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Aquecimento global pode forçar migração de 216 milhões de pessoas até 2050

Ações imediatas contra a mudança climática poderiam reduzir as migrações em 80%, diz estudo do Banco Mundial - Getty Images
Ações imediatas contra a mudança climática poderiam reduzir as migrações em 80%, diz estudo do Banco Mundial Imagem: Getty Images

13/09/2021 16h08

O aquecimento global poderá forçar até 216 milhões de pessoas a deixarem as regiões onde vivem até 2050, afirma estudo do Banco Mundial publicado nesta segunda-feira (13). A falta de água e produção agrícola insuficiente são as causas mais prováveis para os deslocamentos, de acordo com os pesquisadores que não consideram esse fenômeno como irreversível.

"As mudanças climáticas são um motor cada vez mais poderoso de migração", observaram os especialistas da instituição, destacando "a urgência de agir", pois "os meios de subsistência e o bem-estar humano são cada vez mais postos à prova".

O novo relatório complementa o primeiro desse tipo, publicado em 2018, e que focava em três regiões do mundo: África Subsaariana, Sul da Ásia e América Latina. A instituição havia projetado um número de 143 milhões de "migrantes do clima" até 2050 para essas partes do mundo.

Desta vez, o estudo acrescentou três outras regiões: Leste Asiático e Pacífico, Norte da África e a região que compreende o Leste Europeu e a Ásia Central, a fim de desenvolver uma "estimativa global" para os países pobres, explica Juergen Voegele, vice-presidente do Banco Mundial responsável por desenvolvimento sustentável.

Os 216 milhões representam "quase 3% da população total" dessas regiões, afirmam os autores do relatório. Porém, o número pode ser ainda maior, na medida em que o Banco Mundial não contabiliza migrantes da América do Norte, de países ricos da Europa ou mesmo do Oriente Médio, onde também podem ocorrer desastres climáticos.

Reviravolta possível

"É importante observar que essa projeção não está gravada em mármore", ponderou Veogele. "Se os países começarem a reduzir os gases de efeito estufa, diminuindo as lacunas de desenvolvimento, restaurando ecossistemas vitais e ajudando as pessoas a se adaptarem, a migração climática poderia ser reduzida em cerca de 80%, para 44 milhões de pessoas até 2050", explica.

Mas sem uma ação decisiva, haverá "pontos críticos" de migração climática com repercussões significativas para as regiões de acolhimento, muitas vezes mal preparadas para receber tantos migrantes adicionais.

"A trajetória da migração climática ao longo do próximo meio século depende de nossa ação coletiva sobre as mudanças climáticas e o desenvolvimento nos próximos anos", conclui Voegele, apelando à ação "imediata".

"Nem todas as migrações podem ser evitadas", ele observa. Contudo, "se bem administradas, as mudanças na distribuição da população podem ser parte de uma estratégia de enfrentamento eficaz do problema, permitindo que as pessoas saiam da pobreza e construam meios de subsistência resilientes", diz ele.

Por enquanto, o Banco Mundial prevê que, em 2050, a África Subsaariana poderá ter até 86 milhões de migrantes climáticos; Leste Asiático e Pacífico, 49 milhões; Sul da Ásia, 40 milhões; África do Norte, 19 milhões; América Latina, 17 milhões; e Europa Oriental e Ásia Central, 5 milhões.

Falta d'água como motor para deslocamentos

O relatório cita vários exemplos, como o do Norte da África, onde a questão do acesso à água é o principal fator da migração interna.

De acordo com os pesquisadores do Banco Mundial, a falta d'água empurra as populações das áreas não costeiras e do interior a partirem, "retardando o desenvolvimento nos focos de emigração climática ao longo da costa nordeste da Tunísia, costa argelina, oeste e sul do Marrocos".

No Egito, as partes oriental e ocidental do delta do Nilo, incluindo Alexandria, podem ser propensas à partidas de população devido a menor disponibilidade de água potável e ao aumento do nível do mar.

Já Cairo, Argel, Túnis, Trípoli, o corredor Casablanca-Rabat e Tânger podem, pelo contrário, se tornar "pontos quentes de influxo migratório".

Sem surpresa, essas são as regiões mais pobres e vulneráveis, que correm o maior risco com os efeitos das mudanças climáticas, podendo perder os ganhos de desenvolvimento obtidos nas últimas décadas.