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Bomba e PF abalam bolsonarismo após otimismo com eleição municipal e Trump

Do UOL, em Brasília

21/11/2024 05h30Atualizada em 21/11/2024 11h28

Dois acontecimentos ocorridos no intervalo de uma semana fizeram o otimismo de Jair Bolsonaro e dos bolsonaristas desmoronar. O atentado a bomba na frente do STF e a operação da PF praticamente sepultaram o PL (projeto de lei) da anistia e colocaram o ex-presidente e seus aliados na berlinda.

O que aconteceu

O projeto de lei da anistia serve de termômetro do momento bolsonarista. O projeto tramita na Câmara e pretende livrar os golpistas do 8 de janeiro da cadeia.

A proposta é estratégica porque seria um caminho para Bolsonaro (PL) concorrer à Presidência em 2026. Ele nega que pretende se aproveitar do projeto, posição que é questionada nos corredores de Brasília. Gilson Machado, ministro na gestão Bolsonaro, declarou que a devolução dos direitos políticos do ex-presidente é prioridade para eles.

Até semana passada, deputados bolsonaristas pressionavam pela aprovação do PL da anistia. Eles se consideravam empoderados com a vitória de Donald Trump nos EUA e o desempenho da direita nas eleições municipais. Ao mesmo tempo, militantes articulavam formas de pressão em grupos de WhatsApp.

Hoje, não existe clima para o PL da Anistia ser aprovado. Bastou uma semana para relembrar que o flerte de Bolsonaro com o golpismo fomenta atos de violência.

A percepção de que o risco à democracia é página virada cessou. A situação é consequência de dois episódios ligados ao bolsonarismo:

  • Corpo de Francisco Wanderley Luiz, morto na frente do prédio do STF, em Brasília, após a explosão de bombas que ele carregava Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Bolsonaro mais perto da cadeia

A bomba e investigação da PF ocorreram num momento em que Bolsonaro fazia discurso a favor da democracia. Ocorre que ficou difícil sustentá-lo. O general Mario Fernandes — militar de mais alta patente envolvido no plano de matar Lula, Alckmin e Moraes, segundo a PF — era o número dois na Secretaria-Geral da Presidência no governo do ex-presidente,

O PT aproveitou o momento de fragilidade. Nesta quarta (20), o partido entregou um pedido de arquivamento do PL da anistia na Câmara dos Deputados. Independentemente da resposta à solicitação, lideranças políticas afirmam que não há clima para aprovar a proposta.

Em vez de impor agenda, Bolsonaro e bolsonaristas se veem na obrigação de oferecer explicações. Eles precisam de argumentos convincentes para se afastarem de um suicídio na Praça dos Três Poderes e um plano de execução, que cogitou até envenenamento, de autoridades.

A operação da PF fez a provável acusação contra Bolsonaro por tentativa de golpe se tornar mais robusta. Ou seja, a possibilidade de cadeia aumentou e a tentativa de se evitar associação a tramas golpistas ficou mais difícil.

A investigação revelou que Bolsonaro autorizou um golpe. A informação consta em diálogo entre seu ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e o general Mario Fernandes.

Durante a conversa que tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo [Lula], não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa, pode acontecer até 31 de dezembro.
General Mario Fernandes

Pablo Marçal desafiou liderança de Bolsonaro junto à direita Imagem: Roberto Sungi/Estadão Conteúdo

Enterro da anistia fragiliza Bolsonaro

Novembro se transformou numa reversão de expectativas para o bolsonarismo. O mês começou com esperança de aumentar a pressão em devolver o nome de Bolsonaro à urna eletrônica, mas o sentimento foi substituído pela perspectiva concreta do ex-presidente virar réu.

Além do aspecto jurídico, a provável rejeição do PL da anistia deixa Bolsonaro vulnerável politicamente. Lideranças da direita tentam tomar dele o comando deste campo político. Ronaldo Caiado é uma das alternativas moderadas. Pablo Marçal é a opção mais radical.

Recuperar os direitos políticos e lançar a candidatura presidencial serviria para aglutinar a militância. Ficaria bastante difícil para outras lideranças encontrarem espaço junto a eleitores e fechar acordos políticos.

Sem a chance de concorrer ao Planalto, o ex-presidente fica mais dependente de aliados. Ele precisa de deputados e senadores para fazer sua defesa nos debates que ocorrem no Congresso.

O poder de Bolsonaro para discutir com presidentes de partidos também diminui. O ex-presidente tem ideias políticas bem diferentes das de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido do qual faz parte. Bolsonaro também é aliado de Ciro Nogueira, presidente do PP, sigla do centrão que já apoiou e pode voltar a apoiar Lula.

Bolsonaro também se vê mais fraco em sua batalha contra o STF. O Supremo arregimentou simpatia por ser alvo de violência. O apoio institucional e da sociedade à Corte limita o campo de atuação do ex-presidente.

Tratado como arquirrival, Moraes sai fortalecido. As críticas aos inquéritos infinitos do ministro ganhavam volume, mas ficam em segundo plano quando se revela que ele esteve literalmente na linha de tiro da militância bolsonarista, segundo a PF.

Envolvido no plano de matar autoridade, o general Mario Fernandes ocupou cargo no governo Bolsonaro Imagem: Isac Nóbrega / Presidência da República

O plano que ficou difícil de sair do papel

O bolsonarismo se considerava fortalecido a partir da eleição. O PL venceu em 517 cidades e sedimentou o entendimento de que a esquerda perdeu a conexão com o povo. O número é menor que a expectativa de mil prefeitos, mas epresenta crescimento de 32% em relação a 351 vitórias em 2020.

Como tiveram resultado favorável, os bolsonaristas não reclamaram da urna eletrônica. Usaram a contagem de votos para pregar que receberam adesão da maioria, portanto, que têm o direito de avançar com sua agenda conservadora.

A vitória de Trump nos EUA animou extrema direita. O bolsonarismo passou a dizer que era um movimento mundial. Memes de Javier Milei, Trump e Bolsonaro presidentes viraram rotina em perfis de direita.

A ideia era usar maré favorável para pressionar o STF. A disputa entre Elon Musk e Moraes seria explorada. A ideia era associar o ministro a um tirano que não respeita a liberdade de expressão e persegue até mesmo um empresário bem sucedido e inovador.

O esperado corte nas despesas federais do governo serviria para acusar Lula de estelionato eleitoral. Os bolsonaristas estavam prontos para dizer que o presidente reduzia gastos sociais e prejudicava quem mais precisa.

O bolsnarismo pretende usar Elon Musk na disputa contra Alexandre de Moraes Imagem: Getty Images North America/AFP

As redes sociais teriam um papel relevante na engrenagem. A ideia era espalhar essa narrativa contra o Planalto e o STF.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tratou da estratégia com integrantes da direita americana. Ele esteve na festa da vitória de Trump para um alinhamento final do discurso e recebeu um cargo no PL para por seus planos em prática.

O impeachment de ministros do STF estaria no cardápio bolsonarista. A opção é uma estratégia de médio prazo que prevê nova vitória eleitoral em 2026.

O bolsonarismo espera eleger cerca de 30 senadores na próxima eleição. O total de parlamentares no Senado é de 81 e esta quantidade deixaria mais próxima de as ameaças de afastamento de ministros do STF virar realidade.

Um senador disse à reportagem que o afastamento não é a primeira opção. Ele argumentou que será solicitado ao Supremo um movimento na direção do que chamou de "volta da normalidade'. Caso a proposta não seja aceita, o impeachment entra na agenda.

Na terça, o senador Flávio Bolsonaro fez ameaça direta a Moraes. Ele disse que uma "anistia ampla, geral e irrestrita" é primordial e, caso não ocorra, o ministro será cassado quando a direita tiver maioria no Senado.

Sete dias bastaram para abalar o planejamento. O foco do bolsonarismo nas semanas que estão por vir é a redução de danos.

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