Caso Wal do Açaí: sessão acaba após Zambelli e Alê baterem boca com petista
A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados se reuniu hoje no início da tarde para discutir o andamento do caso de Wal do Açaí, acusada de ser funcionária fantasma do gabinete do presidente Jair Bolsonaro (PL) antes de ele assumir o cargo atual. Os ânimos entre um deputado petista e duas parlamentares governistas ficaram agitados e a sessão precisou ser encerrada mais cedo.
Enquanto o deputado Jorge Solla (PT-BA) falava sobre a suposta corrupção no governo atual, as deputadas Carla Zambelli (PL-SP) e Alê Silva (Republicanos -RJ) o interromperam e chegaram a rir, ironizando as afirmações dele.
"Colegas, permitam que eu use a palavra. Sei que as pessoas ficam chateadas de servirem a um governo tão corrupto", disse o petista. Quando o presidente da sessão, Leo de Brito (PT-AC), devolveu a fala para Solla, Zambelli falou que "as mulheres estão sendo insultadas".
"Não é minha culpa que tomou a carapuça", rebateu o deputado. "A carapuça é Petrolão, Mensalão, Lula ladrão. Lula é ladrão, nem o STF [Supremo Tribunal Federal] pode dizer o contrário", falou Alê.
O presidente da sessão optou por devolver 30 segundos ao tempo de Solla pelas interrupções e ouviu protestos das deputadas. "30 segundos a mais para ouvir a verdade dói em quem é culpado", falou o petista. "Isso é baixaria. Isso não é atitude de parlamentar", completou.
Ao falar novamente sobre corrupção, os ânimos tornaram a subir e Alê bateu na mesa do deputado, que pediu para que não apontassem "o dedo na minha cara". Zambelli se levantou da cadeira para defender a colega de partido.
"Olha o machismo, está falando isso porque sou mulher. Isso é violência política contra a mulher", acusou Alê. "Você não vai me intimidar não. Eu não citei seu nome, tira a mão da minha cara. Que palhaçada, está tomando a carapuça e isso é problema seu", respondeu ele.
"Você não manda em mim", falou Alê. O presidente, então, encerrou a sessão em meio a protestos da oposição, que disseram que era o intuito das parlamentares causar uma confusão para antecipar o fim da reunião sobre o caso de Wal do Açaí.
A ação
Bolsonaro e Wal são alvos de ação de improbidade apresentada em março deste ano, em que o MPF (Ministério Público Federal) afirma que a ex-funcionária, mesmo lotada em Brasília, nunca compareceu à capital federal.
Segundo a acusação, Wal morava no Rio de Janeiro, onde tinha uma loja de açaí com o seu nome. Em resposta, a AGU (Advocacia-Geral da União) afirma que Wal do Açaí não tinha obrigação de trabalhar presencialmente em Brasília.
"O fato de a ré nunca ter estado em Brasília não passa de indiferente jurídico, já que as regras vigentes expressamente autorizam a prestação de serviços no Estado Federado de representação. Ademais, não há delimitação quanto à natureza dessas atividades, que devem ser apenas afins e inerentes ao respectivo gabinete", argumentou a defesa.
O MPF aponta, também, que Bolsonaro tinha conhecimento de que Wal não prestava serviços correspondentes ao cargo e, mesmo assim, atestou falsamente a frequência dela ao trabalho em seu gabinete para comprovar a jornada laboral exigida pela Câmara dos Deputados, de 40 horas semanais, e, assim, possibilitar o pagamento dos salários. Em março, o presidente confirmou que Wal nunca esteve em Brasília.
"As condutas, em especial, a do ex-deputado federal e atual presidente da República, Jair Bolsonaro, desvirtuaram-se demasiadamente do que se espera de um agente público. No exercício de mandato parlamentar, ele não só traiu a confiança de seus eleitores, como violou o decoro parlamentar, ao desviar verbas destinadas a remunerar o pessoal de apoio ao seu gabinete e à atividade parlamentar", diz o órgão acusador.
Na peça protocolada na Justiça Federal, a AGU afirma que as acusações do MPF "não passam de ilações" e argumenta que Wal não precisava ter qualificações técnicas específicas para exercer o cargo de secretária parlamentar no gabinete de Bolsonaro.
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