Traições, erros e acordos levam a vitória dupla de Bolsonaro no Congresso
O resultado das eleições para as Presidências da Câmara e do Senado foram uma dupla vitória para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Coube ao DEM, na Câmara, e ao MDB, no Senado —- partidos que atuavam com certa independência em relação ao governo - colocarem a pá de cal nos adversários dos candidatos aliados ao Planalto, o deputado Arthur Lira (PP-AL) e o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Lira e Pacheco derrotaram as forças que, se não se opunham abertamente ao governo, ao menos retiravam garantias de tranquilidade a Bolsonaro. Nominalmente, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
A vitória de Bolsonaro é importante. Primeiro, ele ganha fôlego contra o impeachment, numa aliança que fortalece o Centrão. Em segundo lugar, o presidente ensaia uma parceria com os políticos tradicionais —- de quem sempre foi parceiro nos tempos de Congresso —- para fazer uma campanha eleitoral conjunta em 2022.
Com um olhar para as próximas eleições, Rodrigo Maia (DEM-RJ) tentou derrotar Bolsonaro hoje. "Parte desse bloco pode estar junto em 2022", afirmou ele em dezembro. A diferença é que não conseguiu.
Os motivos da vitória de Bolsonaro, e de Lira, na Câmara
Na Câmara, a batalha foi a mais difícil. Eleito com o apoio de Bolsonaro em 2019, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tornou-se um inimigo do presidente. Entre as muitas medidas que irritaram os bolsonaristas, um interlocutor diário do presidente lembrou ao UOL que Maia se colocava como comentarista de todos os assuntos do país.
E isso acontecia inclusive quando o silêncio do presidente da República era constrangedor — como na vitória do democrata Joe Biden na corrida presidencial dos EUA, em novembro.
Por isso, o Palácio Planalto embarcou na candidatura de Lira, para derrotar Maia, um dos maiores inimigos no Congresso. Ter um aliado na Câmara significa, entre outras questões, reduzir o risco de os mais de 60 pedidos de impeachment contra Bolsonaro avançarem.
Maia tentou viabilizar um novo mandato para si. Enquanto isso, Arthur Lira costurava sua candidatura. Mas, sem o respaldo do STF (Supremo Tribunal Federal) para a empreitada, Maia partiu para construir às pressas um bloco de 11 partidos. Incluiu até a oposição, e lançou Baleia Rossi.
Mas as traições no bloco começaram a surgir aqui e ali entre os vários partidos do bloco logo em dezembro.
No PSDB, o grupo de Aécio Neves (MG), pressionou pela saída do bloco. O governador de São Paulo, João Doria (SP), impediu a debandada. Mas o movimento incentivou novas traições.
Dentro do PT, sempre houve simpatias por Lira, com o apoio do ex-ministro José Dirceu. No dia da votação, uma integrante do partido, Marília Arraes (PE), lançou-se a uma vaga na Mesa Diretora com o respaldo de Lira.
Empenhado em derrotar Maia, o Planalto distribuiu promessas de cargos e emendas a parlamentares, segundo relatos de deputados à reportagem. O chamado "toma lá, dá cá" correu solto, afirmaram.
As promessas foram tantas que alguns deputados ficaram reticentes se o governo conseguirá cumprir o acordado. Ainda assim, a avaliação é de que é mais fácil cobrar a fatura de Lira, mais próximo ao Planalto e líder do centrão, do que de Baleia.
Na véspera da votação, veio a pá de cal dentro do próprio partido de Maia. O presidente do DEM, o ex-prefeito ACM Neto (BA), liberou os parlamentares da legenda para votarem em quem quisessem. Antes, parlamentares do DEM na Bahia já tinham indicado que votariam em peso a favor de Lira. A atitude irritou ainda mais Rodrigo Maia por considerar que tinha influência perante ACM Neto.
Os motivos da vitória de Bolsonaro, e de Pacheco, no Senado
No Senado, a disputa era bem mais fácil para o governo. Aliado do Planalto, o então presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), viabilizou Rodrigo Pacheco como seu sucessor com poucas dificuldades.
Alcolumbre levou o apadrinhado para se reunir com Bolsonaro na véspera de Natal do ano passado. Desde então, Pacheco exibiu sua proximidade com o Palácio do Planalto por meio de Alcolumbre como um trunfo. Isso garantiu a ele o apoio dos governistas e fez com que construísse uma base de apoio mais sólida, oferecendo cargos e espaços na Mesa.
Da mesma forma como fez na Câmara, o Planalto distribuiu promessas de cargos e emendas na base do "toma lá, dá cá", segundo os adversários de Pacheco.
Na outra ponta, a adversária Simone Tebet colecionou expectativas frustradas. Ela não recebeu o apoio da totalidade das bancadas do Podemos e do PSDB. E, enquanto ainda nutria conversas com o PT, PDT e o PL, esses partidos anunciaram apoio a Pacheco.
Simone patinava. Considerada "lava-jatista", perdeu apoio do PT e não angariou nem mesmo em peso os votos do grupo "Muda, Senado", de bandeira anticorrupção.
Ao final, até o MDB —- a maior bancada do Senado —- desembarcou. Isso foi a pá de cal contra a senadora. Parte da sigla preferiu se aliar a Pacheco e a Alcolumbre em busca de melhores cargos na Casa. Caso continuassem apoiando Simone, provavelmente perderiam acesso a esses espaços de poder.
Quando emedebistas perceberam que ela não conseguiu juntar todo o apoio esperado em torno de si, seus senadores passaram a negociar espaços com Alcolumbre.
Três candidatos abriram mão em prol de Simone pouco antes da votação em plenário: Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Lasier Martins (Podemos-RS) e Major Olímpio (PSL-SP). Mas, isso não foi suficiente.
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