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Em negociação por apoio, Crivella reúne governo para receber Bolsonaro

20.jan.2020 - O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e o presidente Jair Bolsonaro durante reunião no Palácio da Cidade - Reprodução/Twitter/Palácio do Planalto
20.jan.2020 - O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, e o presidente Jair Bolsonaro durante reunião no Palácio da Cidade Imagem: Reprodução/Twitter/Palácio do Planalto

Igor Mello

Do UOL, no Rio

20/01/2020 11h04Atualizada em 20/01/2020 15h59

Resumo da notícia

  • A recepção reuniu secretários de Crivella, políticos e lideranças evangélicas
  • O chefe da Secom da Presidência da República, Fábio Wajngarten, também compareceu
  • De olho em apoio para reeleição, Crivella disse que não tratou de política no encontro
  • Bolsonaro também se encontrou com Regina Duarte, que irá a Brasília na quarta (22)

Em meio a uma disputa pelo apoio do governo federal na eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) organizou hoje um grande evento para receber o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Estiveram presentes quase todos os secretários de Crivella, além de políticos e lideranças evangélicas, como o missionário RR Soares, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus.

Outra autoridade que compareceu foi o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República), Fábio Wajngarten, envolvido em denúncias de conflito de interesses. O encontro no Palácio da Cidade, residência oficial do prefeito do Rio, na zona sul carioca, que originalmente ocuparia apenas 15 minutos da agenda presidencial, durou cerca de 1h30.

O presidente deixou o local às 11h45 sem falar com a imprensa. Antes da chegada de Bolsonaro —por volta das 10h—, era intenso o movimento de convidados. Além do secretariado, Crivella mobilizou alunos da rede municipal de educação, que fazem parte da Orquestra Sinfônica Juvenil Carioca, para recepcionar Bolsonaro. Em meio a temas de música clássica, os alunos interpretaram o louvor cristão "Aleluia, porque a luta continua", composto e gravado pelo prefeito do Rio.

Bolsonaro, que em seguida encontrou o comandante da Marinha, almirante de esquadra Ilques Barbosa Junior, também se reuniu com Regina Duarte, convidada para ocupar a Secretaria da Cultura após a demissão de Roberto Alvim.

A reunião com a atriz se deu no aeroporto Santos Dumont, na região central do Rio. Após o encontro, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou nota: "Após conversa produtiva com o presidente Jair Bolsonaro, Regina Duarte estará em Brasília na próxima quarta-feira, 22, para conhecer a Secretaria Nacional de Cultura do governo federal. 'Estamos noivando', disse a artista após o encontro ocorrido nesta tarde no Rio de Janeiro".

Crivella nega ter discutido apoio eleitoral

Após o encontro, o prefeito definiu a ida de Bolsonaro como "uma visita de cortesia" à cidade. Crivella disse ter levado ao presidente demandas nas áreas financeira, de saúde e de infraestrutura do município. Porém, negou ter tratado do apoio à sua candidatura:

"Não falamos de política, nada disso. Tratamos de interesses do povo", argumentou.

Crivella disse que a presença de lideranças evangélicas reflete a "afinidade com os princípios e valores" de Bolsonaro.

"O presidente tem nos evangélicos um apoio forte. Todos oram pelo presidente", disse. "Os pastores vieram aqui, de todas as denominações. Tiraram foto com o presidente e fizeram uma oração."

Aproximação com Crivella

O evento com lideranças evangélicas ocorre em um contexto de desgaste do governo com esse setor, que representou um importante apoio para a eleição de Bolsonaro. Na semana passada, o presidente desistiu de isentar templos religiosos do pagamento por energia elétrica, pleito da bancada evangélica.

Também provocou críticas o discurso do então secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, que citou uma declaração do nazista Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler. O discurso provocou grande indignação na comunidade judaica e no meio evangélico — que mantém forte identificação com Israel. Após as críticas, Bolsonaro demitiu Alvim

Na última terça-feira, Crivella — que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e sobrinho de seu fundador, Edir Macedo — esteve no Palácio do Planalto, em Brasília, mas recusou-se a revelar o que fazia no local, onde despacham o presidente da República e os principais ministros do governo. Dois dias depois, na quinta, Bolsonaro afirmou que o prefeito foi ao Planalto "falar dos problemas do Rio" e reforçou o discurso de que o aliado tem sido perseguido pelo Grupo Globo.

"Ele diz lá que a Globo, por exemplo, o tempo todo diz que a saúde não funcionava no Rio. Ele comprovou que funcionava, com atendimentos", afirmou o presidente.

Crivella vem cortejando o apoio de Bolsonaro à sua tentativa de reeleição — além dele, outros pré-candidatos do campo conservador, como o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) e o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ) também tentam se colocar como candidatos do clã presidencial no Rio.

Nos últimos meses, a aproximação fez com que Crivella mudasse sua estratégia de comunicação, emulando a postura de confrontação à imprensa. Durante a crise causada pelo atraso de pagamentos de terceirizados na saúde —que paralisou parte da rede municipal— o prefeito do Rio alegou estar sendo alvo de uma campanha por parte da mídia. Ele chegou a proibir a entrada de profissionais do Grupo Globo em eventos organizados pela prefeitura, após o jornal O Globo noticiar uma investigação do MP sobre um esquema de pagamento de propina em seu governo.

Procurando colar sua imagem à da família Bolsonaro, Crivella foi um dos poucos políticos a publicamente prestar solidariedade ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), após o MP-RJ realizar uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão no âmbito do caso Queiroz. Entre os alvos, estava a loja de chocolates de Flávio em um shopping da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Crivella gravou um vídeo em desagravo ao filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro.

"Presto minha solidariedade ao senador Flávio Bolsonaro, pela grande perseguição que vem enfrentando. Quando não somos coniventes com a corrupção, é isso o que acontece: somos atacados. Mas a verdade sempre vai prevalecer. Não vão derrubar os que foram, democraticamente, eleitos", afirmou, procurando associar sua situação à de Flávio.