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Jamil Chade

Doria afirma que segue a OMS e que Brasil tem "um desgoverno"

23.mar.2020 - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), durante coletiva sobre o coronavírus - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
23.mar.2020 - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), durante coletiva sobre o coronavírus Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Colunista do UOL

01/04/2020 17h31

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O governador de São Paulo, João Doria, afirmou que o Brasil tem "um desgoverno" e deixa claro que, no estado, a ordem é a de seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), não do Palácio do Planalto.

"No momento em que você mais precisaria ter um governo, sério e confiável, temos um desgoverno, irresponsável", declarou o governador, em um comentário dirigido ao presidente Jair Bolsonaro.

Em entrevista exclusiva à coluna, ele apontou: "Ou o Brasil se insere de forma responsável ou corre o risco de ser uma chaga para o mundo". Sua referência era ao perigo de que, mesmo combatido no restante do planeta, o vírus continue a circular no Brasil se não houver uma política coerente.

"Um presidente que não lidera seu país na luta contra a covid-19 para proteger vidas e garantir institucionalidade do país é grave", afirmou.

"Não só não conduz do ponto de vista da saúde, desrespeitando as recomendações da OMS, como vem ao longo dos últimos 15 dias multiplicando conflitos, com fake news, com governadores, Judiciário, Supremo Tribunal, jornalistas, deputados, ameaçando veículos de comunicação. Um desgoverno", afirmou.

Doria indicou que tem interesse em buscar uma parceria com a OMS para permitir que o estado receba equipamentos para lutar contra a pandemia. Nas últimas semanas, a agência internacional destinou 2 milhões de kits de equipamentos para 74 países de todo o mundo.

De acordo com o governador, entre os itens mais necessitados no momento estão os equipamentos de proteção (óculos, máscaras e aventais) e respiradores. Além disso, Doria indica que tem todo o interesse em negociar a compra de kits para testes.

Segundo ele, o estado tem realizado três mil testes por dia. Mas precisaria realizar seis mil diários. "Essas são as prioridades absolutas", disse, insistindo que não quer doação da OMS, mas sim a compra desses produtos.

Considerado pelo próprio governador como o epicentro do coronavírus na América do Sul, São Paulo vai seguir "clara e objetivamente a OMS".

Segundo ele, desde o final de fevereiro o estado conta com um comitê com profissionais para lidar com a crise. "Desde o início, o protocolo é da OMS", insistiu.

Segundo Doria, a quarentena imposta sobre o estado — e criticada por Bolsonaro — começou a dar sinais positivos. Mas alerta que ainda é muito cedo para qualquer comemoração e que a ordem continua sendo a de permanecer em casa.

Mandetta

O governador elogiou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Mas apontou que ele está sob a pressão do "gabinete do ódio", de ideólogos, de grupos que querem aumentar conflito, com os governadores. "O coitado do Mandetta fica no meio de tiroteio", disse.

Doria indicou que chegou a ser consultado sobre a possibilidade de entrar em contato diretamente com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, mas revelou que "ficou na dúvida". Um gesto neste sentido poderia, de forma indireta, enfraquecer Mandetta.

"Tenho procurado apoiar o ministro. Em 85% dos casos, ele tem sido correto e, dos males, o menor", disse. O governador lamentou as tentativas repetidas do Planalto de "desprestigiar" o ministro, inclusive não o convidando para uma reunião nesta quarta-feira com médicos, em Brasília.

Segundo Doria, caso ele sinta que esse será o caminho adotado pelo governo, poderá repensar a situação e pedir um contato direto com Tedros, em Genebra.