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Alvo de investigações, Ricardo Salles pede demissão do governo

Gilvan Marques e Rayanne Albuquerque

Do UOL, em São Paulo

23/06/2021 17h16Atualizada em 24/06/2021 12h43

Alvo de investigações, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pediu hoje demissão do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). O pedido de exoneração foi publicado no Diário Oficial da União. Joaquim Álvaro Pereira Leite, que era da Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais, assume a pasta. Em pronunciamento no Palácio do Planalto, Salles diz que deixa o cargo da "forma mais serena possível".

Na agenda nacional, precisa ter união forte de anseio e esforços, e que isso se faça de forma mais serena possível. Pedi exoneração e serei substituído por Joaquim Álvaro Pereira Leite Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, a jornalistas

Quem é o novo ministro?

O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, atuou por mais de 23 anos como conselheiro da SRB (Sociedade Rural Brasileira). Nomeado hoje para o ministério no lugar de Salles, Leite estava desde setembro do ano passado no comando da secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais.

Além de formular políticas para a preservação do bioma amazônico, a estrutura que Leite comandava é responsável por organizar o sistema de pagamentos ambientais, implantado pelo governo Bolsonaro para remunerar proprietários de terra que preservam suas áreas.

"A atuação dele aqui foi muito pautada no pagamento dos serviços ambientais. Ele veio para viabilizar isso, que é uma pauta que une o agronegócio à área ambiental", disse ao UOL um funcionário do ministério.

Investigações contra Salles

Autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), investigação da PF (Polícia Federal) apura se Salles atuou para afrouxar o controle do Ibama sobre a exportação de madeira. Segundo as investigações, ele reuniu-se em março do ano passado com um grupo de madeireiros no Pará que vinham tendo cargas de madeira retidas em portos no exterior por falta da autorização do Ibama.

A Operação Akuanduba executou buscas e apreensões nos endereços de Salles e de outros 21 investigados, entre servidores do ministério, dirigentes do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e empresários do ramo madeireiro.

Salles também é alvo de outro inquérito, autorizado pela ministra Cármen Lúcia no início deste mês. Trata-se da Operação Handroanthus, também da PF, que apura a suposta prática de crimes com o objetivo de dificultar a fiscalização ambiental e impedir investigação que envolva organização criminosa, além de suposto crime de advocacia administrativa (veja mais detalhes abaixo). Salles nega irregularidades nos dois casos.

Operação contra Salles

Salles foi alvo da Operação Akuanduba, deflagrada pela PF, que apura crimes contra a administração pública praticados por agentes públicos e empresários do ramo madeireiro.

"As investigações foram iniciadas em janeiro deste ano a partir de informações obtidas junto a autoridades estrangeiras noticiando possível desvio de conduta de servidores públicos brasileiros no processo de exportação de madeira", disse, na época, a PF.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao autorizar a realização da operação, determinou o afastamento do presidente do Ibama, Eduardo Bim, do cargo, além de outros nove agentes públicos do instituto e do Ministério do Meio Ambiente.

Já no início de junho, a ministra do STF Cármen Lúcia autorizou a abertura de inquérito contra Salles, referente à Operação Handroanthus. Ela atendeu a um pedido da PGR e deu o prazo de 30 dias para o cumprimento das diligências e finalização das investigações.

A notícia-crime encaminhada pela PF ao STF em 14 de abril foi feita pelo delegado Alexandre Saraiva, ex-chefe da PF no Amazonas, que foi exonerado do cargo após acusar Salles de obstruir investigação ambiental e favorecer madeireiros investigados pela corporação.

Maior desmatamento em dez anos

Conforme o UOL publicou, o desmatamento na Amazônia foi o maior em dez anos pelo terceiro mês consecutivo, de acordo com dados do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), que faz o monitoramento da região por satélite.

Durante seu pronunciamento, Salles também destacou ações feitas pela sua gestão. "Tivemos cuidado com todos os aspectos daquele ministério. Ao mesmo tempo, respeito também o agronegócio, empresários de todos os setores, de mineração, imobiliário. A necessidade de o Brasil de ter suas obras de infraestrutura, ser líder do agro. Esse equilíbrio importante que foi pedido pelo presidente desde o início decorre com o compromisso que temos com o Brasil", declarou.

"Fizemos o maior programa de pagamento do mundo, fizemos também muito importante o início de uma negociação que se concretizara no fim do ano na Cop 16, os países ricos pagarem pelo carbono que usarem. Essa postura firme que tivemos permitiu que essa negociação se iniciasse. Fizemos também no âmbito do ministério uma série de outras medidas, que são justamente alinhadas pelo projeto escolhido para o BR em 2018 com a eleição do presidente Bolsonaro", concluiu.

Bolsonaro elogiou Salles ontem

Ontem, durante evento de lançamento do Plano Safra 2021/2022, que prevê crédito ao agronegócio, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) elogiou a atuação de Salles no Ministério do Meio Ambiente e voltou a criticar o Judiciário.

"Parabéns. Não é fácil ocupar o seu ministério", disse Bolsonaro, olhando para Salles. "Por vezes a herança fica apenas uma penca de processos. A gente lamenta como, por vezes, somos tratados, por alguns poucos, desse outro Poder, que é muito importante para todos nós", completou, sem citar o STF.