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Sem provas, Bolsonaro diz que números da pandemia foram 'inflados'

Presidente Jair Bolsonaro diz que números da pandemia caíram pois há "medo" de que ele consiga investigação para mortes classificadas como "suspeitas de covid" - Ueslei Marcelino/Reuters
Presidente Jair Bolsonaro diz que números da pandemia caíram pois há "medo" de que ele consiga investigação para mortes classificadas como "suspeitas de covid" Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Thaís Augusto

Do UOL, em São Paulo

20/04/2021 21h07Atualizada em 15/05/2021 19h14

Sem apresentar provas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) insinuou hoje que os números da pandemia foram inflados para prejudicar o seu governo. Em evento com lideranças evangélicas de Anápolis (GO), Bolsonaro também disse que as mortes por covid-19 começaram a cair por "medo" de que ele consiga aval para uma investigação das mortes que estão sendo classificadas como "suspeitas de covid".

"Começou a cair o número de mortes por covid porque eles têm medo que eu consiga uma investigação na frente e vão ver lá que muito óbito foi colocado 'suspeita de covid' para exatamente inflar números e pressionar a população contra o nosso governo", disse Bolsonaro.

Na semana passada, em live semanal transmitida pelas redes sociais, o presidente também sugeriu que os óbitos por covid-19 estavam em queda após a possibilidade da CPI da Covid investigar também governos estaduais e municipais pela conduta durante a pandemia. "Curiosidade né? Parece que os números começaram a cair depois que a CPI lá do Senado incluiu também investigação em cima de governadores e prefeitos", afirmou na última quinta-feira, (15).

Apesar das declarações do presidente, as mortes causadas pelo coronavírus seguem em ritmo de alta. Entre os dias 11 e 17 de abril, o Brasil registrou a 2ª semana mais letal da pandemia, com 20.420 óbitos. Os dados foram obtidos pelo consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, junto às secretarias estaduais de saúde.

Hoje, o Brasil chegou ao 90º dia com média móvel de mortes acima de mil —o cálculo, que considera o intervalo de sete dias, permite analisar se o número de óbitos está caindo ou aumentando no país. Há mais de um mês, a média móvel de mortes está acima de 2.000.

Outro dado que comprova que o número de mortes no Brasil segue em alta é a taxa de transmissão da covid-19. Segundo dados divulgados hoje pela Imperial College de Londres, cada 100 pessoas contaminadas no Brasil transmitem o vírus para outras 106. Os números são iguais aos apresentados na semana anterior.

Covid é "gripezinha"

Desde o início da pandemia, Bolsonaro vem minimizando o vírus, dizendo que a covid-19 é uma "gripezinha" e que o Brasil não pode "chorar o leite derramado". O presidente também contrariou orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o uso de máscara e o distanciamento social —além de virar um crítico de governadores que impõe toque de recolher para tentar conter a disseminação da covid-19. Ele também se movimentou para que a CPI da Covid também investigasse estados e municípios.

Bolsonaro também contribuiu para o atraso de compras de vacina no Brasil. Em agosto do ano passado, o governo brasileiro negou um acordo com a Pfizer para a compra de 70 milhões de vacinas e recebimento de doses a partir de dezembro. O governo não concordava com as condições oferecidas pela farmacêutica, como a isenção de responsabilidade por efeitos colaterais.

Na época, o presidente Bolsonaro chegou a ironizar o imunizante da Pfizer. "Lá no contrato da Pfizer, está bem claro nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu".

Dois meses depois, em outubro do ano passado, o presidente desautorizou publicamente o então ministro Eduardo Pazuello e impediu a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac dizendo que o "brasileiro não será cobaia".

Além do atraso na compra de vacinas, a lentidão para receber as doses e a ampliação do grupo prioritário do PNI (Plano Nacional de Imunização) também atrasaram a vacinação no Brasil. Anteontem, o país completou três meses do começo da vacinação contra a covid-19, mas ainda longe de conseguir imunizar todos os prioritários.

Quando apresentou o plano de vacinação, no final do ano passado, o governo calculava cumprir três fases de distribuição de doses para o grupo prioritário em cerca de quatro meses. Enquanto isso, países como Estados Unidos, Israel e Chile, já estão em uma etapa avançada para imunizar a população em geral —esses países garantiram a encomenda de mais de um imunizante em 2020, algo que o governo de Jair Bolsonaro não fez.