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Situação na Amazônia 'está fora de controle', diz Marina Silva

22.ago.2019 - Marina Silva (Rede Sustentabilidade) fala durante conferência hoje na Universidade de Bogotá - Juan Barreto/AFP
22.ago.2019 - Marina Silva (Rede Sustentabilidade) fala durante conferência hoje na Universidade de Bogotá Imagem: Juan Barreto/AFP

Em Bogotá

22/08/2019 21h16

A situação na Amazônia do Brasil, atingida por graves incêndios e desmatamento, está "fora de controle", apontou a ex-candidata presidencial Marina Silva, acusando o governo de Jair Bolsonaro de ter propiciado uma "ação desenfreada" em um ecossistema vital para o mundo.

Marina Silva (Rede Sustentabilidade), que visita Bogotá, afirmou em entrevista à AFP que o Brasil tem o conhecimento e a tecnologia necessários para combater as chamas que crescem e destroem grandes superfícies de floresta diante da "negligência" do executivo de Bolsonaro, cético da mudança climática.

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente (2003 e 2008) e vencedora do prestigioso prêmio Goldman Environmental em 1996, considerado o Nobel verde, afirmou que está em andamento a criação de um movimento para exigir ao Congresso brasileiro que frustre as iniciativas legislativas governamentais contrárias ao meio ambiente.

Ela acrescentou que o que estão fazendo com o pulmão do planeta (60% da Amazônia está no Brasil) configura um "crime contra a humanidade".

Na mesa redonda "Avanços e retrocessos da gestão socioambiental na América Latina", organizada pelo Centro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a América Latina (CODS), ela pediu o estabelecimento de um imperativo ético, independente das posições partidárias, para proteger a natureza em meio à crise climática.

Após finalizar sua intervenção, Silva, de 61 anos, atendeu a AFP.

Por que e como se chegou a esta situação na Amazônia?

Nesse momento está fora de controle em função de que temos 38.000 focos de queimadas, de incêndios e isso representa 60% de todos os focos de calor e queimadas que tem no Brasil. Claro que daqui a pouco virão as chuvas, graças a Deus, e isso será resolvido.

Mas hoje o governo, por toda sua negligência, por tudo que estimulou com seu discurso contrário às ações de fiscalização, propiciou uma ação desenfreada em relação às queimadas. Estamos fazendo um movimento, ex-ministros, organizações da sociedade civil. Vamos dialogar com o Congresso para que suspenda todos os projetos de lei que são contrários ao meio ambiente e se crie uma comissão especial do Congresso, na qual deverão participar cientistas, ambientalistas, populações locais e agentes públicos também, e empresários, para que assumamos o controle do plano que seja estruturado para a política ambiental brasileira.

O Brasil tem as ferramentas para controlar estes incêndios?

O Brasil sabe e tem tecnologia para controlar esta situação. O problema é que o governo abandonou as políticas, abandonou o know-how, e tem um atitude de ojeriza com os cientistas da área ambiental, com os ambientalistas. Este é o momento para que os empresários que têm outra consciência comecem a agir para proteger inclusive seus próprios negócios.

Durante o debate a senhora acusou Bolsonaro de estar cometendo crimes contra a humanidade pelo ocorrido na Amazônia. Por que?

Porque ele já fez uma campanha utilizando as ações de proteção ambiental. Ele tomou muitas medidas que deram um sinal contrário às forças que sempre agiram, mas nenhum governo até então havia feito um discurso consentindo esse tipo de coisas (...) Então, se o governo propicia uma ação, é ele que está cometendo um erro porque sempre houve desmatamento e incêndios na Amazônia, mas nunca um governo fez apologia à ilegalidade.

Chegou o momento de que a comunidade internacional proteja a Amazônia?

O mundo, com toda certeza, está aterrorizado porque a Amazônia tem uma dupla função: é um regulador do planeta por seus serviços ambientais mas ao mesmo tempo, se fosse destruída, seria um gatilho para o aumento da temperatura que dispararia outros gatilhos em relação com a biologia marinha, os degelos. Temos condições para controlar o desmatamento da Amazônia e isso só dependerá de uma capacidade de mobilização interna.