Médica condenada à morte no Sudão cuida dos filhos com algemas nas pernas

A crise na Síria em fotos
A crise na Síria em fotos
Al Nour al Zaki.

Cartum, 30 mai (EFE).- A médica sudanesa Mariam Yahya Ibrahim, condenada à forca por se converter ao cristianismo, lamenta ter de amamentar sua filha recém-nascida "com algemas nas pernas e fechada em uma prisão" em um subúrbio ao oeste de Cartum, revelou nesta sexta-feira seu marido, Daniel Wani.

Em uma entrevista por telefone à Agência Efe ele contou que sua mulher recebeu "com alegria" seu novo bebê, embora lamente as condições em tenha vindo ao mundo.

Wani, de origem sul-sudanesa, mas de nacionalidade americana, comemorou ter podido ver sua filha que nasceu na quarta-feira passada na penitenciária feminina de Omdurman, e disse estar confiante de poder continuar com as visitas na próxima semana. As autoridades penitenciárias deram a ele a permissão de visitar sua mulher duas vezes por semana, com duração de 20 minutos por encontro.

Ele esclareceu que mãe e filha "estão em bom estado de saúde e com bom humor", apesar das circunstâncias da detenção. Também contou que a menina se chamará Maya, e a descreveu como uma "formosa pequena". Segundo ele, a recém-nascida compartilha a cela com seu irmão Martin, de um ano e oito meses.

Wani revelou as contínuas tentativas dos clérigos, que pertencem a instituições governamentais, de convencer a jovem a voltar ao Islã, apesar de pesar sobre ela a sentença de morte na forca.

"Mariam insiste em sua postura, que sua origem sempre foi cristã, e pediu à administração penitenciária para não ser mais incomodada com as repetidas tentativas inúteis" de fazer com que se declare muçulmana, explicou à Efe o marido.

Ele reconheceu também a existência de pressões por parte de diferentes líderes religiosos islâmicos para convencê-la a deixar o cristianismo.

"Como vai voltar ao Islã se nunca foi muçulmana? Seu pai foi muçulmano, isso é certo, mas quem a criou foi sua mãe, que é cristã", detalhou Wani.

O marido disse que aguarda o pronunciamento do Tribunal de Apelações, depois que o advogado do caso rejeitou o veredicto e recorreu para revogar a sentença ou reduzir a pena.

"Tenho confiança de voltar a vê-la em breve em liberdade", assinalou.

Daniel Wani se casou com Mariam Yahya Ibrahim em uma Igreja Católica em Cartum há três anos, e o casal teve o primeiro filho antes de começar o processo judicial. No entanto, o juiz que a condenou a morte, declarou nulo o casamento, já que as leis da "sharia" (lei islâmica) não permitem que uma mulher muçulmana se case com um cristão. A aplicação da "sharia" no Sudão está no centro de muitas críticas, que consideram que esta não deve se contrapor aos direitos humanos.

O tribunal sudanês sentenciou Mariam a 100 chicotadas e à execução na forca, após ter declarado a mulher culpada das acusações de apostasia (abandono da fé) e adultério. Seguindo a legislação sudanesa, a pena de morte será aplicada daqui a dois anos, quando terminar o período de amamentação da menina que nasceu dentro da prisão.

A Anistia Internacional divulgou um duro comunicado qualificando de "aberração" a sentença contra a médica, de 27 anos. Segundo a organização, os delitos de que é acusada não deveriam ser considerados como tais. A este clamor se uniram outras organizações como Human Rights Watch e ONGs regionais, como o Centro Africano para Estudos de Justiça e Paz.

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