Foi uma 'prisão espetaculosa' e Queiroz não estava foragido, diz Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acusou autoridades de terem feito uma "prisão espetaculosa" de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
"Não havia nenhum mandado de prisão contra ele [Queiroz]. Foi feita uma prisão espetaculosa. Pareciam que estavam prendendo o maior bandido da face da Terra", reclamou Bolsonaro, durante transmissão de live realizada pelas redes sociais, na noite de hoje. (Assista ao vídeo abaixo)
"Ele não estava foragido e não tinha mandado expedido contra ele. Se tivessem pedido ao advogado, creio eu, o comparecimento dele a qualquer local, ele teria comparecido."
Fabrício Queiroz foi preso, na manhã de hoje, em Atibaia (SP), em um imóvel de Frederick Wassef, advogado do presidente da República. Ele estava lá hospedado há um ano, segundo o delegado responsável pela ação, enquanto a família Bolsonaro afirmava não saber seu paradeiro.
"Por que ele estava naquela região de São Paulo? Porque é perto do hospital onde ele faz tratamento de câncer. Da minha parte, está encerrado o caso Queiroz", justificou Bolsonaro.
Minutos depois, Bolsonaro declarou ainda: "Fui avisado de manhã pelo meu sistema de inteligência particular, amigos que eu tenho pelo Brasil todo, e que trocam informações comigo, em especial o que interessa ao nosso Brasil".
Queiroz é o grande calcanhar de Aquiles da família Bolsonaro, acusado de ser o responsável por gerenciar as "rachadinhas" dos salários de servidores de seus gabinetes e de ser uma de suas conexões com milicianos e com o Escritório do Crime, no Rio.
O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificou "movimentações atípicas" na conta do ex-assessor, no total de R$ 1,2 milhão. Queiroz deixou o gabinete de Flávio Bolsonaro em outubro de 2018
Para completar, a ação do Ministério Público do Rio de Janeiro que contou com o apoio do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Civil também cumpriu mandado de busca e apreensão em um imóvel que era ocupado por uma assessora de Flávio Bolsonaro. O local, em Bento Ribeiro, Zona Norte do Rio, fica na mesma rua de um imóvel de Jair Bolsonaro que já foi escritório político e comitê eleitoral.
A prisão de Queiroz
Queiroz foi localizado e preso em um imóvel que pertence a Frederick Wassef, que ontem esteve na posse do novo ministro das Comunicações, Fabio Faria (PSD), cerimônia que também contou com a presença do presidente.
A prisão de Queiroz é preventiva, ou seja, sem prazo para acabar. No local, policiais também apreenderam objetos como celulares, cartão de crédito e notas de reais.
A mulher de Fabrício Queiroz também teve prisão autorizada, mas não foi localizada até o momento.
Queiroz estava em Atibaia há um ano, diz a polícia
O delegado da Polícia Civil de São Paulo Osvaldo Nico Gonçalves, que participou da operação, disse que o caseiro do imóvel em Atibaia afirmou que Queiroz estava no local há cerca de um ano. Porém, a informação foi rebatida pelo próprio caseiro, que, em entrevista à CNN Brasil, negou que o ex-assessor estivesse morando ali há muito tempo.
"Tem pouco dias que está aí, quatro dias que veio ver um negócio de saúde. O rapaz aqui estava em tratamento de saúde, estava ficando aqui para se tratar de saúde, estava com câncer, essas coisas, câncer de próstata", disse o caseiro.
De acordo com o delegado, Queiroz estava sozinho na casa quando os policiais chegaram.
"A reação dele [Queiroz] foi tranquila, não esboçou reação. Só falou que estava um pouco doente", declarou o delegado.
A operação, batizada de Anjo, cumpre ainda outras medidas autorizadas pela Justiça relacionadas ao inquérito que investiga suposto esquema de "rachadinha", em que servidores da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) devolveriam parte de seus salários ao então deputado Flávio Bolsonaro, que exerceu mandato de 2003 a 2019.
Quem é Fabrício Queiroz
Queiroz já foi policial militar e é amigo do presidente Bolsonaro desde 1984. Reformado na PM, ele trabalhou como motorista e assessor de Flávio, então deputado estadual pelo Rio.
Queiroz passou a ser investigado em 2018 após um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicar "movimentação financeira atípica" em sua conta bancária, no valor de R$ 1,2 milhão, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Ele foi demitido por Flávio pouco antes de o escândalo vir à tona.
O último salário de Queiroz na Alerj foi de R$ 8.517, e ele teria recebido transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio. As movimentações atípicas levaram à abertura de uma investigação pelo MP (Ministério Público) do Rio.
Uma das transações envolve um cheque de R$ 24 mil depositado na conta da hoje primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente, na época, se limitou a dizer que o dinheiro era para ele, e não para a primeira-dama, e que se tratava da devolução de um empréstimo de R$ 40 mil que fizera a Queiroz. Alegou não ter documentos para provar o suposto favor.
Em entrevista ao SBT em 2019, Queiroz negou ser um "laranja" de Flávio. Segundo ele, parte da movimentação atípica de dinheiro vinha de negócios com a compra e venda de automóveis.
"Sou um cara de negócios, eu faço dinheiro... Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim", afirmou na ocasião.
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