Anônimo quis depositar R$ 20 mi dias após PF pedir inquérito sobre Temer
Uma pessoa de identidade ainda desconhecida tentou fazer um depósito de R$ 20 milhões em dinheiro vivo na conta da Argeplan, empresa do policial militar reformado João Baptista Lima Filho, chamado de coronel Lima e amigo do ex-presidente Michel Temer (MDB), seis dias depois de a PF (Polícia Federal) pedir a abertura de um inquérito contra o político sobre o pagamento de propina nas obras da usina nuclear de Angra 3.
Temer e Lima foram presos preventivamente na quinta-feira (21) pela força-tarefa da Operação Lava Jato justamente dentro do caso que apura irregularidades na contratação indireta da Argeplan pela Eletronuclear para fazer as obras da usina.
No dia 17 de outubro de 2018, o delegado Cleyber Malta pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de uma investigação com base na delação premiada de José Antunes Sobrinho, ex-presidente da construtora Engevix, que afirma ter pagado propina de R$ 1,1 milhão em 2014 para o coronel Lima --suposto intermediário de Temer no esquema.
A tentativa de depósito ocorreu no dia 23 de outubro, em uma agência do banco Santander na avenida Heitor Penteado, em São Paulo, a 400 metros da Argeplan.
Depósito superaria faturamento
As informações sobre os R$ 20 milhões constam de um relatório de inteligência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) citado no pedido de prisão de Temer, Lima e mais oito pessoas feito pela força-tarefa da Lava Jato no MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro).
Segundo o relatório, o faturamento informado da Argeplan é de R$ 10 milhões --metade do valor que ela receberia, em dinheiro vivo, em um só depósito.
"Um dos sócios da empresa é João Baptista Lima Filho, também conhecido como Coronel Lima, apontado como amigo do presidente Michel Temer. É de conhecimento público que este sócio é acusado de ser suposto intermediador no recebimento de recursos de origem duvidosa", diz o documento do Coaf.
O relatório também informa que o depósito foi recusado na agência depois de pedido de comprovação da origem dos valores ao portador dos R$ 20 milhões. "O portador, que não se identificou, se retirou da agência e não obteve êxito na realização do depósito", diz o documento.
Na hipótese de os R$ 20 milhões estarem distribuídos apenas em notas de R$ 100, eles ocupariam um volume superior ao de duas malas padrão de 23 kg (80 cm x 28 cm x 50 cm), que costuma ser usada como limite para bagagens despachadas em companhias aéreas.
Conduta "ousada"
A tentativa de depósito foi um dos motivos citados pelo MPF-RJ para pedir a prisão preventiva do coronel Lima, que foi decretada pelo juiz federal Marcelo Bretas. Segundo os procuradores, "a 'ousadia' da conduta ainda demanda aprofundamento quanto aos detalhes do ocorrido, mas é um indicativo de que a organização criminosa está ativa e muito robustecida financeiramente".
Coronel Lima só se tornou sócio da Argeplan em 2011, segundo a ficha cadastral da Argeplan na Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo). O outro dono da companhia é Carlos Alberto Costa, que também foi preso na quinta-feira. O MPF-RJ afirma que Costa é um "laranja" do coronel Lima desde a década de 1980.
O UOL perguntou à Polícia Federal no Rio se investiga quem era o portador do dinheiro e a origem e o paradeiro do valor, mas não teve resposta até a noite de ontem.
Procurada para comentar a tentativa de depósito, a defesa do coronel Lima não havia retornado o contato da reportagem até a noite de sexta. O UOL não conseguiu encontrar a defesa de Carlos Alberto Costa.
A reportagem também questionou o banco Santander sobre a tentativa de depósito, a identidade do portador e o eventual registro de imagens desta pessoa, mas a empresa não quis comentar.
O Coaf informou que não se manifesta sobre casos específicos. Desde 2017, o Banco Central exige que os bancos comuniquem ao Coaf saques e depósitos em espécie acima de R$ 50 mil.
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