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Coronavírus: Últimas notícias e o que sabemos até esta sexta-feira (22)

Do UOL, em São Paulo

22/05/2020 13h03Atualizada em 22/05/2020 20h18

O Brasil caminha para se tornar o novo epicentro do coronavírus, de acordo com dados oficiais divulgados durante a pandemia, e a OMS já trata a América do Sul como o novo principal foco da doença no mundo.

Para se ter uma ideia, os Estados Unidos reportaram em seu último boletim 1.255 mortes pelo coronavírus em 24 horas, ontem, segundo a universidade Johns Hopkins. O Brasil, no mesmo período, confirmou mais 1.188, de acordo com o Ministério da Saúde, mais um triste recorde.

Se em números absolutos os Estados Unidos são líderes disparados, com 1,5 milhão de casos e 94 mil mortes, o país já vê os números caindo, enquanto o Brasil segue com gráficos em ascenção. Em 24h, os Estados Unidos registraram mais 25,3 mil casos. O Brasil, 18,5 mil.

Isso sem falar em subnotificação no Brasil, já que poucos testes são realizados em comparação com outros países. Um tuíte reuniu em um gráfico as mortes de Brasil, EUA e México e mostras as tendências destes países, mostrando que o Brasil pode passar os norte-americanos em breve, em mortes diárias:

Um informe diário da OMS nesta manhã sobre a situação da covid-19, publicado na manhã de hoje, aponta que o Brasil representou um quarto das mortes registradas e confirmadas no mundo num período de 24 horas.

No começo da tarde, a OMS já se referiu à América do Sul como "um novo epicentro" da covid-19. Michael Ryan diretor de emergências da OMS afirmou que

Em um sentido, a América do Sul se transformou em um novo epicentro da doença, vimos muitos países com números aumentando de casos e claramente há uma preocupação em muitos desses países. Mas o mais afetado é o Brasil"

"É difícil prever exatamente o que vai acontecer na região. Entretanto, esperamos que a transmissão comunitária continue nas próximas semanas, inclusive em áreas altamente povoadas de países com grandes populações", admitiu a organização.

"Portanto, a Opas (Organização Panamericana de Saúde) tem aconselhado os países das Américas a continuar fortalecendo suas medidas de contenção e mitigação para retardar a epidemia e evitar a sobrecarga dos serviços de saúde", acrescentou.

A proporção de adultos jovens mortos pelo coronavírus no Brasil é superior à de outros países duramente afetados pela pandemia, sobretudo nas classes mais pobres, que enfrentam mais obstáculos para cumprir as medidas de distanciamento social.

69% dos óbitos por covid-19 são de pessoas de mais de 60 anos, segundo cifras oficiais. Em países como Itália e Espanha isso chega a 95%.

Brasil registra 1.001 mortes em 24h

Segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, o Brasil atingiu hoje 21.048 mortes em decorrência do novo coronavírus — 1.001 delas registradas nas últimas 24 horas. O país soma 330.890 diagnósticos da doença, com a confirmação de 20.803 infectados entre ontem e hoje.

Com os dados de hoje, o Brasil passou a Rússia em número de casos confirmados e é agora o segundo país no mundo com mais infectados, atrás apenas de Estados Unidos (quase 1,6 milhão). Na Rússia, o balanço é de 326.448, segundo a Universidade Johns Hopkins.

Ainda segundo o ministério, 3.552 óbitos suspeitos ainda estão em investigação e 174.412 casos seguem em acompanhamento. Um total de 135.430 pacientes já se recuperou da doença.

Bolsonaro: Pavor mata mais que a covid

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a minizar a crise. Em transmissão ao vivo pelo Facebook ontem, afirmou que o "pavor" em torno da pandemia mata mais do que o próprio coronavírus.

Morre muito mais gente de pavor, muitas vezes, do que do ato em si [referindo-se à covid-19]. O pavor também mata, leva ao estresse, leva ao cansaço, a pessoa não dorme direito, fica sempre preocupada"

Em certo momento, também afirmou acreditar que "mais importante que a vida, é a liberdade".

New Yorker: Bolsonaro age com absoluta irresponsabilidade

A revista The New Yorker, uma das mais importantes dos Estados Unidos, publicou hoje um artigo em que se aprofunda sobre como o Brasil tem lidado com o coronavírus e atacou as atitudes de Bolsonaro. O texto de um colunista resume os dois meses de quarentena no Brasil e fala que o presidente "está se comportando com absoluta e determinada irresponsabilidade".

Texto da New Yorker - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

A coluna tem o título "O coronavírus atinge o Brasil com força, mas Jair Bolsonaro não está impenitente", isto é, não demonstra arrependimentos.

Jon Lee Anderson, que assina o texto, conta que falou com brasileiros que estão desanimados com a situação e também com a crise política.

"Tem sido difícil manter o espírito elevado. Eu meio que desisti de ter esperança. É um desastre após o outro. Não sei se nossa democracia vai sobreviver", diz a carioca ouvida por ele.

No Rio, médica trabalha de fralda por medo

Em Wuhan, na China, profissionais da saúde chegaram a usar fraldas para otimizar o tempo de atendimento aos pacientes com covid-19. Uma médica do Hospital Municipal Miguel Couto, no Rio, adotou a mesma prática, mas por medo de contrair o vírus ao retirar o traje de proteção para ir ao banheiro. Cada profissional recebe por plantão apenas um capote de tecido.

O recomendado é ter à disposição por plantão ao menos dois trajes descartáveis e um impermeável, para quando houver contato com pacientes. O relato foi anexado a uma ação civil pública movida pelo MPT-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), que exige uma série de melhorias no hospital.

Esse tipo de capote é uma fonte de contaminação. Os profissionais de saúde precisam ter cuidado para não se infectar. Essa médica decidiu trabalhar de fralda por seis horas, para não precisar ir ao banheiro. É um cenário de degradação"

Médica usa fralda em hospital do Rio por medo de contágio e falta de EPI - Arquivo - Arquivo
Imagem: Arquivo

A Prefeitura do Rio de Janeiro projeta que em duas semanas a cidade vai atingir a marca de 40 mil casos de covid-19. A capital tem (até dados de ontem) 18.743 pessoas com a covid-19, o maior número no estado (32.000), e 2.300 mortos em decorrência da doença. Em todo o estado, os mortos somam 3.400.

Apesar disso, o prefeito Crivella falou hoje que "chegamos no momento de retomar as atividades".

São Paulo terá mais um feriado

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou um projeto de lei que antecipa o feriado de 9 de julho (Revolução Constitucionalista) para a próxima segunda-feira (25). O objetivo é tentar ampliar o isolamento social em São Paulo.

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), afirmou, em entrevista ao UOL, que a resposta sobre o lockdown na cidade será conhecida na próxima quarta-feira (27) e pediu apoio das pessoas ressaltando que é preciso colaboração para vencer o coronavírus.

Covas afirmou também que o número de mortos é dez vezes maior nas periferias e que a pandemia escancara a desigualdade social na capital. O tucano ainda declarou que é pré-candidato, não importa qual seja a decisão do Congresso Nacional sobre o adiamento das eleições.

Se as pessoas persistirem em sair, a gente não vai vencer o vírus. Tudo que está nas mãos da prefeitura estamos fazendo. Mas depende também da colaboração das pessoas"

Auxílio diluído: governo estuda mais R$ 600, parcelados

Para ganhar tempo até o desenho de uma nova política para os programas sociais do governo, uma das opções do ministro da Economia, Paulo Guedes, é dar mais uma parcela do auxílio emergencial de R$ 600, mas com o valor dividido ao longo de três meses.

Essa é uma das opções que estão na mesa de negociação da equipe econômica. Pelo cronograma atual, são previstas três parcelas do auxílio emergencial. Agora, o governo estuda ampliar o benefício, desde que o pagamento por mês seja menor.

Indígenas expostos ao vírus

O município com maior proporção de indígenas do Brasil vive disparada de casos, com alerta vermelho após um barqueiro a serviço do Ministério da Saúde viajar por várias comunidades dias antes de morrer com a doença.

No interior do Amazonas, pandemia zera estoque de oxigênio e expõe indígenas a trabalhadores infectados - DSEI Alto Rio Negro - DSEI Alto Rio Negro
Imagem: DSEI Alto Rio Negro

Profissionais de saúde com covid-19 circulando em aldeias indígenas, médicos fazendo vaquinha para comprar oxigênio para pacientes intubados, comunidades inteiras apresentando sintomas da doença. As cenas são de São Gabriel da Cachoeira, no interior do Amazonas, onde ficam 13 das 20 cidades brasileiras com a maior proporção de moradores infectados.

Sem qualquer caso de covid-19 até 26 de abril, São Gabriel da Cachoeira já é a 15ª da lista, com 999 registros por 100 mil habitantes. Desde então, morreram, ali, ao menos 15 pessoas de covid-19. 76% dos moradores de São Gabriel são indígenas, grupo que é considerado especialmente vulnerável à doença.

Einstein cria importante testagem em massa

O Hospital Albert Einstein desenvolveu uma técnica para o diagnóstico de coronavírus capaz de analisar testes de até 16 vezes mais amostras por vez em comparação com o mais utilizado hoje, o RT-PCR.

Segundo a instituição, é o primeiro exame de covid-19 a ser patenteado no mundo que utiliza tecnologia de sequenciamento genético de nova geração, com base na leitura de pequenos fragmentos de DNA para identificar doenças ou mutações genéticas.

testes covid - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

A diferença é que, por meio de técnicas de sequenciamento e da utilização de uma ferramenta de inteligência artificial, o processo de análise do material é automatizado, tornando possível o processamento de 1.536 amostras por ciclo, número 16 vezes maior do que as 96 processadas atualmente.

Cloroquina: Maior estudo aponta riscos graves

A revista médica "The Lancet" afirma que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina sozinhos ou combinados com macrolídeos (grupo de antibióticos dentre os quais se destaca a azitromicina) não tem benefícios comprovados no tratamento de pacientes com covid-19, de acordo com o maior estudo feito sobre a droga.

O estudo é o primeiro a analisar o uso desses medicamentos em larga escala. Foram analisados dados de mais de 96 mil pacientes hospitalizados em 671 hospitais. Desse total, 14.888 pacientes receberam hidroxicloroquina ou cloroquina, com ou sem o antibiótico macrolídeo, e 81.144 pacientes não passaram por nenhum dos tratamentos.

A pesquisa apontou que as pessoas tratadas com cloroquina ou hidroxicloroquina apresentavam maior risco de morte quando comparadas àquelas que não receberam o mesmo tratamento. E que o uso desses medicamentos pode estar relacionado a um aumento no risco de morte por problemas cardíacos, como arritmia.

Enquanto isso, a Secretaria de Comunicação da Presidência ignorou as recomendações feitas pelas sociedades médicas brasileiras e postou ontem em sua conta do Twitter uma mensagem afirmando que o Brasil "ganhou mais uma esperança no tratamento do coronavírus". A esperança se trataria da cloroquina. Bolsonaro, em live, admitiu que o remédio ainda não tem comprovação científica.

Teste promissor com vacina

Uma vacina que está sendo desenvolvida por pesquisadores chineses teve resultados promissores contra a covid-19 em um teste inicial, segundo estudo publicado hoje pela revista The Lancet. Feita com adenovírus recombinante tipo 5 (Ad5), a vacina foi testada em 108 adultos e se mostrou capaz de fazê-los produzir células que combatem o novo coronavírus, além de torná-los imunes a ele.

Os pacientes que participaram deste primeiro teste tinham idade média de 36,3 anos. A maioria (51%) era homem e todos eram saudáveis. Eles foram divididos em três grupos iguais: 36 receberam uma dose baixa da vacina; outros 36, uma dose mediana; e os 36 restantes, uma dose mais alta.

Entre os voluntários que receberam a dose mais baixa, 30 (83%) reportaram pelo menos um efeito colateral nos primeiros sete dias após a aplicação da vacina. Outros 30 (83%) dos que receberam a dose mediana e 27 (75%) dos que foram vacinados com a dose mais alta também relataram pelo menos uma reação.

Projeto de lei quer licença maternidade ampliada

Um projeto de lei apresentado pela deputada federal Sâmia Bomfim (Psol) busca aumentar os prazos das licenças maternidade e paternidade de forma emergencial durante a pandemia. Para as mães, o prazo iria de 120 para 180 dias. Para os pais, iria dos apenas cinco dias previstos hoje para 45 dias.

O projeto mantém as prerrogativas de que ambos possam gozar do período com os filhos recém-nascidos sem prejuízo do emprego ou de salário.

Sâmia defende que, em meio à pandemia, com reflexos incertos nos futuros das famílias, é importante lutar por direitos ampliados e "garantir a saúde dos bebês e de suas mães". Isso ajudaria em um período maior de isolamento para mães e pais que estejam com recém-nascidos em casa.

Robô criado após drama ajuda contra o coronavírus

A vida de Jacson Fressatto mudou em 2009. De um lado, a alegria: seria pai de uma menina. De outro, a tristeza: o bebê tinha um problema tão sério que a orientação era abortar. Ele e a esposa decidiram seguir. Sete meses depois, Laura nasceu. Prematura, viveu por 18 dias. Uma infecção hospitalar a levou, mas deixou a semente de um projeto que seria usado na pandemia.

Jacson Fressato, criador da inteligência artificial Laura, que realiza gestão e monitoramento de processos hospitalares. Criada inicialmente para prevenir ocorrência de sepse, Laura foi adaptada para auxiliar na detecção e triagem de casos mais graves de COVID-19, a doença provocada pelo coronavirus SARS-CoV-2 - Theo Marques/UOL - Theo Marques/UOL
Imagem: Theo Marques/UOL

Desesperado, o empresário se embrenhou nas entranhas do hospital. "Eu queria saber quem tinha sido o filho da p... que errou", diz. Mas, naqueles corredores, conheceu de perto outros problemas e limitações. Ninguém sai de casa com o objetivo de matar o paciente.

A partir daí, investiu R$ 1,5 milhão do próprio bolso para criar uma plataforma de inteligência artificial que indicasse aos médicos quais os pacientes com quadros de infecção. Queria evitar que outros morressem do mal que levou sua filha.

A tecnologia evoluiu e desde o começo de maio é usada para combater o coronavírus. Seu nome não poderia ser outro: Laura. "A Laura continua viva. Só mudou de interface", contou ele, em reportagem de Tilt.

Pastor afirma que 'água consagrada' cura covid

Depois do pastor Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial, que prometia uma falsa cura do coronavírus através da venda de uma semente por R$ 1.000, outro líder evangélico neopentecostal está anunciando um "milagre" contra a doença. A informação é do colunista do UOL Ricardo Feltrin.

Há mais de uma semana o pastor R.R.Soares está anunciando que fiéis de sua igreja, a Internacional da Graça, estão se curando graças a uma água "consagrada" por ele em ritual.

Em seus programas o pastor fala das propriedades "milagrosas" de uma oração feita por ele somada à ingestão do copo de água consagrado por ele, enquanto pede doações aos fiéis.

Assim como fez no caso de Valdemiro, o Ministério Público Federal vai investigar o caso e pedir a retirada do ar dos vídeos, que estão nos canais da igreja nas redes sociais.

Flamengo é investigado por volta aos treinos

O Flamengo retomou os treinos, mas o Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) ainda quer alguns esclarecimentos por parte do clube, que está desde terça-feira (19) na ativa.

Fla - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

A procuradora do trabalho Valdenice Amalia Furtado instaurou inquérito, ao qual o UOL teve acesso, para apurar se a volta dos treinamentos está amparada em bases legais. Segundo a magistrada, o clube tem cinco dias para comprovar que não está desrespeitando decretos das autoridades do Rio.

O governador Wilson Witzel contrariou seu próprio decreto e afirmou que a volta das atividades está por conta dos clubes, ainda que os treinamentos não constem como atividades essenciais durante o período de quarentena, válido até dia 31 de maio.