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'Novo cangaço' atacou ao menos 6 cidades de SP em pouco mais de 1 ano

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

31/08/2021 04h00

O assalto feito por um grupo de homens fortemente armados na madrugada de ontem em Araçatuba (a 519 km da capital paulista), que deixou ao menos três pessoas mortas e outras quatro feridas, não foi um caso isolado. Em pouco mais de um ano, houve ao menos seis ataques do tipo no estado.

As ações se repetem: criminosos armados com fuzis explodem caixas eletrônicos, fazem reféns na fuga, espalham explosivos pelas ruas e incendeiam veículos para isolar a cidade. Em Araçatuba, ação mais violenta do tipo nos últimos dois anos, o grupo ainda usou drones para monitorar a movimentação de policiais.

Mapa Araçatuba - São Paulo  - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

A ação de Araçatuba só foi menos violenta se comparada com a tentativa de roubos a caixas eletrônicos de 4 de abril de 2019 em Guararema, na região metropolitana de São Paulo, que teve 11 suspeitos mortos após troca de tiros com a polícia.

Após o ataque, policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e do COE (Comando e Operações Especiais) se deslocaram da capital paulista até a cidade para apoiar buscas e recolhimento de explosivos.

Ataque em Araçatuba

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, coronel Álvaro Batista Camilo, afirmou que a quadrilha se beneficiou de informação privilegiada para executar os roubos. "É mais uma ação com informação privilegiada, e as investigações já estão andando para chegar aos autores", afirmou Camilo em coletiva de imprensa.

Veja abaixo as cidades de São Paulo que também foram alvo desse tipo de ação de 2020 para cá.

Ourinhos

Na madrugada de 2 de maio de 2020, a cidade de Ourinhos, a 371 quilômetros da capital paulista, viveu momentos de pânico depois de um assalto a banco. Houve troca de tiros entre assaltantes e policiais. Uma base da PM foi alvejada.

Cerca de 15 assaltantes usaram explosivos no assalto. Imagens nas redes sociais mostraram um comboio de veículos a caminho da ação.

Botucatu

Cerca de 40 homens fortemente armados participaram de um assalto na madrugada de 30 de julho de 2020 em Botucatu, no interior paulista. O grupo colocou explosivos em ao menos três agências bancárias.

Moradores foram feitos reféns. O grupo trocou tiros com policiais militares e incendiou ao menos cinco veículos em duas rodovias na fuga. Um dos assaltantes morreu após ser baleado em confronto. Quase 20 suspeitos foram presos.

Araraquara

Bandidos fortemente armados tentaram assaltar agências bancárias no centro de Araraquara na madrugada de 24 de novembro de 2020. Houve troca de tiros entre os criminosos e policiais militares, mas ninguém se feriu.

Imagens publicadas por moradores da cidade nas redes sociais mostram a ação dos bandidos, que incendiaram carros e ao menos um caminhão nos arredores do batalhão da Polícia Militar para impedir a reação dos agentes.

Mococa

Na madrugada de 7 de abril, criminosos com armas de grosso calibre atacaram ao menos três agências bancárias em Mococa, município com cerca de 70 mil habitantes do interior de São Paulo, próximo à divisa com Minas Gerais.

Em imagens compartilhadas nas redes sociais, foi possível ouvir os tiros e ver pessoas com armas pesadas, com projéteis deixados pelas calçadas. Um guarda municipal ficou ferido.

Jarinu

Na madrugada de 13 de julho, uma quadrilha formada por cerca de 15 homens armados com fuzis e explosivos assaltou uma fábrica de joias de ouro e dois mercados em Jarinu, município com 30 mil habitantes na região de Jundiaí. Ao menos quatro veículos foram incendiados, fechando o acesso de duas vias. Segundo a Guarda Civil de Jarinu, o grupo teria vigiado a entrada da fábrica usando um drone para monitorar a chegada da polícia.

Conforme relatos de moradores, os criminosos chegaram à frente da fábrica em vários veículos e dispararam tiros de fuzil contra a guarita de segurança. Houve troca de tiros entre a polícia e os criminosos. Ninguém ficou ferido. Um veículo usado pela quadrilha foi encontrado por policiais em Cambuí, Minas Gerais, na rota de fuga dos criminosos.

O que é "novo cangaço"

O termo se refere aos criminosos que invadiam cidades do Nordeste no início do século 20 para assaltar bancos e carros fortes. À época, agia Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, o cangaceiro mais famoso da história.

A tática costuma ser a mesma: criminosos com armas de grosso calibre e explosivos geram pânico à população e saem da cidade.

As ações do "novo cangaço" podem ter integrantes de facções criminosas, sobretudo do PCC. Mas normalmente não são financiadas pela organização criminosa, que pode, contudo, alugar armamento e itens de logística.