Moradores registram BOs e querem retirada de acampamento ou transferência de Lula
Pelo menos 12 boletins de ocorrência relatando “perturbação do sossego” e ameaça foram registrados até esta segunda-feira (16) no 4º DP (Distrito Policial) de Curitiba por moradores da região próxima à sede da Superintendência da PF (Polícia Federal), no bairro Santa Cândida, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está preso.
Nesta manhã, moradores também foram à Câmara dos Vereadores para pedir ajuda aos parlamentares. Eles querem a saída do acampamento do local ou que Lula seja transferido.
Na semana passada, a Prefeitura de Curitiba e o Sindicato dos Delegados da Polícia Federal no Paraná já tinham pedido a transferência de Lula. Mas não houve uma decisão até o momento. Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", o diretor do Depen [Departamento Penitenciário do Paraná] disse que está pronto para receber o ex-presidente.
O vereador Felipe Braga Côrtes (PSD-PR), que recebeu os moradores na Câmara nesta manhã, disse que irá encaminhar as reclamações para a juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara Federal, responsável pelas decisões sobre a custódia de Lula.
Na sexta-feira (13), a Justiça do Paraná fixou uma multa diária de R$ 500 mil para os manifestantes que ocuparem o entorno da sede da Superintendência da PF.
Desde a prisão de Lula, no sábado (7), militantes favoráveis ao petista ocupam parte das ruas Doutor Barreto Coutinho e Guilherme Matter, a cerca de 100 metros do local.
O acampamento estima contar com mil ocupantes fixos por dia, tendo uma passagem diária de duas mil pessoas. Nele, os apoiadores do ex-presidente Lula se encontram em barracas, montadas na rua ou em frente às casas das pessoas.
“A gente perdeu a paz. Aqui é um bairro residencial, nunca aconteceu isso com a gente. Muitos moradores são idosos”, disse uma moradora que pede para não ser identificada.
Segundo ela, enquanto o ex-presidente estiver lá, os manifestantes “não vão arredar pé”. “O que solucionaria seria a retirada dele [Lula] daqui. Para nós seria bom, porque eles [manifestantes] iriam atrás”, afirmou.
Ela diz que não teve nenhum “atrito pessoal” com os manifestantes, mas que se sente incomodada com o barulho “ensurdecedor” e com a “insegurança” na hora de sair e de chegar na própria casa.
“Quando começam com o batuque deles, a gente não consegue conversar sem gritar dentro de casa”, disse.
Além disso, segundo ela, quem é morador deve se identificar tanto para agentes da PF como para membros do acampamento para poder passar por cordões de isolamento no local.
“O que eu noto é que somos vigiados 24 horas. Eles sabem quem entra, quem sai”, diz. “É muito estressante isso. Você perde a liberdade dentro de casa”, afirmou.
No acampamento, o momento de mais barulho ao longo do dia é no período da manhã, quando os acampados dão bom dia ao ex-presidente Lula, normalmente com instrumentos musicais, além da presença de lideranças de grupos de apoiadores e parlamentares.
Além do barulho, outra moradora ouvida pelo UOL e que também pede para não ser identificada reclama de mau cheiro e da ocupação do seu jardim quando ela “nem estava em casa”.
“A gente não tem liberdade para nada. Você não pode sair ali fora que ficam te olhando”, reclamou.
A moradora afirmou que a sede da PF "não é o lugar" para Lula ou outros presos da Lava Jato ficarem detidos. “Já que ele [Lula] é um condenado, tem que estar em um presídio”, disse.
Nove banheiros químicos estão instalados no acampamento, que também tem uma equipe de limpeza. Existem ainda cozinhas espalhadas, onde os militantes preparam o próprio almoço com doações.
Segundo a comunicação do Acampamento Lula Livre, o local está tendo um bom diálogo com a população, com a adesão e apoio de muitos moradores das proximidades, embora as lideranças compreendam os transtornos causados à região.
Além disso, o acampamento informa que tem respeitado os horários de silêncio, das 22 às 7 horas, e que considera sua luta legítima, dentro de um estado de direito no qual é possível se manifestar.
Uma das apoiadoras é a morada Rosa de Fátima Trento, que vive a duas quadras da concentração. Em sua residência, as pessoas do acampamento podem tomar banho e encontram um local de refúgio.
“A manifestação está muito bem organizada. Eles não atrapalham em nada o nosso convívio e não impedem o nosso direito de ir e vir, sempre com muito respeito e educação”, opina.
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