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Após nove anos, Gil Rugai ouve hoje se é culpado ou inocente pela morte do pai e da madrasta em SP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

22/02/2013 06h00

Depois de cinco dias, chega ao fim nesta sexta-feira (22) o júri popular que decidirá se o estudante Gil Rugai, 29, é culpado ou inocente pelos assassinatos do pai, Luiz Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, ocorridos há quase nove anos, em São Paulo. A leitura da sentença judicial teve a divulgação autorizada pelo juiz do caso, Adilson Simoni, e será transmitida em tempo real pelos meios de comunicação. A previsão é que a decisão saia por volta das 19h. Gil é acusado de duplo homicídio.

Desde segunda-feira (18), foram ouvidas 15 testemunhas entre as cinco selecionadas pela acusação, dez pela defesa --que dispensou duas-- e três pelo juiz que preside o julgamento no Tribunal do Júri, no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP). Os sete jurados que decidirão se Gil Rugai deve ser absolvido ou condenado se manifestarão após os debates entre Ministério Público e defesa, que terão, cada um, uma hora e meia para as falas.

Passado o debate, há possibilidade de réplica e tréplica de uma hora cada. Só depois dos debates é que o conselho de sentença formado pelos jurados --neste júri, cinco homens e duas mulheres-- se reúne com o juiz, o promotor Rogério Zagallo e os advogados de defesa, Marcelo Feller e Thiago Anastácio, para dar início à votação dos quesitos que determinará a absolvição ou a condenação. Depois dessa etapa, o magistrado lê a sentença e faz, em caso de condenação, a dosimetria da pena.

O MP pede que Gil Rugai seja condenado com o máximo estipulado em lei para crime de homicídio doloso (intencional), ou seja, 30 anos por vítima.

Vigia, antropóloga, irmão do réu e delegado entre as testemunhas

O julgamento foi marcado por depoimentos de agentes públicos que participaram da investigação, sendo que o mais aguardado era o delegado que investigou o caso à época pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Rodolfo Chiarelli. Em cerca de seis horas --o mais longo depoimento entre as 15 testemunhas--, o policial disse ter certeza de que o estudante é o único culpado pelos crimes.

A defesa de Gil Rugai usou o depoimento do delegado para explorar seu principal argumento para alegar a inocência do réu, até então: a falta de perícias consideradas relevantes para o caso, como a da arma usada no crime ou a que comprovasse o suposto desfalque praticado contra o pai, e a fragilidade daquelas já realizadas, como a do local do crime.

Para a acusação, o depoimento mais citado ao longo de todo o júri foi a de um vigia da rua onde o casal morava. Testemunha protegida durante seis anos, depois de ter a guarita queimada em uma ação até hoje sem autor esclarecido, ele disse ter visto Rugai saindo da casa do pai cerca de 20 minutos após ouvir os tiros. É a única testemunha a atrelar o réu diretamente ao cenário dos assassinatos.

O júri contou ainda com o depoimento de uma antropóloga, a professora Ana Lúcia Pastore, no Núcleo de Estudos da Violência da USP. Ela foi levada pela defesa para tentar dissociar do réu, perante os jurados, a suposta personalidade "estranha" ou "esquisita" de Gil Rugai como sendo necessariamente a de um assassino. No entanto, a professora alertou os jurados ainda sobre o princípio jurídico do indubio pro reo, segundo o qual, em caso de dúvida, o réu deve ser absolvido.

O protocolo de defesa e acusação inquirindo as testemunhas foi quebrado na quarta-feira (20) durante depoimento do irmão do réu, o massagista Léo Rugai, 27. Depois de dizer que o irmão é inocente e de falar à defesa, ele foi dispensado de perguntas pelo promotor, que alegou respeito ao filho de uma das vítimas.


Interrogatório de Rugai

Mais aguardado no rito do processo, Rugai prestou nesta quinta-feira (21) um interrogatório em que, como era esperado e anunciado pelos advogados, mais uma vez se declararia inocente. “Não sei quem seria capaz de fazer uma maldade desse tamanho”, disse, em referência aos crimes e à acusação de que o teria praticado.

O estudante falou pouco mais de quatro horas, sendo apenas 35 minutos de respostas às perguntas da promotoria. A defesa questionou o método de Zagallo, orientou o réu a permanecer calado e solicitou ao juiz, com sucesso, que o promotor se abstivesse de formular as perguntas mesmo que Rugai dissesse, a todas elas, que não falaria. O magistrado citou uma lei federal de 2003 e a Constituição de 1988 para atender a defesa.

No final do interrogatório, os advogados do jovem exibiriam em um telão o resultado de uma quebra de sigilo telefônico do réu que derrubaria, na avaliação deles, um dos principais argumentos da acusação: o de que pai e filho teriam brigado na noite do dia 23 de março (cinco dias antes de crime), o que teria feito Rugai ser expulso de casa. Pelas ligações, no horário da suposta briga na produtora da vítima, há ligações do estudante para o pai em diferentes pontos da cidade.

Só depois de Rugai ser ouvido é que os advogados anunciaram o nome de um suposto "verdadeiro assassino" do casal: um ex-funcionário da produtora de Luiz Carlos que tinha a chave da residência das vítimas e movia uma ação trabalhista de R$ 600 mil contra o ex-patrão.