Explosão em Brasília: relembre crimes atribuídos a 'lobos solitários'
A explosão na Praça dos Três Poderes em Brasília, ocorrida ontem à noite, foi atribuída à ação de um possível "lobo solitário", que teria agido sem ligação com grupos organizados, segundo os primeiros indícios divulgados pelas autoridades. Esta não é a primeira vez no Brasil que atos violentos praticados por indivíduos são considerados "independentes".
O que aconteceu
Francisco Wanderley Luiz tentou acessar o STF com explosivos e, ao ser impedido, detonou os artefatos do lado de fora. Ele morreu durante a ação. A vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, indicou que as investigações apontam para uma ação isolada. O corpo do autor ainda não foi periciado completamente, pois autoridades suspeitam que restem explosivos, aumentando a cautela na investigação.
Em 2018, o caso de Adélio Bispo marcou a campanha presidencial quando ele atacou Jair Bolsonaro com uma faca durante um comício em Juiz de Fora, Minas Gerais. Adélio foi detido no local, e a Polícia Federal confirmou por três vezes em investigações separadas que ele agiu sozinho, sem apoio de terceiros ou de organizações.
Os inquéritos indicaram que o ataque foi motivado por discordâncias políticas e que Adélio sofria de transtornos mentais. Isso levou à sua transferência para uma instituição de segurança. Na época, suas atividades e dispositivos eletrônicos foram examinados, mas não foram encontrados indícios de conspiração.
O assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em 2018 no Rio de Janeiro, teve como principal suspeito Ronnie Lessa, um ex-policial militar. Lessa foi preso sob a acusação de ser o executor da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes. A hipótese de que Lessa teria agido isoladamente foi considerada em parte da investigação, apontando um possível ato de ódio político.
Os atos de invasão ao Congresso em 8 de janeiro de 2023, investigados pela CPI do 8 de Janeiro, trouxeram o conceito de lobo solitário para o contexto de militares envolvidos. A comissão concluiu que os militares que participaram das invasões agiram de forma independente, sem ligação direta com as Forças Armadas.
Em depoimentos, alguns dos envolvidos declararam que não tinham o respaldo institucional para suas ações e que agiram por decisão própria. A relatora da CPI, senadora Eliziane Gama, afirmou que a análise visou separar as responsabilidades individuais das instituições militares.
Ação independente
O termo "lobo solitário" é geralmente usado para descrever indivíduos que atuam sozinhos em atividades criminosas ou terroristas. Segundo o delegado André Santos Pereira, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo e especialista em segurança pública, o conceito surgiu na segurança pública como uma maneira de identificar pessoas que, "sem a coordenação de grupos organizados, realizam atos violentos motivados por crenças extremistas".
O delegado explica que esses indivíduos diferem de outros criminosos pela ausência de uma rede de apoio ou grupo estruturado, além da forte convicção em ideologias específicas. Segundo ele, muitos apresentam um histórico de marginalização social e estão em busca de algum tipo de reconhecimento.
Esses indivíduos geralmente operam por conta própria, movidos por uma visão pessoal extremista, sem a necessidade de qualquer apoio externo direto André Santos Pereira, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo e especialista em segurança pública
Diversos fatores psicológicos impulsionam esses indivíduos, incluindo transtornos de personalidade e solidão. Embora não exista um perfil único, muitos compartilham características como isolamento social, radicalização ideológica e um sentimento de desilusão. "Essas questões psicológicas são recorrentes entre aqueles que chamamos de lobos solitários. Eles frequentemente buscam um propósito ou significado que justifique suas ações", afirma o delegado.
O Brasil possui poucos registros de casos de "lobos solitários" em comparação com outros países. De acordo com Pereira, a maioria dos incidentes terroristas no Brasil envolve grupos organizados ou tem motivação política. Ele comenta ainda que, embora existam casos isolados, muitos acabam sendo pouco divulgados e podem se misturar com outras formas de criminalidade.
As autoridades brasileiras enfrentam dificuldades específicas na identificação e prevenção de ataques de "lobos solitários". Monitorar comportamentos isolados é um dos principais desafios, especialmente devido à falta de informações claras sobre indivíduos que possam representar riscos. "É difícil prever as ações de alguém que não mantém conexões evidentes com grupos organizados", explica o delegado.
Ele destaca ainda a importância do monitoramento de redes sociais. Segundo Pereira, muitas dessas ideologias podem ser disseminadas nas redes. "A diversidade cultural do Brasil adiciona uma camada extra de complexidade na definição de perfis e na implementação de estratégias preventivas", afirmou.
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