Senadores do Cidadania tentam minar possível federação com PSDB
Desconfortáveis com a proposta de federação com o PSDB, senadores do Cidadania jogam contra a união das legendas em uma possível federação.
O que mais incomoda os parlamentares é o caráter nacional das federações: para se unirem, as legendas serão obrigadas a escolher candidatos únicos a presidente e a governador, em outubro, e a prefeito em 2024. Além disso, os partidos que se unirem deverão permanecer atuando em conjunto no mandato por, no mínimo, quatro anos.
Atualmente, o Cidadania tem três senadores: Eliziane Gama (MA), Leila Barros (DF) e Alessandro Vieira (SE). A federação com o PSDB afetaria cada um deles de diferentes maneiras.
"Voo solo"
Oficialmente, a senadora Eliziane Gama afirma que é a favor da federação com o PSDB. Já nos bastidores, segundo aliados próximos da parlamentar ouvidos pela reportagem, ela tem avaliado que o mecanismo de junção partidária não é a melhor opção para a legenda — Eliziane mostra, dizem eles, estar mais propensa a defender um "voo solo" do Cidadania.
A proximidade da congressista com o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), é um dos motivos que a fazem ir contra a federação. Apesar de o governador já ter defendido uma ampla aliança partidária contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo aliança com os tucanos, sua legenda pretende formar uma federação com o PT, adversário histórico do PSDB.
Caso as federações PT-PSB e Cidadania-PSDB se concretizem, Eliziane acabaria em rota de colisão com seu aliado.
Com relação a Dino, a senadora informou que apoia o governador e que a federação contribuirá pela continuidade das conquistas no estado.
Após a publicação da reportagem, a assessoria de Eliziane Gama afirmou que a senadora "diz sempre as mesmas opiniões políticas, tanto, publicamente quanto nos bastidores" e que ela "defende de forma clara e transparente, e buscando alto grau de unidade interna, a formação de uma federação envolvendo Cidadania e PSDB".
Por meio de nota, a senadora disse que "os dois partidos políticos têm afinidades programáticas históricas, situadas em um campo de centro-esquerda". A parlamentar também disse que "manifesta as mesmas opiniões políticas, tanto publicamente, quanto nos bastidores".
Governo do DF
A ideia de uma união com os tucanos também afeta a senadora Leila Barros, que estuda a possibilidade de se lançar candidata ao governo do Distrito Federal.
Se a federação com os tucanos ocorrer, ela terá que disputar internamente a vaga com o senador Izalci Lucas (PSDB), que já se lançou pré-candidato ao governo do DF.
Preferência por Moro
Próximo ao pré-candidato à Presidência pelo Podemos, Sergio Moro, Alessandro Vieira possui uma ótima relação com o partido do ex-juiz responsável pelos processos da Lava Jato em Curitiba.
Assim como o PSDB, o Podemos tem interesse em uma federação com o Cidadania —cenário almejado por Vieira, de acordo com pessoas próximas a ele.
Procurado, o gabinete do senador informou que o político não anteciparia sua posição sobre a federação com o PSDB, mas o UOL apurou que, nos bastidores, o parlamentar está inclinado a ir contra a união.
Além disso, ele é pré-candidato à Presidência e, no caso de uma federação com tucanos, seria pressionado a apoiar o presidenciável do PSDB, o governador de São Paulo João Doria —o que ele já disse mais de uma vez não estar disposto a fazer.
Atuação de Doria
Outro fato que pesa é a maneira como as negociações com os tucanos vêm sendo articuladas. No fim de janeiro, Doria aproveitou uma reunião com os presidentes do PSDB e do Cidadania, Bruno Araújo e Roberto Freire, respectivamente, para tentar selar de vez a federação.
Em entrevista ao UOL News, o senador Alessandro Vieira disse que Doria "atropela" as negociações em torno da federação para tentar acabar com seu "congelamento" nas pesquisas de intenção de voto à Presidência da República.
"João Doria faz uma excelente gestão em São Paulo, mas tem característica de atropelo. É preciso entender que a política exige tempo de diálogo, é preciso garantia total que o trabalho seja feito. Não dá para pensar imediatamente em 2022", afirmou.
As negociações entre Cidadania e PSDB, porém, seguem firmes, apesar da situação de Doria nas pesquisas e do "fogo amigo" que ele vem sofrendo —como a reunião realizada em Brasília entre tucanos descontentes com o desempenho do governador paulista, incluindo o deputado federal Aécio Neves (MG) e o senador Tasso Jereissati (CE).
Em entrevista ao UOL News ontem, Freire afirmou que, das três legendas que negociam com o Cidadania, "o mais avançado nesse debate está sendo o PSDB". "Até porque eles já tiveram uma reunião de sua executiva nacional e buscaram essa federação", disse. Segundo Freire, o Podemos e o PSD também querem firmar aliança com sua legenda.
O cacique adiantou, também, que a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que permite a formação e o registro das federações partidárias até 31 de maio deu um respiro às negociações. A data-limite anterior era 1º de março.
"Isso ainda vai ser decidido pelo diretório nacional. Nós estávamos em uma marcha acelerada para cumprir o prazo que havia sido determinado, mas agora foi concedido um prazo maior e vai haver uma diminuição da caminhada sobre isso", afirmou, acrescentando que a prorrogação deve aprofundar discussões e incluir até "novos atores".
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