Queda de Assad pode incitar volta de ações do Estado Islâmico no Ocidente?

A procuradoria antiterrorista francesa alertou nesta terça-feira (10) sobre a presença de combatentes jihadistas franceses entre os rebeldes sírios que derrubaram o governo de Bashar Al-Assad. Para especialista entrevistado pela RFI, existe risco real de uma volta do terrorismo do Estado Islâmico.

Os temores da França e outros países ocidentais são de uma volta das ações terroristas do Estado Islâmico após a queda de Bashar Al-Assad. "O risco existe realmente, mas não é tanto o de um novo califado ou de uma conquista territorial como em 2015. O risco é que o Estado Islâmico tente, por meio de ataques, sobretudo contra minorias ou organizações internacionais, desestabilizar a Síria e mergulhar novamente o país em uma guerra civil", analisa Asiem El Difraoui, pesquisador do Instituto de Estudos Políticos de Paris, especialista no movimento jihadista internacional.

"O Estado Islâmico sempre teve como doutrina algo que se chama 'gestão da barbárie', que diz que para reinar sobre um país é necessário antes semear o caos total através do terror. Dessa maneira as pessoas vão se voltar para o Estado Islâmico", explica o especialista em entrevista à RFI. Ele Lembra que foi o que fizeram no Iraque, após a liberação de Bagdá, com um ataque espetacular contra a sede da ONU que matou o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante das Nações Unidas no país. "Eles atacaram no Iraque os estrangeiros e sobretudo aos xiitas no poder para semear a guerra civil e essa estratégia funcionou", sublinha.

De acordo com Asiem El Difraoui, não se tem uma ideia precisa do número de combatentes do Estado Islâmico ainda presentes no deserto sírio, na fronteira com o Iraque. Segundo o especialista, há por volta de uma centena de milhares de apoiadores do grupo nos campos curdos nos territórios controlados por esta minoria no Iraque. Essas pessoas, detidas com suas famílias há anos pelas forças curdas, sobretudo no campo de refugiados de Al-Hol, no norte da Síria, poderiam aproveitar das lacunas de segurança para escapar.

O HTS, grupo rebelde mais forte que tomou o poder em Damasco, conseguiu controlar durante anos pequenos grupos jihadistas, sobretudo franceses, e deixou claro que é contra a realização de ações armadas contra o Ocidente.

"A grande questão é se esses pequenos grupos vão tentar criar relações com o Estado Islâmico. Então existe um risco. É necessário dizer também que o HTS combateu o Estado Islâmico com todos os meios, também foi vítima de ataques suicidas do grupo Estado Islâmico", lembra o especialista, afirmando que os dois grupos são inimigos desde sua separação em 2015.

100 jihadistas franceses procurados por terrorismo

Cerca de "cem franceses" estavam no reduto rebelde de Idlib, no noroeste da Síria, antes da queda de Bashar al-Assad no domingo (8). Eles são "a principal preocupação" das autoridades francesas, anunciou o procurador antiterrorismo Olivier Christen, em entrevista à rádio RTL, especificando que eles eram "combatentes jihadistas".

"Entre os combatentes que derrubaram o regime de Bashar Al-Assad em menos de uma semana, estão os jihadistas franceses do movimento Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e a brigada de Omar Omsen" ou Omar Diaby, considerado responsável por recrutar dezenas de jihadistas na França, de acordo com o procurador antiterrorismo em entrevista ao jornal francês Le Figaro.

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"Cerca de cinquenta pertencem, de fato, à brigada de Omar Omsen e cerca de trinta ao movimento liderado" por Abou Mohammad al-Jolani, líder do HTS, detalhou Christen, afirmando que há "cerca de trinta mulheres" em Idlib. "Não sabemos exatamente quantos destes combatentes participaram no ataque a Damasco e em que proporção", disse ele ao Le Figaro.

Segundo o procurador antiterrorismo, "dos 1.500 franceses" que partiram da França recrutados pelo jihad nos anos 2000, 390 voltaram para a França, 500 morreram, "cerca de uma centena" estavam em Idlib, "cerca de 150" foram detidos no nordeste da Síria e no Iraque e 300 estão "desaparecidos".

"Há alguns que provavelmente se juntaram às tropas rebeldes clandestinamente, mas, por enquanto, não há vestígios imediatos", observou o Christen na RTL.

Uma ofensiva relâmpago de grupos rebeldes liderados pelo grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que começou em 27 de novembro, pôs fim ao regime de Bashar Al-Assad no domingo, após 13 anos de guerra civil.

"Cerca de trinta pessoas parecem estar bastante próximas do HTS e podem ter se juntado ao combate, apesar de serem conhecidos como indivíduos mais envolvidos em operações de financiamento", indicou o procurador.

(Com agências)

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