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Mandetta e auxiliares cavam trincheira em meio a demissão iminente

15.abr.2020 - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante coletiva de imprensa sobre o coronavírus - UESLEI MARCELINO/REUTERS
15.abr.2020 - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante coletiva de imprensa sobre o coronavírus Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS

Carolina Marins e Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

16/04/2020 01h30

"Não somos astrólogos. Não fazemos previsões."

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tinha à mão, quando deu essa declaração, o registro de 1.736 mortes por covid-19 e 28.320 casos da doença no Brasil. Foram 204 novos óbitos confirmados em 24 horas, número igual ao divulgado na terça-feira (14), o maior registro de mortes em um dia. O anúncio, no entanto, não significa necessariamente que 204 pessoas morreram nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia, o Ministério da Saúde tem somado ao balanço diário mortes ocorridas dias atrás.

Ainda que esses números dispensassem interpretações, e previsões dificilmente são executadas pelo até agora titular da pasta, ele próprio fez ao menos um exercício de futurologia: a sua saída e dos secretários Wanderson de Oliveira (Vigilância em Saúde) e João Gabbardo (secretário-executivo) do governo Bolsonaro está próxima.

Wanderson, inclusive, tentou antecipá-la, mas sua demissão foi descartada, por enquanto. Pela manhã, ele comunicou sua própria demissão em carta. À tarde, Mandetta disse que o secretário ficaria no cargo e alegou ter ocorrido um ruído. Na entrevista coletiva, ministro e secretários afinaram o discurso: os três entraram juntos e sairão juntos da pasta.

A entrevista à imprensa, na tarde de ontem, aconteceu em clima de despedida. Pela primeira vez em pouco mais de uma semana, a coletiva diária sobre coronavírus ocorreu sem a presença de outros ministros do governo Bolsonaro.

À noite, Mandetta desabafou, em entrevista ao site da revista Veja, sobre os desgastes vividos com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante o enfrentamento da pandemia. "60 dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante", declarou para Veja.

Uma fonte da ala militar do Planalto confirmou à colunista do UOL Carla Araújo que a saída de Mandetta é certa, mas ainda é necessário um tempo para definir quem será o novo titular da Saúde, sem grandes traumas. O próprio ministro relatou a deputados, em reunião realizada ontem, que deve ficar no cargo por pouco tempo e disse entender que o presidente Jair Bolsonaro decidiu demiti-lo.

A situação de Mandetta se deteriorou depois de sua entrevista ao Fantástico, na qual pediu unidade entre o seu discurso e o do presidente. A fala não foi bem recebida no governo e, principalmente, na ala militar do Planalto.

Os militares foram fundamentais para evitar a queda do ministro na primeira ameaça de demissão feita por Bolsonaro. Porém, com a perda desse apoio, a queda do ministro e demais secretários do Ministério da Saúde é iminente.

Bolsonaro já estaria buscando um substituto para Mandetta, de preferência um médico "com posições mais próximas do presidente na questão do isolamento vertical e da cloroquina", revelou a colunista do UOL Carla Araújo.

Na coletiva de ontem, Mandetta disse esperar que seu substituto seja alguém da confiança do presidente. "O importante é que, seja lá quem o presidente colocar no Ministério da Saúde, que ele confie e dê as condições para que a pessoa consiga trabalhar com a ciência e para que a sociedade possa, junto com governadores e prefeitos, tomar as melhores decisões", disse.

Ao lado dos secretários, o atual ministro garantiu que a transição deles para a nova equipe a ser escolhida será fácil e agradeceu a todos os demais ministros pelo trabalho. Como mencionado anteriormente, foi uma entrevista em clima de despedida.

Tudo indica que Bolsonaro ganhou essa queda de braço. Entretanto, perdeu outra. Em sessão na tarde de ontem, o STF (Supremo Tribunal Federal) reafirmou o poder de governadores e prefeitos para determinar medidas restritivas durante a pandemia do novo coronavírus. A decisão também estabelece que estados e municípios podem definir quais são as atividades que serão suspensas e os serviços que não serão interrompidos.

Essa decisão do STF esvazia os poderes do governo Bolsonaro sobre a definição de quais atividades não poderiam ser afetadas pelas medidas de isolamento.