Ato pró-Bolsonaro no DF tem "Privileco", "Super Moro" e lagosta do STF
"Deixem o mito trabalhar". A frase exposta em faixa carregada por um manifestante bolsonarista em Brasília resume o principal objetivo da manifestação realizada na manhã de hoje em vários outros locais pelo país: pressionar o Congresso e o Judiciário a aprovar as reformas defendidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL).
Durante o ato na capital federal, uma das atrações foi a dupla de bonecos infláveis: o "Privileco", versão do famoso "Pixuleco" para criticar os privilégios de políticos e do Judiciário; e o "Super Moro", uma versão ficcional do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, caracterizada como o personagem Super Homem.
Na empreitada contra o Judiciário, o grande alvo dos manifestantes foi o STF (Supremo Tribunal Federal). Houve, inclusive, citação ao episódio da "lagosta" --em referência ao polêmico edital lançado pela Corte para compra de refeições com lagosta e vinhos com premiação internacional.
A menção ocorreu quando uma ativista pediu, do carro de som, para que os presentes se oferecessem para vestir fantasia de lagosta.
A maioria do público vestia roupas nas cores da bandeira brasileira, verde e amarelo. Muitas faixas e cartazes foram confeccionados especialmente para a manifestação. O empresário Gleisson Braz, por exemplo, pagou R$ 120 para encomendar uma bandeira com vários dizeres, do apoio à reforma da Previdência até a CPI da Lava Toga no Senado. Devido ao tamanho da faixa, sua filha precisou ajudar a carregá-la pela Esplanada dos Ministérios.
Para Gleisson, a principal pauta dos atos pró-Bolsonaro é a luta pela reforma da previdência, que, segundo ele, vai "mudar o país para a melhor". Inclusive, a proposta do governo elaborada pelo Ministério da Economia, se aprovada, garantiria o futuro de sua filha que ajudava a carregar a faixa no protesto, de acordo com o próprio.
"O STF e o Congresso precisam entender que nós elegemos o Bolsonaro e não queremos medidas contra o povo e a opinião pública", declarou. "É importantíssimo cada um fazer a sua parte. Infelizmente, o povo brasileiro ainda tem a cultura de preferir esperar em casa as coisas acontecerem", comentou quando questionado sobre a participação da filha.
O médico Armando José preparou uma faixa de exaltação ao ideólogo Olavo de Carvalho, pivô de polêmicas com o núcleo militar do governo. Ele disse ser aluno e admirador do pensador de direita há 30 anos e descreveu como "o exército de um homem só". "Sozinho, ele varreu o PT do país. Foi o exército de um homem só", declarou.
Gaúcho de Caxias do Sul, Armando disse ter viajado a Brasília somente para a manifestação deste domingo. Na visão dele, o governo tem sido atrapalhado por notícias falsas, as supostas "fake news", sobretudo nos episódios que envolvem Olavo e os militares.
Armando declarou que o ideólogo é um "homem livre como qualquer outro" e tem o direito de expor suas opiniões, ainda que isso se dê pó meio de xingamentos e ataques pessoais. "Na época em que ele dava opinião sobre o PT e chamava a esquerda de 'bosta', não existia esse alvoroço."
O ato também teve reivindicações de setores como os auditores fiscais da Receita. Algumas pessoas que disseram ter sido pagas exibiam faixas ao longo da Esplanada com críticas ao Congresso pela tentativa de limitar os poderes dos auditores fiscais na investigação de crimes tributários. O assunto acabou não prosperando na Câmara durante a votação da medida provisória de reestruturação ministerial e organização básica do governo Bolsonaro.
O protesto começou com concentração na altura da Biblioteca Nacional e seguiu pela Esplanada dos Ministérios até o gramado em frente ao Congresso. Não houve registro de confusão, segundo policiais que acompanhavam a movimentação à distância. Ao fim do ato, houve um agradecimento à PM, e homens fardados foram aplaudidos quando passaram pelo grupo que se aglomerava próximo ao carro de som.
Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública, ao menos 20 mil pessoas participaram da mobilização. Já a coordenadora da ONM (Organização Nacional dos Movimentos), Lúcia Otoni, estimou que mais de 50 mil pessoas compareceram.
Estreia do Privileco
Movimentos de direita que colaboraram com a organização do evento lançaram hoje o "Privileco", uma versão do "Pixuleco" para criticar o Judiciário, o Parlamento e os privilégios concedidos a autoridades.
O Pixuleco ganhou fama na onda de protestos em favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. O boneco inflável caracteriza o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com roupa de presidiário. Lula está preso em Curitiba, onde cumpre pena imposta em processos da Operação Lava Jato.
O ativista André Lui, que é assessor parlamentar da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), declarou que o Privileco também surgiu para simbolizar a crítica aos "entraves" supostamente criados no Congresso e no STF para "atrapalhar" o governo Bolsonaro.
Autor intelectual do boneco inflável e criador do Pixuleco, Paulo Gusmão relatou ao UOL que o projeto se baseia na ideia do "lobo em pele de cordeiro", expressão que simbolizaria políticos e membros do Judiciário que fazem lobby contra as reformas de Bolsonaro.
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