Josmar Jozino

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PCC usou milhões ao tentar resgates em prisão; CV parece que fugiu de graça

Investigações da Polícia Federal apontam que o PCC (Primeiro Comando da Capital) gastou milhões de reais em 2022 para tentar resgatar líderes da maior facção criminosa do país recolhidos em prisões federais.

Já o CV (Comando Vermelho) não investiu um centavo, segundo informações preliminares da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), e mesmo assim dois presos da organização criada no Rio de Janeiro fugiram da Penitenciária Federal de Mossoró (RN) esta semana. As investigações apontam que houve falhas na segurança.

Uma das operações da PF, a Sequaz, deflagrada em março do ano passado em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia e no Distrito Federal dizia que o PCC desembolsou R$ 5 milhões para tentar libertar Marco Willians Herbas Camacho, 56, líder máximo da facção paulista.

Em agosto de 2022, a PF deflagrou outra operação, a Anjos da Guarda. Os agentes anunciaram que tinham frustrado de uma vez três planos para resgatar líderes do PCC presos nas penitenciárias federais de Brasília e Porto Velho.

A operação foi batizada de Anjos da Guarda em alusão aos servidores da segurança pública, principalmente policiais penais federais, que seriam, segundo a PF, sequestrados e usados como moeda de troca na libertação dos chefes do grupo criminoso.

Na época houve a informação de que Marcola, preso ininterruptamente desde meados de 1999, havia retirado de uma "conta poupança" R$ 60 milhões para financiar o resgate dele e de outros comparsas. Foi informado também que ele ganhava R$ 5 milhões por semana com "negócios particulares".

Mesmo com centenas de milhões de reais em caixa, como sugerem as investigações da Polícia Federal, o PCC até hoje não conseguiu botar em prática um plano de resgate ou fuga dos homens da cúpula da organização. Eles continuam trancafiados e isolados em prisões federais.

Marcola; o irmão dele, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior; o braço direito Fuminho; e os comparsas Cláudio Barbará da Silva, o Barbará; Roberto Soriano, o Tiriça; e Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, todos do primeiro escalão do PCC, estão na Penitenciária Federal de Brasília.

Foragidos do CV não tinham advogado particular, diz documento

Já o presídio de Mossoró, onde ocorreu na quarta (14) a primeira fuga da história dos presídios federais, abriga Luís Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, considerado o chefão do Comando Vermelho. Ele mesmo não fugiu, segundo informações de agentes penais federais.

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Os dois presos do CV que escaparam são do Acre e, em muitas ocasiões não tinham dinheiro para contratar advogados e eram assistidos gratuitamente por profissionais da DPU (Defensoria Pública da União). Ambos também não ocupavam posição de destaque na facção fluminense — eles tinham planos de se aproximar das lideranças, de acordo com o secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos.

Segundo documentos da Senappen, Deibson Cabral Nascimento, 33, um dos foragidos de Mossoró, recebeu atendimento de advogado particular em 18 de setembro de 2018, quando ainda estava na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR).

Rogério da Silva Mendonça, 35, o outro foragido, foi assistido por advogado particular pela última vez em 23 de junho de 2017, também em Catanduvas. Em 7 de dezembro do ano passado, ele foi atendido juridicamente por um advogado da Defensoria Pública da União.

'Série de causas'

Em coletiva ontem, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse acreditar que não houve envolvimento externo na fuga. Ele mencionou que não havia, por exemplo, um veículo aguardando os fugitivos, como ocorreu em fugas em outros estabelecimentos prisionais. Para ele, "houve uma série de fatores" que facilitaram a evasão e as responsabilidades estão sendo apuradas.

Lewandowski afastou a direção da penitenciária, nomeou um interventor e anunciou uma série de medidas de reforço na segurança nos cinco presídios federais — como a construção de muralhas.

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Mais cedo, o secretário nacional de Políticas Penais, André Garcia, havia classificado a fuga como um "fato irrepetível". "Nesses momentos que a gente atua numa situação dessa, a gente pode classificar como uma crise no sistema prisional, porque o fato é inusitado", disse.

Um conjunto de circunstâncias favoreceu a fuga destes dois detentos. É por isso que nós, num primeiro momento, numa hipótese, não imaginamos que tenha sido algo orquestrado de fora, algo que tenha sido arquitetado com muito dinheiro, com muito custo, com veículos aguardando os fugitivos. Ou eventualmente, como já aconteceu no passado, com helicópteros. Foi uma fuga, diria eu, pelo menos num primeiro momento, que custou muito barato, que foi efetuada com aquilo que foi encontrado no local.
Ricardo Lewandovski, ministro da Justiça

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