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Gil Rugai tinha "mala de fuga judaica" com facas e pistola, diz ex-sócio em júri popular

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

21/02/2013 12h07

O ex-sócio de Gil Rugai, Rudi Otto, confirmou em juízo ter visto uma pistola com o jovem antes dos assassinatos do casal Luiz Carlos Rugai e Alessandra de Fátima Troitini em março de 2004. Otto é a primeira testemunha a ser ouvida nesta quinta-feira (21), no quarto dia de júri do estudante, e afirmou ainda ter sido ameaçado duas vezes, por telefone, quatro dias após o depoimento dado à Polícia Civil no dia 31 daquele mês e ano.

De acordo com a testemunha, durante as perguntas feitas pelo promotor Rogério Zagallo, a arma estava em uma pasta que Rugai chamava de “mala de fuga”, em referência, teria dito o ainda sócio, "ao judaísmo". Segundo ele, havia junto com a pistola dólares, veneno, uma estrela ninja, duas facas, um canivete e dois selinhos nos quais Rugai teria dito haver “ácido”.

“Não me senti confortável”, declarou, sobre ter visto o material. Ele afirmou que isso só aconteceu uma vez, mas admitiu que não tocou o equipamento e que não saberia dizer se era uma arma de brinquedo ou verdadeira.

Indagado pelo promotor sobre as razões para ter desconfiado de Rugai "de imediato", a testemunha relatou que o então sócio "estava estranho" na semana anterior ao crime. Por outro lado, Otto disse que não sabia em detalhes como era a relação entre pai e filho. 

Indagado pelo promotor se a menção à 'mala de fuga judaica' pareceu feita por Rugai em tom de brincadeira, Otto foi taxativo: ""Se foi brincadeira, era uma brincadeira séria. Não achei graça", respondeu.

Ameaças "em linguajar de ladrão"

A testemunha disse ainda ter recebido duas ligações telefônicas no dia 4 de abril de 2004 --quatro dias depois de ter prestado depoimento à polícia dizendo ter visto a arma e com desconfiança sobre o sócio.

Na ligação, segundo o processo --o que foi confirmado hoje em depoimento por ele --, Otto ouviu que era "pra ficar esperto aí" pois "o próximo é você". O jovem disse ver relação entre a ameaça, que ele diz ter sido "em linguajar de ladrão", e o que dissera à polícia dias antes, uma vez que nunca teria sido ameaçado.

Primeira de três testemunhas do dia

Otto é a primeira testemunha das três últimas que restam ser ouvidas nesta quinta. Os três foram arrolados pelo juiz do caso, Adílson Simoni, a pedido de defesa e acusação.  

O jovem afirmou no processo que Rugai possuía uma arma na agência na qual eram sócios, a KTM. Segundo a acusação, a testemunha relata que, um dia após o assassinato do casal Luiz Carlos Rugai, pai do réu, e Alessandra de Fátima Troitini, madrasta, a arma --uma pistola automática idêntica à usada nos crimes --ja não estaria mais na agência. Otto disse ao juiz que não sabia dizer se a arma era de verdade ou de brinquedo. Ele afirma que não pegou o equipamento nas mãos, o que vinha sendo dito pela acusação.


Entenda o caso

Gil Rugai é acusado de tramar e executar a morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, 40, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitino, 33, em 28 de março de 2004. O casal foi encontrado morto a tiros na residência.

Segundo a acusação, o crime foi motivado pelo afastamento de Gil Rugai da empresa do pai, a Referência Filmes. O ex-seminarista estaria envolvido em um desfalque de R$ 100 mil e, por isso, teria sido demitido do departamento financeiro.

Durante as perícias do crime foram encontrados indícios que, segundo a acusação, apontam Gil Rugai como o autor do crime. Um deles foi o exame da marca de pé deixada pelo assassino numa porta ao tentar entrar na sala onde Luiz Carlos tentou se proteger.

O IC (Instituto de Criminalística) realizou exames de ressonância magnética no pé de Rugai e constatou que havia lesões compatíveis com a marca na porta.

Outra prova que será apresentada pela acusação foi uma arma encontrada, um ano e meio após o crime, no poço de armazenamento de água da chuva do prédio onde Gil Rugai tinha uma agência de publicidade.

O exame de balística confirmou que as nove cápsulas encontradas junto aos corpos do empresário e da mulher partiram dessa pistola.

O sócio de Rugai afirmou que ele mantinha uma arma idêntica em uma gaveta da agência de publicidade e que não a teria visto mais lá no dia seguinte aos assassinatos. Gil Rugai chegou a ser preso duas vezes, mas foi solto por decisões da Justiça.