TCU julga hoje futuro de joias presenteadas a Bolsonaro
O TCU (Tribunal de Contas da União) deve decidir hoje (15) o destino do segundo pacote de joias que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu da Arábia Saudita.
A expectativa é que o plenário determine a devolução dos bens e defina qual órgão ficará responsável pela guarda do acervo até uma decisão final da Corte. A sessão começa às 14h30.
Integrantes do TCU consultados reservadamente pelo UOL avaliam que o tribunal não tem condições de guardar as joias. Entre as opções de destino, estão a Receita Federal, a Presidência da República ou a própria Polícia Federal, que poderia conduzir uma perícia no acervo.
O caso das joias tem sido acompanhado de perto por uma ala do tribunal, que defende rever a decisão do ministro Augusto Nardes para obrigar Bolsonaro a entregar o acervo. No último dia 9, Nardes proibiu o ex-presidente de vender ou usar as joias, mas permitiu que elas continuassem sob sua posse.
A medida foi considerada "leve" por procuradores, que apontam precedentes da Corte para a devolução dos adornos.
Se antecipando a uma eventual derrota, a defesa de Bolsonaro se ofereceu na segunda-feira (12) para devolver as joias ao TCU por sua própria conta.
"O peticionário em momento algum pretendeu locupletar-se ou ter para si bens que pudessem, de qualquer forma, serem havidos como públicos", afirmou a manifestação assinada pelo advogado Paulo Amador da Cunha Bueno.
O conjunto é composto por um relógio com pulseira em couro, par de abotoaduras, caneta rosa gold, anel e um masbaha (espécie de rosário islâmico) rosa gold —todos os itens pertencem à marca de luxo suíça Chopard.
Além deste estojo, o governo Bolsonaro também tentou entrar com um outro conjunto de joias, este avaliado em R$ 16,5 milhões, que seria um presente para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Este pacote, porém, foi retido pela Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) em outubro de 2021 e, mesmo após sucessivas tentativas, o governo não conseguiu liberar o conjunto de joias.
O TCU já recomendou neste mês, por exemplo, a devolução de relógios das marcas de grife Hublot e Cartier recebidos pela comitiva de Bolsonaro durante viagem ao Qatar, em 2019. Cada um vale até R$ 53 mil.
O entendimento do tribunal é que o recebimento de presentes de uso pessoal de elevado valor comercial está em desacordo com o princípio da moralidade pública.
Em 2016, o TCU fixou entendimento que só podem ser levados ao acervo pessoal do presidente os itens de natureza "personalíssima", como medalhas e honrarias concedidas em solenidades no Brasil ou no exterior, ou roupas, alimentos e perfumes.
Joias, neste caso, não estariam enquadradas neste critério e, portanto, deveriam ser incorporadas ao patrimônio da União.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União recorreu na semana passada para que o TCU obrigue Bolsonaro a devolver as joias.
Para o subprocurador Lucas Rocha Furtado, o acervo deveria ser entregue à União em até cinco dias. Caso contrário, o TCU deveria pedir à Casa Civil que adotasse medidas para bloquear o salário do ex-presidente.
"Permitir que o ex-presidente seja o guardião desse valioso acervo, ainda que como fiel depositário, com todo o respeito, configura uma opção temerária e que não resguarda adequadamente o interesse público e o patrimônio da União", afirmou Furtado.
Inicialmente, Bolsonaro negou ter conhecimento dos presentes, mas após a revelação que um segundo pacote de joias passou escondido na alfândega do Aeroporto Internacional de Guarulhos, o ex-presidente confirmou que as peças foram incorporadas ao seu "acervo pessoal".
"Não teve nenhuma ilegalidade. Segui a lei, como sempre fiz", disse.
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