley.

O empresário relatou que foram pagos, a pedido de Temer, valores milionários, entre 2010 e 2017, para garantir vantagens indevidas. Montantes que teriam incluído, por exemplo, R$ 3 milhões em propina na eleição de 2010, quando Temer foi candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff (PT), foram pagos em parte por meio de doação oficial e em outra parte por meio de caixa dois, segundo o delator.

Na quinta, em seu primeiro pronunciamento, Temer já havia negado qualquer conduta ilegal e dito enfaticamente que não renunciará à Presidência. Neste sábado, ele encerrou seu discurso dizendo que "o Brasil não sairá dos trilhos" e que ele vai continuar "à frente do governo".

Desde a noite de quarta, nove pedidos de impeachment já foram protocolados contra Temer na Câmara dos Deputados. Partidos aliados ameaçam deixar o governo.

Neste sábado, o PSB anunciou rompimento oficial com o governo federal e "sugeriu" a renúncia do peemedebista "o mais rápido possível". O partido tem a sexta maior bancada do Congresso Nacional, com sete senadores e 35 deputados, além do ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho (PSB-PE).

Antes, o Podemos (ex-PTN) e o PPS já haviam anunciado o rompimento com o Planalto. Na quinta, o agora ex-ministro da Cultura, Roberto Freire (PPS-SP) se demitiu por conta da repercussão das revelações, mas voltou atrás e prometeu apoio a Temer no dia seguinte. O PSDB, um dos principais partidos da base, estuda se vai desembarcar do governo.