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Parada do Orgulho LGBT+ na Turquia tem cerca de 200 presos, dizem organizadores

26/06/2022 17h11Atualizada em 26/06/2022 19h36

A polícia turca impediu hoje a Parada do Orgulho LGBTQIA+ em Istambul, prendendo mais de 200 pessoas, entre ativistas e jornalistas, incluindo um fotógrafo da AFP.

Ainda antes do início da manifestação, tropas de choque realizaram uma primeira grande batida em diversos bares e nas ruas do bairro de Cihangir, ao redor da emblemática praça Taksim, prendendo "aleatoriamente" as pessoas que ali estavam, apurou a AFP.

De acordo com a contagem dos organizadores do evento, cerca de 200 pessoas no total foram detidas em diversas investidas das forças de ordem e começaram a ser liberadas gradativamente no início da noite.

A ONG Kaos GL, que milita pela promoção dos direitos e pela proteção das pessoas LGBTQIA+, já havia contabilizado "mais de 150" prisões no período da tarde. A Anistia Internacional pediu a "libertação incondicional e imediata" dos detidos no Twitter.

Como todos os anos, a Parada do Orgulho LGBTQIA+ foi oficialmente proibida pelo governador da cidade, mas centenas de manifestantes agitando bandeiras com as cores do arco-íris se reuniram nas ruas adjacentes à Praça Taksim, que está completamente fechada ao público.

"O futuro é queer"

Cantando "O futuro é queer!", "Você nunca estará sozinho!" ou "Estamos aqui, somos queer, não vamos a outro lugar!", os manifestantes marcharam então por pouco mais de uma hora nas ruas do bairro de Cihangir, apoiados por moradores que se manifestavam das janelas.

Os presos foram conduzidos pelas forças de ordem para a principal delegacia de polícia de Istambul, observou um cinegrafista da AFP.

"Eles tentam nos banir, nos impedir, nos discriminar e até nos matar a cada minuto de nossa existência", declarou Diren, 22 anos, à agência de notícias. "Mas hoje é uma oportunidade de defender nossos direitos, de gritar que existimos: vocês nunca vão conseguir parar os queers", acrescentou Diren, usando o termo que designa qualquer forma de altersexualidade e refuta a definição biológica de gênero.

De acordo com diversas testemunhas, a polícia tentou impedir que a imprensa filmasse as prisões. Bülent Kilic, um experiente e premiado fotógrafo da AFP, familiarizado com zonas de conflito, foi algemado pelas costas e carregado em uma viatura da polícia com outras pessoas. Ele já havia sido preso no ano passado nas mesmas circunstâncias.

"O hábito de prender"

No Twitter, a organização de defesa de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) lamentou que as autoridades turcas pareçam "ter o hábito de prender o fotojornalista da AFP Bülent Kilic". "Apesar de três condenações proferidas pelo Tribunal Constitucional nos últimos três anos, as forças de segurança continuam com as agressões e detenções arbitrárias contra jornalistas. Infelizmente a administração criou o hábito de não levar em conta nem da Corte nem da lei", acrescentou o representante da organização Erol Onderoglu.

Depois de um desfile espetacular em 2014, com mais de 100 mil participantes em Istambul, as autoridades turcas proíbem a Parada do Orgulho LGBT+ ano após ano, oficialmente por razões de segurança.

Na sexta-feira (24), a Comissária Europeia para os Direitos Humanos, Dunja Mijatovic, exortou "as autoridades de Istambul a levantarem a proibição em vigor contra a Parada do Orgulho Gay e a garantirem a segurança dos manifestantes pacíficos". "Os direitos humanos das pessoas LGBT+ na Turquia devem ser protegidos", acrescentou, pedindo "um fim ao (seu) estigma".

"Loucos"

A homossexualidade, descriminalizada na Turquia desde meados do século 19 (em 1858), não é proibida, mas permanece amplamente sujeita à desaprovação social e à hostilidade do partido conservador islâmico no poder, o AKP, e do governo do presidente Recep Tayyip Erdogan. Um ministro certa vez chamou os homossexuais de "loucos".

Em 2020, a plataforma Netflix foi obrigada a desistir da produção de uma série na Turquia por apresentar um personagem gay e não ter obtido permissão às autoridades. No mesmo ano, a marca francesa de equipamentos e roupas esportivas Decathlon havia sido alvo de pedidos de boicote na Turquia por ter veiculado mensagens de apoio às comunidades LGBTQ+ em suas campanhas.