'Foi uma punhalada', diz Cidinha sobre delegado preso
A ex-deputada estadual do Rio de Janeiro Cidinha Campos disse, durante o UOL News da manhã desta segunda-feira (25), que sentiu como uma punhalada a prisão do delegado Rivaldo Barbosa por suspeita do envolvimento no caso Marielle.
Cidinha era adversária de Domingos Brazão quando ambos atuavam como deputados estaduais na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e passava informações sobre o desafeto ao delegado. Rivaldo é suspeito de garantir a impunidade de Domingos e Chiquinho Brazão, apontados pela PF como mandantes do assassinato de Marielle.
Ele tinha uma imagem de um delegado eficiente, do bem, interessado em diminuir a violência e me ajudar. Ele ia ao meu gabinete, com uma cara de 'anjo barroco', e daí eu me deixei levar por essa aparência de bondade. Não havia nenhuma denúncia contra ele antes disso.
Ele queria me ajudar e, como eu estava precisando de ajuda, eu dizia: 'Olha, o Brazão tem essa e essa casa e fez isso, isso e isso'. Eu entregava o ouro ao bandido, literalmente.
A minha surpresa ontem foi mais do que surpresa, foi uma punhalada.
Cidinha, que já foi ameaçada de morte por Domingos Brazão, disse ter ficado "em êxtase" com a prisão dele, mas lamentou que o fato tenha envolvido a morte de Marielle Franco. "Ele pensou que ela fosse alguém sem expressão", afirmou.
O que aconteceu
A PF considera que os irmãos Brazão e o delegado de polícia foram os autores do crime, que também matou o motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018 na região central do Rio. Para os investigadores, os irmãos foram os mandantes, e o policial participou do planejamento do assassinato, além de interferir nas investigações.
"Apesar de não ter idealizado [o crime], ele [Rivaldo] foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato", diz o documento da PF. O deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil), o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão e o delegado Rivaldo foram presos hoje após decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Foi Rivaldo quem garantiu a impunidade do crime, segundo Ronnie Lessa, que executou os tiros contra a vereadora e o motorista Anderson Gomes. As declarações de Lessa foram feitas em delação premiada à PF —na ocasião, ele também citou Chiquinho como mentor do caso.
O delegado exigiu que os disparos não poderiam acontecer na entrada ou na saída de Marielle da Câmara dos Vereadores, no centro do Rio. "Tal exigência afastaria a hipótese de crime político e, por consequência, a atribuição da Polícia Federal para investigar o caso", afirma a PF.
Ronnie Lessa justifica que a carta branca outorgada por Rivaldo aos irmãos Brazão é uma forma mais segura de se cometer homicídios na capital fluminense, tendo em vista que o ajuste prévio tem o condão de evitar um "bote", ou seja, extorsão decorrente de investigadores em face dos homicidas para que seus crimes não sejam devidamente investigados.
Trecho do relatório da PF
"É muito melhor o pré-pago que acertar antes o crime, né? Você acerta antes o crime do que esperar um bote, foram os termos dele [Domingos Brazão]. É melhor pré-pago do que disputar um bote, porque o bote sai mais caro", disse Lessa à PF.
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