Quem é o advogado que articula busca por doações para Lula
"Quando eu vejo o Marco Aurélio falar, eu fico pensando que ele é capaz de ganhar do Fidel [Castro] e do [Hugo] Chávez quando está com o microfone na mão", brincou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao iniciar um discurso em um jantar, em dezembro passado, em um restaurante em São Paulo. O alvo da brincadeira de Lula por "falar demais" —e da comparação com discursos dos dois líderes de esquerda, ambos já mortos— é o advogado Marco Aurélio de Carvalho, 45.
O advogado é uma das figuras mais próximas do ex-presidente, e responsável por ajudar na arrecadação de doações à pré-campanha petista. Hoje, ele também é tido como articulador de confiança do petista. Há, inclusive, quem aposte que Marco Aurélio ganha algum cargo em um eventual novo governo Lula, líder nas pesquisas de intenção de voto, algo que ele refuta a pessoas próximas.
No mês passado, Marco Aurélio organizou um jantar para agradecer esforços de advogados que arrecadaram, segundo fontes, mais de R$ 4 milhões. O ex-presidente esteve no evento para prestigiar os doadores e discursou ao grupo.
Filiado ao PT desde os 16 anos, Carvalho é coordenador do Grupo Prerrogativas, criado por ele e amigos em 2014 para discutir o avanço da Operação Lava Jato —deflagrada naquele ano e que teve Lula como um de seus principais alvos—, e o questionamento do resultado das eleições de 2014 —à época, o PSDB pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma auditoria para verificar a "lisura" da eleição.
"O grupo nasceu como uma tentativa de reagir às ameaças da democracia que, na nossa avaliação, as falas do Aécio Neves [derrotado por Dilma Rousseff em 2014] materializavam quando ele questionou os resultados das urnas. E olha como a gente tinha razão", diz Carvalho, citando as recorrentes falas do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o sistema eleitoral.
Encontros
O Prerrogativas, que hoje conta com mais de 200 colaboradores, ajudou a impor derrotas à Lava Jato. E, mais recentemente, organizou o jantar em que Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) encontraram-se em público pela primeira vez em meio à costura para formação da chapa presidencial.
Marco Aurélio é taxativo ao dizer, no entanto, que o Prerrô, como o grupo é conhecido, não é um "puxadinho do PT", citando experientes criminalistas sem filiação partidária ou ligação com o PT, como Alberto Toron, advogado do deputado federal Aécio Neves (PSDB), e Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que atua na defesa do ex-presidente Michel Temer (MDB).
"Tem muita gente. E eu acho que essa é a riqueza do grupo", diz. "Diante da civilização, nós temos a barbárie. E, diante de uma e outra coisa, você tem que optar. Nós resolvemos abraçar a candidatura do Lula", acrescenta.
Mas a participação do advogado em pleitos não é incomum, segundo pessoas próximas. "Ele sempre foi muito ativo no partido em todas as campanhas, em todos os temas importantes", diz o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP).
"Como se tornou também um grande jurista, apesar de jovem, ele é muito requisitado sempre. Ele criou junto com outros companheiros o Prerrô, que foi o ponto crucial dessa trajetória", completou o parlamentar.
'Pupilo' de Sigmaringa Seixas
Formado em Direito pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) em 2001, Marco Aurélio foi presidente do Centro Acadêmico 22 de Agosto, entidade representativa dos estudantes do curso na faculdade, e militou em movimentos de moradia. Também foi o primeiro coordenador do Setorial Jurídico do PT.
Ainda jovem, pediu a um amigo que lhe apresentasse o ex-deputado federal Sigmaringa Seixas, que participou da Assembleia Nacional Constituinte, em 1988, e um dos melhores amigos do ex-presidente.
Visto pelo advogado como uma "referência", Seixas desenvolveu uma grande afeição por Marco Aurélio e os dois se tornaram grandes amigos, a ponto de o petista ficar conhecido como "pupilo" do Sig, apelido pelo qual ele era conhecido. Seixas morreu em dezembro de 2018, vítima de uma parada cardíaca.
Proximidade com Lula
Apesar da amizade com Seixas, outras figuras do PT ajudaram na aproximação entre Marco Aurélio e Lula, como Emídio e o deputado federal Rui Falcão (PT-SP), que presidiu a legenda por 2011 a 2017.
Segundo fontes ouvidas pelo UOL, o advogado passou a ser um articulador de estrita confiança do ex-presidente da República.
"O Lula percebeu o talento que ele é. Ele teve uma atuação muito destacada na Lava Jato, juntando juristas, questionando a legalidade das ações que eram feitas. Ele é muito responsável por tudo o que aconteceu", diz uma fonte próxima aos dois.
O líder petista e o advogado moram no mesmo bairro da zona oeste de São Paulo, Alto de Pinheiros, e frequentam a casa um do outro com frequência.
A esposa de Marco Aurélio, Alessandra, e a esposa do ex-presidente, Rosângela, se tornaram grandes amigas. O casal fez parte da seleta lista de convidados do casamento de Janja e Lula, ocorrido em São Paulo em maio deste ano.
Carvalho também é amigo de infância do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e os dois são sócios em uma banca de advocacia em São Paulo.
Ele também já defendeu, como advogado, Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha, um dos filhos do ex-presidente, e foi responsável por organizar um jantar que reaproximou Falcão e a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy após ela deixar o PT.
Doações
Os aliados de Lula têm buscado doações ao partido ainda durante o período de pré-campanha para custear despesas com as movimentações em torno do ex-presidente.
O UOL apurou que parte dos advogados presentes no evento no mês passado fez doações de R$ 20 mil em média. Entre eles, profissionais sem uma ligação histórica com o partido. Segundo Marco Aurélio, o grupo também fará eventos de arrecadação para a campanha quando ela efetivamente começar, dentro da legalidade.
Por meio de sua assessoria, o PT tem declarado que "todas as contribuições para o Partido dos Trabalhadores são feitas com transparência, dentro da lei e declaradas à Justiça Eleitoral".
Cargo em governo?
Para pessoas próximas ao advogado, o prestígio junto a Lula pode fazer com que Lula indique Carvalho para algum cargo no governo, caso o petista conquiste um terceiro mandato.
As fontes citam que, além de ser um advogado respeitado, ele tem boa interlocução com ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do STJ (Superior Tribunal de Justiça). A interlocutores, no entanto, o advogado diz não ter esse desejo e que nunca tratou do assunto com Lula.
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