Sem provas, Bolsonaro diz que números da pandemia foram 'inflados'
Sem apresentar provas, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) insinuou hoje que os números da pandemia foram inflados para prejudicar o seu governo. Em evento com lideranças evangélicas de Anápolis (GO), Bolsonaro também disse que as mortes por covid-19 começaram a cair por "medo" de que ele consiga aval para uma investigação das mortes que estão sendo classificadas como "suspeitas de covid".
"Começou a cair o número de mortes por covid porque eles têm medo que eu consiga uma investigação na frente e vão ver lá que muito óbito foi colocado 'suspeita de covid' para exatamente inflar números e pressionar a população contra o nosso governo", disse Bolsonaro.
Na semana passada, em live semanal transmitida pelas redes sociais, o presidente também sugeriu que os óbitos por covid-19 estavam em queda após a possibilidade da CPI da Covid investigar também governos estaduais e municipais pela conduta durante a pandemia. "Curiosidade né? Parece que os números começaram a cair depois que a CPI lá do Senado incluiu também investigação em cima de governadores e prefeitos", afirmou na última quinta-feira, (15).
Apesar das declarações do presidente, as mortes causadas pelo coronavírus seguem em ritmo de alta. Entre os dias 11 e 17 de abril, o Brasil registrou a 2ª semana mais letal da pandemia, com 20.420 óbitos. Os dados foram obtidos pelo consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, junto às secretarias estaduais de saúde.
Hoje, o Brasil chegou ao 90º dia com média móvel de mortes acima de mil —o cálculo, que considera o intervalo de sete dias, permite analisar se o número de óbitos está caindo ou aumentando no país. Há mais de um mês, a média móvel de mortes está acima de 2.000.
Outro dado que comprova que o número de mortes no Brasil segue em alta é a taxa de transmissão da covid-19. Segundo dados divulgados hoje pela Imperial College de Londres, cada 100 pessoas contaminadas no Brasil transmitem o vírus para outras 106. Os números são iguais aos apresentados na semana anterior.
Covid é "gripezinha"
Desde o início da pandemia, Bolsonaro vem minimizando o vírus, dizendo que a covid-19 é uma "gripezinha" e que o Brasil não pode "chorar o leite derramado". O presidente também contrariou orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o uso de máscara e o distanciamento social —além de virar um crítico de governadores que impõe toque de recolher para tentar conter a disseminação da covid-19. Ele também se movimentou para que a CPI da Covid também investigasse estados e municípios.
Bolsonaro também contribuiu para o atraso de compras de vacina no Brasil. Em agosto do ano passado, o governo brasileiro negou um acordo com a Pfizer para a compra de 70 milhões de vacinas e recebimento de doses a partir de dezembro. O governo não concordava com as condições oferecidas pela farmacêutica, como a isenção de responsabilidade por efeitos colaterais.
Na época, o presidente Bolsonaro chegou a ironizar o imunizante da Pfizer. "Lá no contrato da Pfizer, está bem claro nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu".
Dois meses depois, em outubro do ano passado, o presidente desautorizou publicamente o então ministro Eduardo Pazuello e impediu a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac dizendo que o "brasileiro não será cobaia".
Além do atraso na compra de vacinas, a lentidão para receber as doses e a ampliação do grupo prioritário do PNI (Plano Nacional de Imunização) também atrasaram a vacinação no Brasil. Anteontem, o país completou três meses do começo da vacinação contra a covid-19, mas ainda longe de conseguir imunizar todos os prioritários.
Quando apresentou o plano de vacinação, no final do ano passado, o governo calculava cumprir três fases de distribuição de doses para o grupo prioritário em cerca de quatro meses. Enquanto isso, países como Estados Unidos, Israel e Chile, já estão em uma etapa avançada para imunizar a população em geral —esses países garantiram a encomenda de mais de um imunizante em 2020, algo que o governo de Jair Bolsonaro não fez.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.