Por que Mauro Cid foi chamado de novo para depor e o que PF quer saber

O tenente-coronel Mauro Cid faz hoje à tarde na Polícia Federal um novo depoimento sobre a tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder.

O que aconteceu

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro fechou um acordo de delação premiada. Ele pode ser cancelado se ficar comprovado que mentiu ou ocultou provas durante seus depoimentos.

Nova oitiva acontece após o general Marco Antônio Freire Gomes falar. O ex-comandante do Exército prestou um depoimento de quase oito horas na sede da PF no dia 1º.

O militar respondeu a todas as perguntas. Freire Gomes comandava o Exército em 2022, quando a cúpula do governo planejava um golpe com a participação das Forças Armadas. Segundo o colunista do UOL Josias de Souza, um ministro da Suprema Corte disse que o ex-chefe do Exército relatou foi "é melhor e mais valioso do que uma delação, porque contém revelações de uma testemunha, não de um criminoso à procura de benefício judicial".

Ex-chefe do Exército disse que Bolsonaro convocou reunião para discutir proposta golpista. Segundo a Folha de S.Paulo, o plano incluía uma minuta para reverter a eleição de Lula. Freire Gomes também teria citado o ex-presidente como o responsável pela manutenção dos acampamentos golpistas em Brasília. Além disso, aliados de Bolsonaro tentaram convencer Freire Gomes a botar as tropas do Exército na rua e aderir ao golpe.

Xingamento de Braga Netto. Em outra conversa analisada na investigação, Freire Gomes é chamado de "cagão" pelo general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e vice na chapa de Bolsonaro em 2022. A troca de mensagens mostrou que Braga Netto teria liderado uma campanha velada, mas agressiva, contra oficiais que se mostraram contrários ao plano de golpe.

Coronel libertado. Cid também pode ter de falar sobre a atuação de Bernardo Romão Correa Neto. O coronel foi solto na quinta (7) por decisão de Alexandre de Moraes, do STF, após ter sido preso em fevereiro. Segundo a PF, ele teria integrado um grupo que atuaria elegendo alvos "para amplificação de ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investidas golpistas".

Seu advogado afirmou que não houve acordo para delação premiada com o coronel. "Na Polícia Federal, o assunto delação premiada não foi abordado. Meu cliente respondeu a todas as perguntas formuladas. Se todos os temas foram esgotados, não creio que haja necessidade de acordo", disse Ruyter de Miranda Barcelos.

Defesa nega que Cid tenha ocultado fatos. O advogado Cezar Bitencourt, que defende Cid, refuta a suspeita de esconder informações. "Você sabe como funciona um interrogatório? Pergunta e responde, pergunta e responde. Se não perguntar, não tem como responder. O Mauro Cid não deixou nenhuma pergunta sem resposta. Agora eu, como interrogado, não tenho que chegar lá e fazer uma conferência", disse Cezar Bitencourt ao UOL News.

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Não houve acesso às íntegras dos depoimentos anteriores. Mas se acredita que são peça importante para confirmar as funções e ações individuais dos suspeitos em cada investigação. Ele pode, inclusive, explicar se houve uma ordem direta para o cometimento de crime e implicar novos nomes.

Bolsonaro nega participação em qualquer crime. Sua defesa já disse, inclusive, que vai contestar a delação sem o aval do Ministério Público. Ele também pediu acesso ao depoimento de Freire Gomes. Os advogados do ex-presidente dizem que é "imperioso" que a defesa tenha acesso ao conteúdo das audiências do ex-chefe do Exército e de Carlos Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica.

Os crimes que a PF investiga

Cid supostamente participou ou ao menos presenciou possíveis crimes investigados pela PF. Ele pode tratar de qualquer um deles nesse novo depoimento. São eles:

Falsificação da carteira de vacina: Caso que colocou Cid na prisão. Ele, Bolsonaro e outros interlocutores foram alvos da Polícia Federal por suspeita de inserir dados falsificados de vacinação contra a covid-19 em documentos. Isso teria sido feito para que o ex-presidente e sua família pudessem entrar nos Estados Unidos.

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Pagamentos para Michelle: Cid é investigado por ter feito pagamentos suspeitos em nome da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em dinheiro vivo. A PF interceptou diálogos do ex-ajudante de ordens com assessoras do governo, conforme revelou o UOL.

Golpe de Estado: Cid é suspeito de ter testemunhado reuniões e ter tido acesso a informações sobre uma tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder mesmo após perder as eleições.

Escândalo das joias: O ex-ajudante de ordens atuou diretamente no escândalo que envolve mais diretamente Bolsonaro. Cid ajudou na tentativa de entrar e sair com as joias do país. Também é apurada a venda de presentes recebidas pelo ex-presidente.

O que Moraes já decidiu sobre Cid

Mauro Cid teve liberdade provisória concedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que também confirmou seu acordo de delação premiada.

O ministro determinou que Cid terá que cumprir uma série de medidas cautelares, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica e o afastamento de suas funções no Exército. Ele também ordenou o cancelamento de passaporte, a suspensão de porte de arma de fogo e a proibição do uso de redes sociais. Mas o salário, de R$ 27 mil, foi mantido.

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