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PF faz operação contra desvios no RJ; agentes vão à residência de Witzel

Nathan Lopes e Caio Blois

Do UOL, em São Paulo e no Rio

26/05/2020 07h39Atualizada em 26/05/2020 13h04

A PF (Polícia Federal) cumpre mandados de busca e apreensão no Palácio das Laranjeiras, a residência oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), e no escritório de advocacia onde atua a mulher dele. Também há ordens judiciais cumpridas em um imóvel no bairro do Grajaú, na zona norte do Rio, que seria a residência pessoal de Witzel.

A operação, nomeada Placebo, investiga indícios de desvios de recursos públicos enquanto vigora o estado de emergência de saúde pública em decorrência do novo coronavírus. Witzel é alvo das investigações. A operação foi pedida pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) autorizou 12 mandados de busca e apreensão. Desses, dez são cumpridos no Rio de Janeiro e dois, em São Paulo. De acordo com o STJ, o processo corre em segredo de Justiça. O despacho autorizando a operação é do ministro Benedito Gonçalves.

Em nota, Witzel disse não haver "absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas". Sem citar nomes, o governador apontou vazamento da operação por deputados bolsonaristas e disse que isso oficializa interferência do presidente Jair Bolsonaro.

"Estou à disposição da Justiça, meus sigilos abertos e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos. Sigo em alinhamento com a Justiça para que se apure rapidamente os fatos. Não abandonarei meus princípios e muito menos o Estado do Rio de Janeiro."

A Polícia Federal ficou cerca de 2h30 na antiga residência do governador, no Grajaú, e saiu por volta das 10h30 levando documentos e sacolas. O delegado responsável precisou chamar um chaveiro para abrir um cofre. A ação contou com oito agentes da PF, apoiados por 20 PMs, que fecharam a via. Agentes e advogados preferiram não dar declarações aos jornalistas.

Esquema em hospitais de campanha

Segundo a PF, investigações apontam para a existência de um esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do estado do Rio de Janeiro.

A Iabas, gestora de hospitais de campanha, foi um dos alvos da operação de hoje. Agentes da PF foram a um escritório da empresa na capital paulista. Procurada, ela ainda não se manifestou sobre a ação.

A suspeita é de que a gestora fraudou documentos e superfaturou o valor dos insumos. O esquema também teria usado empresas de fachada. "A ação teria a participação de agentes públicos, incluindo gestores da Secretaria Estadual de Saúde, responsáveis pelo processo de compra", diz a Procuradoria.

A operação busca "recolher documentos e outros materiais que possam reforçar o contexto probatório da investigação". Os crimes investigados são peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

"A previsão orçamentária do estado era gastar R$ 835 milhões com os hospitais de campanha em um período de até seis meses. A suspeita é que parte desse valor teria como destino os próprios envolvidos", diz a Procuradoria.

Reportagem do UOL mostrou na semana passada que a Iabas já recebeu ao menos R$ 256,5 milhões pela implantação e gestão de hospitais de campanha.

O governo fluminense não entregou todos os hospitais de campanha prometidos. A Justiça chegou a abrir prazo para que todos os leitos livres dos hospitais de campanha sejam colocados em operação para atendimento imediato de pacientes da covid-19. Witzel prometeu entregar os hospitais após a ação judicial.

As investigações têm como base provas obtidas pela Polícia Civil, Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal. Esses elementos foram compartilhados com a PGR porque haveria citação a Wilson Witzel.

Há cerca de duas semanas, a Iabas foi alvo da Operação Favorito. Ela é suspeita de ter corrompido agentes públicos para desviar recursos através do contrato emergencial. Segundo o MPF, um esquema de corrupção na área da saúde iniciado na gestão do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) continuou na administração de Witzel.

Na ocasião, foi preso o empresário Mário Peixoto, prestador de serviço do governo, sob suspeita de ter montado um intrincado esquema de corrupção na saúde do Rio, assim como em outros órgãos, em vigor desde 2012.

Por meio de nota, a direção da Iabas informou que forneceu às autoridades todas as informações e documentos solicitados e está à disposição para quaisquer novos esclarecimentos.

Carla Zambelli falou sobre operações um dia antes

Ontem, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), aliada de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), disse que alguns governadores estão sendo investigados pela PF e que operações iriam ocorrer.

Questionado sobre a operação hoje, Bolsonaro disse: "Parabéns à Polícia Federal. Fiquei sabendo agora pela mídia. Parabéns à Polícia Federal, está ok?"

Para Witzel, a operação de hoje mostra que "a interferência anunciada pelo presidente da República está devidamente oficializada".

"Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará."

(Com Reuters)

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