Com fim oficial da campanha, canais de TV fazem propaganda disfarçada na Venezuela
O chavismo criou um divisão muito clara na sociedade venezuelana, que torna quase impossível a neutralidade: no país, ou se é a favor do ex-presidente Hugo Chávez, morto há pouco mais de um mês, ou se é contra. O mesmo fenômeno se repete na imprensa, particularmente na televisão.
Apesar do fim oficial da campanha presidencial na última quinta-feira (11), o que se vê nos principais canais de notícia da Venezuela, nesta sexta-feira (12), são reportagens tão tendenciosas para um ou para o outro lado, que, estivéssemos no Brasil, seriam caracterizadas como propaganda.
Os canais ligados ao chavismo, principalmente os estatais Venezolana de Televisión (VTV) e o internacional Telesur, passaram o dia seguindo o candidato Nicolás Maduro.
Para os canais chavistas, o ponto alto da cobertura nesta sexta-feira foi a visita de Maduro e o ex-jogador de futebol argentino Diego Armando Maradona ao Quartel da Montanha, em Caracas, onde participaram de uma homenagem ao ex-presidente Hugo Chávez.
Durante a entrevista com Maradona, o repórter pergunta sobre a relação do craque com o ex-presidente. O argentino, então, passa a fazer propaganda do chavismo e de Maduro.
MARADONA E MADURO HOMENAGEIAM HUGO CHÁVEZ (EM CASTELHANO)
"Chávez mundou a forma de pensar do latino-americano. Ele colocou em nossas cabeças que podemos caminhar sozinhos, sem os americanos. Com Maduro, vamos seguir na mesma linha", afirmou Maradona.
"Nas urnas, domingo, vamos reafirmar os conceitos de Chávez e dizer que isso continua", completou, como se ele mesmo pudesse votar na Venezuela.
Os canais estatais também mostraram exaustivamente imagens do comício de Maduro, na quinta, em Caracas, no ato de encerramento de sua campanha.
Na VTV, o oposicionista Henrique Capriles só aparece para ser criticado. Um grupo de comentaristas tratou de dizer que a denúncia do candidato de que Maduro teria chamado um aluno com deficiência de mongol foi mentirosa. E dá-lhe 30 minutos de discussão sobre o assunto.
Como estamos na semana em que o golpe contra Chávez e sua volta ao poder completam 11 anos, a TV estatal também explora muito o assunto. Além de passar imagens de Maduro clamando pela volta de Chávez em 2002, a VTV também explora a participação de Capriles e das TVs privadas no caso.
"Nunca, mesmo na história latino-americana, a imprensa esteve envolvida tão diretamente em um golpe de Estado", disse o jornalista Maurice Lemoine, em um artigo no jornal Le Monde Diplomatique.
Por causa de sua intensa participação no golpe, a RCTV, canal de maior audiência da Venezuela, teve seu registro cassado por Chávez e saiu do ar em 2007.
Canal oposicionista faz cobertura mais discreta de Capriles e acusa governismo de TV estatal
CAPRILES DIZ NA TV QUE MODELO DE LULA É O IDEAL (EM CASTELHANO)
Em seu lugar, como principal canal antichavista, está a Globovisión. Apesar do perfil de oposição ao governo, o canal fez uma cobertura mais discreta de Capriles nesta sexta, se resumindo a mostrar discursos do candidato, uma entrevista feita na noite de quinta --ocasião em que o oposicionista cita o modelo do Brasil de Lula como o ideal, e muitas críticas ao atual governo.
A impressão é que o refreamento desta sexta foi estratégico: o canal usou a cobertura mais sóbria para argumentar na Justiça que a TV estatal faz propaganda quando não se pode mais.
Por sorte, o venezuelano pode sempre fugir da briga entre as TVs, assistindo a uma novela colombiana ou mexicana, ou a um longo jogo de beisebol.
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