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Marginal Tietê: O que se sabe sobre cratera aberta ao lado de obra do metrô

Do UOL, em São Paulo

01/02/2022 23h26Atualizada em 02/02/2022 18h47

Uma cratera abriu na terça-feira (1º) na pista local da Marginal Tietê, em São Paulo, no trecho onde ocorriam obras da linha 6-Laranja do metrô. O governo paulista afirma que houve um vazamento em uma adutora da Sabesp —ou seja, em um canal construído para condução de água ou esgoto. Mas ainda não se sabe o que provocou o acidente.

Ninguém ficou ferido. Quatro trabalhadores tiveram contato com a água do esgoto, que inundou o local, mas foram encaminhados para avaliação médica. As obras de contenção começaram ainda na terça. Segundo o governo, o buraco está sendo tampado com argamassa e rochas.

O UOL reuniu as informações coletadas sobre este caso, até o início da noite de quarta-feira (2):

O trânsito está interrompido?

A cratera abriu na pista local, no sentido Ayrton Senna, entre as pontes do Piqueri e Freguesia do Ó, por volta das 9h de terça. Logo em seguida, o trecho foi fechado.

Duas horas depois, o trânsito na pista expressa foi liberado. Na mesma tarde, a CET, companhia responsável pelo trânsito, chegou a abrir a pista central, mas a Defesa Civil pediu para que trecho continue interditado.

As pistas central e local estão fechadas. Ainda não foi confirmado quando o trânsito será liberado —o governo estadual e a prefeitura aguardam posicionamento da Acciona, concessionária responsável pela obra da linha 6-Laranja e pelos reparos.

Como fica o trânsito na área?

A CET está desviando os veículos que estão na pista central para a expressa, e veículos que estão na pista local estão sendo direcionados para o corredor da Av. Ermano Marchetti / Marquês de São Vicente e retornam para a Marginal Tietê na altura da Praça Pedro Corazza.

Segundo o prefeito Ricarod Nunes (MDB, cinco linhas de ônibus que levam 40 mil pessoas por dia passam no local. Técnicos da CET estão avaliando como fazer o desvio das linhas.

O que está sendo feito para consertar o asfalto?

Segundo o governo paulista, nesta terça-feira a situação está estável e todos os custos do reparo da marginal estão sendo cobertos pela Acciona, concessionária responsável pela obra da linha 6-Laranja do metrô. De acordo com Lúcio Matteucci, diretor-adjunto das obras da Linha 6-Laranja da Acciona, há três ações sendo desenvolvidas na tarde desta quarta-feira (2):

  • Preenchimento da cratera com rochas e argamassa;
  • Interrupção de fluxo de esgoto junto à Sabesp;
  • Aterro do poço do metrô para tentar impedir perda de solo (e a consequente abertura do local).

Quando a Marginal Tietê voltará ao normal?

Não há um prazo definido para que todos os trechos da marginal sejam liberados onde a cratera apareceu. Segundo o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Paulo Galli, tudo depende da forma como a estrutura de contenção será construída no trecho —se será necessário ou não o uso de estacas. Há duas possibilidades, segundo o governo:

  • Se forem necessárias as colocações de estacas para a contenção da pista da Marginal, o prazo de liberação da pista central ficaria para o dia 11;
  • Se os reparos atuais forem suficientes, e não precise instalar estacas, a pista central da Marginal pode estar liberada em até três dias.

O Rio Tietê foi atingido?

A presidente da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Patrícia Iglesias, disse que não. Ela afirma que há um "interceptor para contingenciamento", que evitou que o rio fosse contaminado.

"Temos isso tudo sobre controle, sem possibilidade de que esse esgoto seja direcionado para o rio. Na nossa vistoria de ontem, não encontramos nada no rio", concluiu.

A obra do metrô onde ocorreu o acidente foi prejudicada?

Segundo Lúcio Matteucci, diretor-adjunto das obras da Linha 6-Laranja da Acciona, a obra do metrô ao lado de onde a cratera apareceu está "intacta".

"Importante dizer que não houve nenhuma ruptura, de nenhuma estrutura da obra. Os túneis estão intactos, assim como o poço", declarou.

As outras obras da linha 6-Laranja foram prejudicadas?

Não. Segundo o governo de São Paulo, todas as estações da linha 6-Laranja não estão interligadas por túneis. Portanto, as construções seguem normalmente em cada estação.

Há risco de novos desabamentos?

Segundo a Defesa Civil, ao longo da terça-feira, pequenos desabamentos continuaram ocorrendo na cratera. Os deslizamentos aconteciam na direção à via expressa da Marginal e ao Rio Tietê. Logo pela manhã, apenas uma faixa da pista local havia sido prejudicada. No fim do dia, o buraco ocupava três das quatro faixas.

Com o início dos reparos, a cratera começou a ser preenchida com rocha e argamassa.

É necessário evacuar a região?

A Defesa Civil disse que não é necessário evacuar a região. Segundo o órgão, os desabamentos estavam restritos à pista da Marginal Tietê e não oferecem riscos a outras áreas ao redor do rio Tietê.

As chuvas podem provocar novos desabamentos?

O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos disse ao UOL News que obras como a da construção da linha 6- Laranja do metrô levam em consideração o volume de chuvas.

"As chuvas nunca seriam as culpadas; elas não estão fazendo nenhuma surpresa. É um dado conhecido de planejamento. Se tem a expectativa do aumento de pluviosidade, então, não se pode associar agora o acidente às chuvas", disse.

O trânsito pode provocar novos desabamentos?

De acordo com o perito criminal responsável pelas investigações, Luiz Ricardo Lopes, ainda não se pode determinar se o trânsito está influenciando ou não no aumento da cratera, mas é uma possibilidade.

Essa tem sido uma das preocupações da Defesa Civil, que teme que a vibração dos veículos e a retomada da chuva possam estimular os deslizamentos.

O que pode ter provocado o acidente?

Ainda não se sabe. Embora o governo diga que houve o rompimento de uma adutora de esgoto no local, não há confirmação se foi isso o que, de fato, ocorreu.

Inicialmente, a suspeita foi de que o acidente foi provocado pela escavadora tatuzão, utilizada nas obras. A Polícia Militar, que estava com equipe presente no local, disse que o desabamento ocorreu após o equipamento atingir o leito do Rio Tietê.

Embora a tese não tenha sido completamente descartada, o secretário de Transportes Metropolitanos, Paulo Galli, afirmou que a tuneladora (máquina usada para abrir túnel) estava a cerca de três metros de profundidade da área do rompimento.

O perito criminal responsável pelas investigações, Luiz Ricardo Lopes, disse que ainda aguarda informações da Sabesp sobre quais são as adutoras presentes no local e que é necessário investigar mais a fundo o ocorrido.

Tanto Lopes quanto Galli disseram que não se pode descartar que tenha ocorrido havido falha humana nas obras.

Mas para Sérgio Avelleda, ex-presidente do órgão gestor do Metrô de São Paulo, não parece provável que os responsáveis pela obra não soubessem da existência de uma rede de esgoto ou de uma adutora de água nos locais da escavação.

mapa cratera metro linha 6 -  -

Quem vai investigar o caso?

O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) instaurou um inquérito civil para investigar o que pode ter provocado o acidente e qual o impacto urbano e ambiental que o ocorrido acarreta na cidade. A polícia também investiga o caso.

O governador João Doria (PSDB) determinou que o incidente seja apurado, e a Secretaria de Transportes Metropolitanos anunciou a criação de um comitê para investigar o ocorrido internamente.

O que são as obras da linha 6-Laranja?

Com 15,3 km de extensão, a linha 6-Laranja é uma linha de metrô cuja previsão inclui a construção de 15 estações, da Brasilândia até o centro de São Paulo. Atualmente, o trecho leva entre uma hora e meia e duas horas para ser feito de ônibus. Com o metrô, a expectativa é de que a viagem leve 23 minutos.

As obras tiveram início em janeiro de 2015, mas foram paralisadas cerca de um ano e meio depois, em setembro de 2016, após um problema na PPP (Parceria Público Privada) firmada entre o governo estadual e o Consórcio Move São Paulo, formado pelas empresas Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC. As obras só foram retomadas em outubro de 2020, quando a concessionária espanhola Acciona assumiu o projeto.

A estimativa é de que 630 mil pessoas sejam beneficiadas após a entrega, inicialmente prevista para 2020 e remarcada para outubro de 2025.