'Ligaram para o Braga Netto': as evidências que levaram à prisão do general
A Polícia Federal prendeu o general Braga Netto com base em mensagens, documentos encontrados com um ex-assessor e um novo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, que foi auxiliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O que aconteceu
PF afirma que Braga Netto tentou "controlar as informações fornecidas" na delação de Cid. Os indícios apontam que o ex-ministro falou sobre o assunto com o general Mauro Lourena Cid, pai do delator, logo após ele fechar o acordo com a Polícia Federal, em setembro de 2023. Para a polícia, isso configura uma tentativa de atrapalhar as investigações, o que justifica a prisão.
Além da obstrução de Justiça, um novo depoimento de Cid reforçou os indícios contra Braga Netto. No último dia 21, Cid afirmou que o ex-ministro ajudaria a financiar um suposto plano para matar autoridades. Cid, que havia isentado Braga Netto de culpa ao fechar delação, mudou sua versão e disse que o general entregou dinheiro aos chamados 'kids pretos', militares das Forças Especiais do Exército. Segundo Cid, o dinheiro foi entregue a Braga Netto pelo "pessoal do agronegócio".
Segundo a PF, Braga Netto e o pai de Cid tiveram "intensa troca de mensagens" e ligações. Os dois se falaram em 8 de agosto de 2023, três dias antes da operação que fez buscas contra o pai de Cid no caso das joias desviadas da Presidência da República. A partir daquele ponto, segundo a PF, Braga Netto passou a monitorar uma possível delação de Mauro Cid.
Mensagens indicam que a família de Cid mentiu para Braga Netto. No dia 9 de setembro de 2023, a delação de Cid foi homologada pelo STF e o assunto saiu na imprensa. No dia 12, o general da reserva Mario Fernandes, suspeito de atuar no plano de golpe, afirmou a um militar próximo, por mensagem, que o pai e a mãe de Cid garantiram que ele não iria delatar. Essa promessa, segundo Fernandes, foi feita a Braga Netto e ao general Augusto Heleno, também indiciado no inquérito do golpe.
Sobre a suposta Delação Premiada do CID, a Mãe e o Pai dele (CID) ligaram para o GBN [General Braga Netto] e para o GH [General Heleno] informando que é tudo mentira!!!
Mensagem do general Mario Fernandes para o coronel reformado Jorge Kormann
Documento teria detalhes da delação de Cid
Um documento encontrado com um ex-assessor de Braga Netto indica que ele buscou detalhes da delação de Cid. Em fevereiro de 2024, a PF apreendeu um documento com o coronel Flávio Botelho Peregrino, ex-assessor de Braga Neto, na sede do PL em Brasília. O documento tinha uma série de tópicos que, segundo a PF, se referiam aos depoimentos do delator.
Esse documento foi elaborado na forma de perguntas e respostas. Havia questões como "Teor das reuniões: o que foi delatado?" e "o que está saindo na imprensa e não foi delatado?". As respostas, em vermelho, parecem ter sido dadas pelo próprio Cid ou algum representante dele.
Braga Netto é citado nesse questionário. No tópico "outras informações", há as indicações de que Cid "não falou nada sobre os Gen Heleno e BN", e que "GBN não é golpista, estava pensamento democrático de transparência das urnas". Segundo a PF, isso era uma medida de Cid para "tranquilizar os demais integrantes da organização criminosa de que os fatos relativos aos mesmos não estariam sendo repassados à investigação".
Digitais de Braga Netto em plano de golpe
Outro documento reforça as evidências de que Braga Netto atuou no plano de golpe. O manuscrito também foi apreendido com o ex-assessor dele, coronel Peregrino, e tinha o título de "Operação 142", em alusão ao artigo da Constituição usado como justificativa para uma intervenção militar.
O manuscrito tinha um passo a passo para o plano golpista. O organograma era dividido em seis colunas que representavam passos desse planejamento, desde "avaliação da conjuntura" até "estado final político desejado". Esse estado final, descrito na última coluna, era "Lula não sobe a rampa". O documento apreendido estava escrito à mão, e a PF fez uma representação digital para facilitar a leitura:
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Quero receberPlano previa Braga Netto e Heleno em governo provisório
Outro militar tinha um plano pronto para o governo que assumiria o país após o golpe. A PF apreendeu com o general Mario Fernandes, preso por suspeita de planejar a morte de autoridades, um plano que previa de forma detalhada um "gabinete de gestão da crise", que assumiria o país no lugar do presidente Lula (PT).
Esse gabinete, segundo o plano, seria liderado por Braga Netto e Heleno. Segundo o documento, esse governo provisório começaria em 16 de dezembro de 2022, um dia após a data em que os 'kids pretos' chegaram a colocar agentes nas ruas para tentar sequestrar ou matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
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