Governo Lula usa avanços no caso Marielle para constranger Bolsonaro e Moro

O governo Lula (PT) e aliados têm usado os avanços no caso Marielle para constranger o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o senador Sergio Moro (União-PR), ex-ministro da Justiça durante parte das investigações.

O que aconteceu?

Governo e apoiadores têm explorado nas redes sociais como, em seis meses de trabalho durante a gestão de Lula, a PF (Polícia Federal) já trouxe resultados que sob Bolsonaro não aconteceram. Ontem (24), ex-PM Élcio de Queiroz fechou acordo de delação premiada e contou detalhes sobre as mortes da veredora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Na PF, a decisão de aceitar a delação foi fruto de um trabalho de meses de convencimento, alinhado a um empenho em resolver o caso. O ministro da Justiça, Flávio Dino, tem elogiado os esforços e reforçado as mudanças.

O governo vê como questão de tempo para que ligações de Bolsonaro com envolvidos no crime, como o ex-PM Ronnie Lessa, apareçam à medida que as investigações avancem. A lógica é dar autonomia e suporte para que a PF realize seu trabalho —e aproveitar para evidenciar esses laços.

Para interlocutores, há dois pontos positivos: o governo mostra que faz um trabalho sério e sugere que a gestão anterior não quis fazer o mesmo.

Lula, no entanto, não deve participar dessa estratégia de comentar o caso —pelo menos por ora. Promessa indireta de campanha, o petista falou em solucionar o caso em mais de uma ocasião e colocou a irmã de Marielle, Anielle Franco, no comando do Ministério de Igualdade Racial.

PF "reconstruída"

As declarações e posicionamentos políticos se amparam nos resultados, apontando a eficiência da PF, após ter sido "reconstruída" com o término do governo Bolsonaro. Na corporação, os avanços são creditados a uma decisão de governo de apostar nas investigações.

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Os investigadores perceberam uma mudança de atitude de Élcio, preso desde 2019, com uma disposição em fazer o acordo — algo que não ocorreu durante os quatro anos de governo Bolsonaro.

Também deve sobrar para Moro

O atual senador da oposição também tem sido questionado sobre os motivos por que, na visão do governo, o caso não avançou entre janeiro de 2019 e abril de 2020, quando ele era ministro da Justiça de Bolsonaro.

Para aliados, o avanço das investigações não devem mostrar conivência do governo durante toda a gestão Bolsonaro, o que inclui o tempo de Moro à frente da PF.

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Moro contra-ataca. Ele também usou o caso para provocar o governo. Em entrevista à Folha, o senador lembrou das críticas do PT à delação premiada durante a Operação Lava Jato.

A colaboração premiada, apesar de demonizada pelo PT, revelou as roubalheiras na Petrobras durante o governo Lula, e agora é invocada pelo PT para confirmar o que já sabíamos, que Lessa é o suspeito do assassinato de Marielle. Espero que cheguem ao mandante e mordam a língua ao criticarem métodos modernos de investigação.
Sergio Moro, em crítica ao governo Lula, ontem

Os avanços do caso Marielle

Élcio prestou os depoimentos em junho passado, mais de cinco anos após o crime. O ministro Dino afirmou que ele receberá os benefícios da delação, mas continuará preso. Os termos da colaboração estão sob sigilo.

O ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, foi preso ontem. Com base nos depoimentos, a PF deflagrou ontem a operação Élpis, com um mandado de prisão preventiva e sete de busca e apreensão. Suel teria participado do planejamento do crime, em ações de vigilância e acompanhamento.

Na delação, Élcio afirma que foi Lessa quem atirou em Marielle e Anderson. Ele diz que foi recrutado por Lessa no próprio dia do crime e que dirigiu o carro usado na ocorrência. O ex-PM narrou em detalhes a noite do assassinato.

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O delator diz ter recebido R$ 1 mil após servir de motorista para Lessa. Élcio relata que os dois foram a um bar, após o assassinato, e só lá ele soube que o motorista Anderson também tinha morrido.

O ex-PM destacou, também, que a arma usada no crime tem origem no Bope, o batalhão especial da PM do Rio. O armamento, uma submetralhadora MP5, teria sido extraviada após um incêndio em um paiol da PM.

Troca de investigadores

Nos últimos cinco anos, o caso Marielle já foi comandado por cinco delegados diferentes e três grupos de promotores.

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) afirma que não há impacto nas investigações, mas, desde que começaram as mudanças, não havia avanço significativo no inquérito.

Quando toda a força-tarefa do MP-RJ para o caso pediu exoneração em janeiro de 2023, a família da vereadora apontou que via prejuízo para as investigações, já que a nova equipe precisaria de "tempo para estar a par da totalidade dos autos".

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