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Apartamento de autor do massacre em cinema EUA estava programado para matar

Do UOL, em São Paulo

21/07/2012 20h15Atualizada em 21/07/2012 22h15

O apartamento de James Holmes, autor do massacre cometido em um cinema de Aurora, no Colorado, que terminou com 12 pessoas mortas, "estava desenhado para matar quem entrasse", disse hoje em entrevista coletiva o chefe de polícia da cidade, Dan Oates.

Os agentes encontraram explosivos, material incendiário, líquidos inflamáveis e outros elementos dentro do apartamento que Holmes ocupava desde maio de 2011.

Os chefes da operação consideraram que Holmes atuou de maneira "calculada e deliberada". Holmes tem 24 anos e abandonou recentemente seu doutorado em neurociência.

"Não vamos falar sobre o motivo" do ataque, enfatizou Oates, enquanto o agente do FBI afirmou que serão necessários semanas ou meses para determinar com detalhes os planos do autor do massacre.

Holmes comprou pela internet uma grande quantidade de material explosivo nos últimos quatro meses, incluída munição, disse o chefe de polícia de Aurora, que fica nos arredores de Denver.

Com a ajuda do FBI, os investigadores reconstruíram parcialmente os hábitos de compra de Holmes, descobrindo os lugares nos quais ele comprou armas e munição e os locais de entrega das compras (seu apartamento e trabalho).

Apartamento armadilha

ONDE FOI O TIROTEIO

Segundo o policial, o objetivo de Holmes, que preparou um complexo e sofisticado conjunto de armadilhas explosivas em seu apartamento, era matar e "o mais provável é que a vítima fosse um policial, que eram os que poderiam ter entrado" no imóvel.

Oates afirmou que a polícia acredita que já eliminou "as principais ameaças no apartamento", mas que ainda podem existir riscos.

Mais cedo, a polícia realizou uma explosão controlada para desativar uma das armadilhas deixadas pelo jovem assassino, de 24 anos.

"Entrar de forma segura no apartamento é muito complicado. Eu, pessoalmente, nunca vi nada que se pareça com o que mostram as fotos do lugar", destacou Oates.

A polícia desalojou às 02h00 da manhã de sexta-feira os moradores do edifício de Holmes, dizendo a eles que havia risco de explosão. Nas horas seguintes, foram evacuados outros três ou quatro prédios, enquanto a área era colocada sob um forte esquema de segurança.

O chefe da divisão de Denver do FBI, Jim Yacone, disse que o esquadrão antibomba encontrou "um ambiente extremamente perigoso", como um cabo conectado da porta a vários dispositivos, e por isso "qualquer um que tivesse aberto a porta poderia ter morrido ou ficado gravemente ferido".

O sofisticado sistema de cabos e detonadores do apartamento de Holmes fez com que mais de 100 agentes demorassem mais de 24 horas numa lenta e cautelosa operação, na qual tiveram que recorrer a uma pequena explosão controlada e até o uso de um robô.

O crime

Na madrugada de sexta-feira, Holmes entrou numa sala onde estava sendo exibido o filme "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge" e começou a disparar contra os presentes.

Oates confirmou que no ataque durante a exibição do filme, Holmes disparou com um fuzil AR-15, uma escopeta Remington e uma pistola automática Glock.

"Nos últimos 60 dias, (o agressor) comprou quatro armas em uma loja local (...) e comprou mais de 6.000 munições pela internet", de forma legal, disse Oates.

O arsenal que Holmes levava incluía mais de 3.000 balas para fuzil, 3.000 para duas pistolas Glock, e 300 para uma escopeta, indicou o chefe de polícia.

Entre as 12 vítimas fatais de Holmes estão Veronica Moser, de apenas 6 anos, o soldado Matt McQuinn, 27, que morreu tentando proteger a namorada, a candidata a comentarista esportiva Jessica Ghawi e o barman Alex Sullivan, que comemorava seu 27º aniversário.

Os disparos efetuados em uma sala atravessaram as paredes e atingiram pessoas na sala ao lado. A polícia chegou em 90 segundos e pouco depois havia 200 agentes no local.

"Quase todo mundo foi atingido", disse Oates, acrescentando que somente alguns dos que estão sendo tratados nos hospitais não têm ferimentos de bala, apenas escoriações sofridas durante o caos.

A aguardada estreia do último filme do super-herói levou muitos fãs - principalmente adolescentes e jovens adultos - a irem à sala fantasiados, o que teria permitido ao agressor entrar despercebido com as armas e a máscara anti-gás.

Repercussão

Após a tragédia, a AMC, importante rede de cinemas dos Estados Unidos, anunciou o reforço nos procedimentos de segurança com a proibição do uso de máscaras e armas de brinquedo nas salas.

Durante a vigília em memória das vítimas, uma mulher que se descreveu somente como "uma mãe" liderava as orações junto com um grupo de jovens que se abraçavam em círculo. Quando terminaram de rezar, todos estavam chorando.

"Conheci alguns dos garotos que estavam lá", disse Patty Almond. "São todos amigos, meu filho vai à escola com eles. Alguns estão bem, mas acabamos de saber de um que não se salvou. Estamos rezando por ele", contou.

Sobre o gramado, havia muitas velas e flores acompanhadas de mensagens. Em uma das cartas, escrita com letra de criança, era possível ler: "A todas as almas inocentes... Isto é para vocês. Nunca esqueceremos. Isto é Aurora".

O diretor do filme, o premiado Christopher Nolan, disse à imprensa que sentia um "profundo pesar por esta tragédia absurda", que violou "a inocência do cinema".

O massacre provocou também a suspensão da campanha eleitoral nos Estados Unidos e um decreto de seis dias de luto foi instituído.

O presidente Barack Obama manifestou sua consternação com o tiroteio e classificou a violência de "sem sentido".

Aurora é uma cidade perto do instituto de Columbine, onde em 1999 foi registrado um massacre em que dois estudantes abriram fogo contra estudantes e professores deixando 13 mortos e 24 feridos.

(Com agências internacionais)

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